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Opinião - Santo Inácio e a pandemia
30.07.2021 | 09:12 | #capelania-e-identidade-crista
Opinião - Santo Inácio e a pandemia

Neste sábado, dia 31 de julho, celebramos a memória de Santo Inácio de Loyola que, em sua bula de canonização, foi reconhecido como tendo “uma alma maior que o mundo”. 

Inácio nasceu em Loyola, na Espanha, no ano de 1491, e pertenceu a uma nobre e numerosa família religiosa  (era o mais novo de doze irmãos), ao ponto de receber com 14 anos a confirmação cristã, mas preferiu a  carreira militar e, assim como jovem valente, entregou-se às ambições e às aventuras das armas e dos  amores. Aconteceu que, durante a defesa do castelo de Pamplona, Inácio quebrou uma perna, precisando assim ficar paralisado por um tempo; desse mal Deus tirou o bem da sua conversão, já que, depois de ler a  vida de Jesus e alguns livros da vida dos santos, concluiu: “São Francisco fez isso, pois eu tenho de fazer o mesmo. São Domingos fez isso, pois eu tenho também de o fazer”. 

Vivemos uma encruzilhada histórica com a pandemia da COVID19. Muitas sombras persistem ainda. Muitos desafios individuais e comunitários. Não perdemos a esperança num mundo com sua beleza e fulgor, mas  também as suas contradições e obscuridades foram escancaradas. Defrontamo-nos com um mundo das  diferentes e ricas manifestações religiosas e culturais, da solidariedade e da generosidade, mas também com  um mundo homogêneo de determinados modelos econômicos e geopolíticos que matam. Nele respiramos,  mas também podemos nos asfixiar. A vida renasce a cada dia ao mesmo tempo que enfrenta as forças da  morte. 

Nesse mundo de cada um de nós e no mundo de todos nós, um tanto sem uma bússola, a vida parece perder a sua direção. E sem uma direção, nada faz sentido, tudo se torna banal, descartável, mutável, líquido. Como,  então, encontrar a direção certa para a vida? Como descobrir o sentido mais profundo de nossa existência?  Com tantas distrações, conexões rápidas e superficiais, vindas à luz fortemente com a pandemia, como então buscar o essencial? Como, apesar das tempestades da vida e a morte sendo mais palpável, alegrar-se com  as palavras de Jesus: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)?  Santo Inácio, com sua espiritualidade e sua obra, deixou-nos uma bússola: o exercício do discernimento. Papa Francisco, como filho digno e magnânimo de Santo Inácio, na sua Exortação Apostólica Gaudete et  Exsultate, traz presente essa bússola do discernimento: “Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária  a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração,  sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas” (n. 167). Continua nessa linha:  “O discernimento orante exige partir da predisposição para escutar: o Senhor, os outros, a própria realidade  que não cessa de nos interpelar de novas maneiras. Somente quem está disposto a escutar é que tem a  liberdade de renunciar ao seu ponto de vista parcial e insuficiente, aos seus hábitos, aos seus esquemas” (n.  172). 

Assim, Santo Inácio, o Peregrino, particularmente neste tempo pandêmico em que vivemos, torna-se um chamado ao discernimento como exercício de uma conversão diária. Um chamado a que não nos instalemos,  não nos acomodemos em nossas certezas e vãs ilusões, mas sigamos nas estradas da vida, pedindo a Deus a graça do discernimento, vendo “novas todas as coisas em Cristo”. 

O discernimento, sim, é uma graça do Alto. Por ser uma graça, qualquer pessoa que abra a sua mente e  coração a Deus pode receber o dom do discernimento. Não se trata de algo para “especialistas”,  “intelectóides”, “entendidos”, mas de uma dinâmica de comunicação de Deus com todos os que buscam o  Bem-Maior, o que faz lembrar as palavras de Jesus: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque  ocultaste estas coisas aos intelectóides e entendidos e as revelaste aos simples e pequeninos” (Mt 11, 25). 


Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas


Em tempo: Nossa alegria, nossa admiração, nossa gratidão pela presença entre nós dos filhos de Santo Inácio, os  jesuítas: Pe. Bernardo Lenz SJ, Pe. Matias Martinho Lenz SJ, Pe. Ivo Khun, SJ e Ir. Valdir Jacó Vanzella SJ.

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