Homens e mulheres que encontraram na reciclagem a sobrevivência são o foco do projeto de extensão ReciclAÇÃO, ligado ao programa Saúde Coletiva da Universidade Católica de Pelotas(UCPel). A ação extensionista, iniciada em março deste ano, tem várias atividades voltadas à temática do reaproveitamento de resíduos, entre elas, um levantamento sobre a situação de saúde e do exercício da atividade dos trabalhadores dessa área. Doenças crônicas, dificuldades para realizar uma consulta médica e desafios na separação dos materiais são alguns tópicos destacados pela pesquisa, até agora. Os dados vão ser usados para promover o acesso aos serviços de atenção primária à saúde, assim como melhorar as condições de trabalho na reciclagem.
O mapeamento dos recicladores de Pelotas, iniciado há cerca de 3 meses, é feito em duas frentes pelo projeto: em seis empresas de reciclagem cadastradas junto ao Serviço de Saneamento Autônomo de Pelotas (SANEP) e nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) atendidas pela Católica. De acordo com o coordenador do ReciclAção, professor Isaac Rodrigues de Lima, o levantamento é apenas uma etapa do projeto que serve para entendimento das necessidades dessa categoria. “O nosso objetivo é melhorar, de alguma forma, a vida dos catadores, sendo em oferecer acesso à saúde, em ajudá-los com questões sociais, em conseguir com o empresariado Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e orientar a importância de usá-los, além, é claro, de conscientizar a população do modo certo do descarte do lixo”, explica Lima. O mapeamento do ReciclAÇÃO é permanente, já que existe a possibilidade constante de novos recicladores integrarem as empresas existentes no município.
Com um questionário que aborda temas como sexo, idade, doenças de base e comorbidades, situação médica, renda, estrutura familiar e de moradia, o projeto já entrevistou 78 trabalhadores, destes 65 mulheres, nas seis empresas de reciclagem. No quesito saúde, este público apresentou como principais comorbidades - hipertensão, diabetes e tabagismo. As mulheres apontaram dificuldades para realizar consultas ginecológicas. O projeto detectou,também, o calendário vacinal desatualizado, principalmente para tétano e hepatites.
Ainda no levantamento feito entre os recicladores das empresas, foram assinalados alguns desafios do trabalho, entre eles:
Nas UBSs administradas pelas UCPel, os agentes comunitários de saúde auxiliam os estudantes no rastreamento de usuários que são recicladores. Até agora 29 famílias foram localizadas, 25 pessoas contatadas e atendidas. Como os trabalhadores já têm prontuário nas unidades, não é aplicado o questionário. “A gente tem contato um pouco mais profundo com eles, porque temos acesso aos prontuários, endereços e situações de saúde. Por conseguirmos agendar as consultas nas próprias UBSs, já iniciamos alguns atendimentos”, conta Dieniérrer Baldez, aluna do 3° ano da Medicina, integrante do projeto. Para os recicladores que não são usuários das unidades de saúde do município, o projeto planeja a viabilização de um ambulatório para atendimentos médicos no campus Saúde da UCPel.
Fazem parte do projeto 39 alunos dos cursos de Enfermagem, Serviço Social, Direito e Medicina - desse curso, a maioria integra a International Federation of Medical Students Association da Católica(IFMSA Brazil/UCPel).
Atualmente todos os integrantes estão envolvidos na identificação dos recicladores e suas demandas. A partir do momento que surgirem situações específicas, os alunos passam a exercer a prática relacionada com o curso. “Assim que identificarmos demandas voltadas a áreas específicas do conhecimento esses alunos aplicam seus saberes. Exemplo: algum catador pode ter problemas com aposentadoria, direito e serviço social podem agir, entre outras situações”, esclarece o professor Isaac.
Além da pesquisa e do serviço prestado nas UBSs, o projeto também atua com conteúdo de conscientização nas redes sociais, como no Instagram (@reciclacao)ou na realização de lives/palestras com temáticas voltadas à reciclagem. Para os alunos, uma oportunidade de praticar a teoria, mas também de exercer empatia e generosidade. “ É maravilhoso ver algo que você ajudou a construir começando a funcionar. É ótimo saber que somente com um olhar diferenciado aos atendimentos dessas pessoas, já podemos ajudar de alguma forma”, comemora a discente da Medicina da UCPel.
Redação: Alessandra Senna