Fui convidado honradamente para participar do segundo dia do Tríduo de Preparação da Celebração do Jubileu de Ouro da Diocese de Rio Grande. Há 50 anos ela se desmembrou da então Diocese de Pelotas e iniciou a sua caminhada de Igreja Particular. Agora, dia 27 de maio passado, ela celebrou seus 50 anos de Criação pelo Papa Paulo VI.
Na celebração eucarística do segundo dia do Tríduo, dia 25 de maio, a assembleia reunida de modo presencial na Catedral São Pedro de Rio Grande, e, de modo virtual nas casas acompanhando a transmissão da celebração, rezava: “A todos que procedem retamente, eu mostrarei a salvação que vem de Deus” (Salmo 49). Foi o refrão do Salmo Responsorial cantado dentro da proclamação da Palavra de Deus. Essa oração serviu para a reflexão que fiz no momento da homilia. Também desejo partilhá-la, agora, com este escrito.
A pandemia da COVID19, é uma esperança, está aí para ajudar a civilização do gênero humano do nosso tempo a perceber duas coisas fundamentais: primeira, Deus foi, é e será sempre a única salvação; segunda, a humanidade precisa, no entanto, reaprender a “proceder retamente”. Foi isso que foi rezado acima: “A salvação que vem de Deus, é mostrada aos que procedem retamente”. Toda a reflexão que segue, é sobre como entendermos este “proceder retamente”?
“Proceder retamente”, antes de tudo, é “proceder sem desvios”. No momento de qualquer desvio, já não há procedimento reto. Na tradição bíblica, o “proceder retamente” tem sua expressão na virtude da retidão. Virtude do caminho reto sem desvios.
Mas, além da retidão, o “proceder retamente” tem um significado de “fazer tudo correto”. Não ter desvios para proceder retamente, sim, mas acrescentando um “fazer tudo correto com”: “reto”, mais “com”, por isso “correto”. Proceder retamente é, por isso, também proceder corretamente. Portanto, proceder retamente “com “ o Outro (aqui está acertado com letra maiúscula) e “com” os outros.
Proceder retamente “com” o Outro, que é Deus. Com Deus não podemos ter desvios; com Deus devemos ser retos no procedimento. E nossa retidão com Deus é tê-lo como Criador: Ele é o princípio e o fim de tudo; Ele está na ordem do primeiro e indispensável espaço.
Proceder retamente “com” os outros, que são os seres humanos. Com os seres humanos não podemos ter desvios; com eles devemos ser retos no procedimento. E nossa retidão com os seres humanos é tê-los como irmãos e irmãs: eles, como cada um e cada uma de nós, são criados “à imagem e semelhança de Deus”; eles estão na ordem de uma igual e justa dignidade.
Proceder retamente “com” os outros, que são todas as demais criaturas do universo. Com as criaturas do universo não podemos ter desvios; com eles devemos ser retos no procedimento. E nossa retidão com as criaturas do universo é tê-las como instrumentos de louvor ao Criador (Laudato sì) e de construção aos seres humanos; elas estão na ordem da alegria do Criador e da justiça para os seres humanos.
Aqui emerge uma questão existencial: quantos desvios no proceder retamente/corretamente com o Outro – Deus, fazendo ocupá-lo o último e dispensável espaço?; quantos desvios no proceder retamente com os outros – seres humanos, sendo eles tratados como meros objetos de exploração sem igual e justa dignidade?; quantos desvios no proceder retamente com os outros – as criaturas do universo, tornando-as ilusoriamente absolutas para o ser e agir?
A guisa de conclusão: Primeiramente parabéns, Diocese de Rio Grande, a nossa noiva do mar, por ter buscado com toda a força “proceder retamente” nestes 50 anos de existência. Eis que a salvação, que vem de Deus, foi nela mostrada! E, segundo, cumprimentando a porção do povo de Deus riograndino, igualmente todos nós, provocados sensivelmente também pela pandemia, façamos de tudo para mais e mais “procedermos retamente”. Então a salvação, que vem de Deus, a nossa felicidade, nos será mostrada!
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas