Estou lendo no momento o famoso romance “O Quinto Evangelho” de Mario Pomílio, que é atualmente,segundo muitos, um dos maiores escritores do mundo. Não somente um grande escritor, como também um profundo pensador humanista. O “Quinto Evangelho” já foi traduzido em todas as principais línguas modernas.
Da sua leitura, deparei-me de forma impactante de um pequeno trecho, que aqui transcrevo: “Um pagão ria-se dos cristãos por seguirem estes um único livro. Mas um santo bispo, ouvindo-o, controle essa pequena história: ‘Uma vez um doutor encontrou-se com o Cristo Jesus e perguntou: - Senhor, eu sei que tu foste o Messias e que tudo quanto disseste é pleno de substância. Mas como pode um livro bastar eternamente para tantas pessoas? E Jesus respondeu: - ‘É verdade o que dizes. Mas tu não sabes que povo reescreve esse livro todos os dias?’”
É correto afirmar, que todos os que têm “familiaridade com a Bíblia”, expressão muito querido Papa Emérito Bento XVI, eles a reescrevem todos os dias. O próprio texto bíblico fala que “a Palavra de Deus viva e eficaz” – Carta aos Hebreus, capítulo 4 versículo 12.
Imediatamente, ao corroborar a crença que a Bíblia é reescrita todos os dias pelos que têm uma familiaridade com ela, veio-me à lembrança uma antiga mensagem que traduzia o conhecido Salmo 23 para os tempos de hoje. Deixo a minha memória recuperar afirmações desta mensagem, mas ouço também criar e acrescentar, de minha parte, novas e bem pertinentes: “O Senhor é o meu Pastor...”–isso é relacionamento; “nada me faltará...” - isso é suprimento; “caminhar me faz por verdes pastagens...”–isso é descanso; “guia-me mansamente a águas tranquilas...” – isso é refrigério; “refrigera minha alma...” – isso é cura; “guia-me pelas veredas da justiça...” – isso é direção; “por amor do Seu nome...”–isso é propósito; “ainda que eu caminhasse pelo vale das sombras da morte...” – isso é provação; “eu não temeria mal algum...” – isso é proteção; “porque Tu estás comigo...” – isso é fidelidade; “a tubarão teu cajado me consolam...” – isso é disciplina; “prepara uma mesa perante mim na presença meus inimigos...” – isso é esperança; “unge a minha cabeça com óleo...” – isso é consagração; “e meu cálice transborda...” – isso é abundância; “certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida...” – isso é bênção; “e eu habitarei na casa do Senhor...” – isso é segurança; “por longos dias...” – isso é eternidade!
Outra lembrança, corroborando que a Bíblia é reescrita todos os dias, mesmo por pessoas que debruçam cientificamente sobre a realidade, foi de uma história que me foi contada nos tempos idos dos meus estudos na Europa: Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário,que concentrado lia o seu livro de ciências. O senhor por sua vez lia um livro de capa preta. Foi quando jovem percebeu que se tratava da Bíblia. Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho perguntou: - "O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?” - "Sim", disse senhor,“mas não é um livro de crendices, é a Palavra de Deus. Estou errado?” Com Uma risadinha sarcástica respondeu: -"Claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a história geral. E veria que a Revolução Francesa, ocorrida a mais de 100 anos, fez o favor de mostrar a miopia da religião. Somente Pessoas Sem Cultura ainda crêem nestas ‘histórias’ da Bíblia. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre que os cientistas dizem sobre a realidade. - "É mesmo?", perguntou o velho cristão, "e o que dizem os cientistas sobre a Bíblia?" - "Bem" respondeu o universitário, "agora eu vou descer na próxima estação, mas deixa seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio". O velho então cuidadosamente abriu bolso interno do paletó e deu o cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito, abaixou cabeça e saiu cabisbaixo se sentindo pior que uma ameba. O cartão dizia: “Louis Pasteur, Diretor do Instituto de Pesquisas Científicas da École Normale de Paris”. Isso aconteceu em 1892.
É possível e il faut reescrever a Bíblia todos os dias, porque ela é “a Palavra de Deus viva e eficaz”.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas