Entre 1,6 mil produções científicas de todo o planeta, apenas 600 foram selecionadas. Destas, 13 trabalhos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) foram escolhidos para serem apresentados na 19ª Conferência Mundial de Serviço Social, que ocorre de 16 a 19 de agosto em Salvador, na Bahia. Políticas de saúde, crianças e adolescentes, emigração, participação popular e incubação de cooperativas populares são alguns dos temas explorados pelos trabalhos da Católica.
As produções que serão apresentadas no encontro foram lideradas pelos professores Jairo Dias Nogueira, Helenara Silveira Fagundes, Vera Nogueira, Vini Rabassa da Silva, Wanda Griep Hirai, Antônio Cruz, Luiz Antônio Bogo Chies e Ana Luísa Xavier.
Pesquisa envolvendo saúde do trabalhador e trabalho atípico, tratando do prolongamento da jornada de trabalho, e também sobre as representações sociais dos indivíduos “invisíveis” e população de rua de Pelotas e região sul, são as propostas levadas ao evento pelo professor Jairo Nogueira. O primeiro traz à discussão as políticas para o trabalho e condições do trabalhador, resgatando o processo histórico de trabalho e vida da população de Pelotas e região. A segunda pesquisa conta com a participação de grupo de estudo e tem no foco pessoas conhecidas pelo estereótipo, como bêbados, prostitutas, médicos e padres. “O objetivo é resgatar a história dessas pessoas, que são personalidades populares, aceitas e reconhecidas pela sociedade”, explicou Nogueira.
A professora Helenara Fagundes realizou o estudo que avalia os programas de transferência de renda na cidade de Pelotas, em parceria com a mestranda Alessandra Moura. Feita com usuários do programa Bolsa Família, avalia a eficácia do programa junto às famílias, e ainda está em processo de pesquisa.
Outro trabalho da professora Helenara é a análise das políticas sociais da área da criança e do adolescente na Metade Sul do Rio Grande do Sul. As alunas Cátia Schmidt e Darlene Garcia, do curso de Serviço Social, participam do estudo que envolve 11 municípios da Zona Sul. Gestores, conselho da assistência social, conselho de direitos da criança e adolescente e conselhos tutelares desses municípios são entrevistados. “O que aparece são dificuldades de articulação da rede de atendimento dos municípios”, avaliou a professora. De acordo com ela, as ações para criança e adolescente são isoladas e fragmentadas e dispõem de recursos financeiros limitados. A demanda apontada é de jovens usuários de drogas e suas famílias. “O objetivo desse estudo é contribuir para que se possa discutir e pensar políticas nessa área”, explicou.
A professora Vera Nogueira levará trabalho sobre a descentralização das políticas de saúde e institucionalidade nos municípios da fronteira Mercosul. A pesquisa é feita com gestores da política de saúde, usuários e conselhos de saúde e traz dados que revelam alguma fragilidade de conhecimento de gestores de políticas de saúde no Brasil.
Conforme a pesquisa, o atendimento realizado à população estrangeira não é institucionalizado e muitas vezes o Brasil os “financia”, pois não são formalizados. A prática, de acordo com o estudo, dá margem a atendimentos paternalistas ou confunde-se com relações de amizade, em vez de apresentar, de fato, políticas de saúde para atender o estrangeiro.
Agricultura familiar
Processos sócio-históricos regionais da agricultura familiar em três municípios do Rio Grande do Sul sintetizam a proposta da professora Wanda Hirai, com a participação da aluna Amanda Oliveira. Aplicada com 30 famílias de agricultores em São Lourenço do Sul, Pelotas e Canguçu, cuja produção é voltada para leite, fumo e pêssego, a pesquisa também é ligada ao mestrado de Sistemas de Produção Agrícola Familiar, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ainda com resultados parciais, o estudo pretende verificar a continuidade da produção para o auto-consumo das famílias. Das 30 famílias pesquisadas, 27 continuam produzindo para seu próprio consumo. De acordo com a professora, a explicação está ligada a valores culturais simbólicos: o significado de produzir parta si e a família.
Outra pesquisa liderada pela professora trata do tema da alimentação adequada como direito humano. Ligada também ao doutorado em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o estudo traz o conceito de segurança alimentar, vinculado a três grandes problemáticas: a ausência de alimento, sua má qualidade e as condições de saúde da população.
Participação popular e emigração
O estudo sobre seguridade social, participação popular e serviço social é levado pela professora Vini Rabassa da Silva. A pesquisa analisa a efetividade da democratização da gestão da política de assistência, particularmente por meio dos conselhos, que permitem a participação popular na gestão. De acordo com Vini, nos 29 municípios pesquisados, a participação dos usuários quando existe, não se efetiva na prática. “Eles não freqüentam reuniões e, quando freqüentam, a participação é totalmente passiva”, avalia. Segundo ela, há uma interferência significativa dos gestores nos conselhos. “Isso funciona como cerceamento da participação dos profissionais da área”, disse. A pesquisa tem a participação da mestre em Política Social Fernanda Fonseca.
Globalização, desemprego e emigração internacional é outra pesquisa da professora Vini, produzida em parceria com a professora Mara Rosange Medeiros e a mestranda em Política Social Simaia Siffer. Realizada na Zona Sul do Rio Grande do Sul, com familiares de emigrantes e emigrados, a pesquisa trouxe a constatação de que a região, caracterizada pela colonização de diversos povos, tem um número crescente de emigrantes. “Cada vez mais pessoas saem daqui para outros países, em função da regressão econômica da região. Principalmente pessoas de classe média e classe média-alta”, avaliou.
De acordo com ela, o motivo é o fato ou o receio de não conseguir emprego com condições adequadas e bom salário e, que impeça a regressão familiar na classe social. “Alguns estudiosos denominam de ‘fuga de cérebros’, pois muitas vezes saem do país para cursar mestrado e doutorado, e não retornam”, disse. Segundo a pesquisadora, o fenômeno é um sinal vermelho para a região. “É um alerta. Há necessidade de investimentos para que as pessoas não precisem sair da região. Futuramente pode haver empobrecimento cultural”, disse. Ao mesmo tempo, a situação faz surgir um novo tipo de família: a transnacional, composta por pessoas que, embora vivendo em países diferentes, mantém os laços afetivos graças à comunicação virtual.
O professor Antônio Cruz apresentará o trabalho “Do ‘Eu’ para o ‘Nós’: a prática do assistente social na incubação de cooperativas populares”, juntamente com a mestranda em Política Social Janaína Guerra.
Debate Social
A Conferência Mundial pretende trazer ao debate as formulações mais avançadas do pensamento social crítico no Serviço Social mundial e dar visibilidade a ações profissionais exitosas no enfrentamento dessa conjuntura. É uma oportunidade de encontro de experiências onde assistentes sociais do mundo protagonizam embates em defesa dos direitos humanos, da democracia econômica, política e cultural e de um projeto ético-político profissional comprometido com a construção de um mundo solidário e justo.
O evento é promovido pela Federação Internacional de Trabalhos Sociais e pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais, com a colaboração do Comitê Mercosul de Organizações Profissionais de Trabalhadores Sociais.