O pecado que mais pode desvirtuar o ser e a missão da Igreja de Cristo é apagar o Espírito do Ressuscitado. Pretender substituir com a mera “força humana” o que somente pode nascer da “força do Espírito”. Já dizia o grande Teólogo Karl Rahner,há muito tempo: “A Igreja de Cristo há de ser ‘espiritual’ se quiser permanecer fiel à sua própria essência”.

Sem a obediência ao Espírito, a Igreja de Cristo cai na obediência à “falsas forças” desde fora ou desde dentro. No entanto, a Igreja de Cristo não é da hierarquia nem do povo, não é da direita nem da esquerda, não é dos teólogos pré-modernos nem dos iluministas, não é deste papa nem daquele, não é destes movimentos nem daquelas comunidades. Ela é do seu Senhor, Jesus Ressuscitado.

A perda da experiência do Espírito e a falta de contato vivo com o Ressuscitado produzem, além do mais, nas comunidades cristãs outros efeitos difíceis às vezes de definir, mas que desvirtuam gravemente o seguimento a Cristo. Sem o Espírito, Jesus Cristo fica como um personagem do passado a quem se pode admirar sem que faça arder os corações. Sem o Espírito, o Evangelho se converte em letra morta já conhecida, a comunidade, em pura força humana. Sem o Espírito, a missão se reduz à propaganda religiosa, o trabalho evangelizador fica na atividade profissional, a catequese em conceitos sem vida, a celebração um ritual vazio, a ação caritativa em mero “paternalismo”. Sem o Espírito, a liberdade se afixia, a comunhão se quebra, as lideranças se distanciam. Sem o Espírito, se produz um divórcio entre “pregação” e a vida evangélica.Sem o Espírito, a esperança é substituída pelo temor, a ousadia pela covardia, e a vida na comunidade cristã definha na mediocridade. Não estamos percebendo em nossas comunidades cristãs esta mediocridade, fruto de uma experiência deficiente do Espírito?

Talvez as primeiras palavras do Ressuscitado à Igreja nascente, devam também ser às nossas Igrejas atuais: ”Recebei o Espírito”. Somente com este Espírito vamos ser capazes de criarmos “Comunidades Eclesiais Missionárias”. Então, do risco da mediocridade passamos para o testemunho do Espírito do Ressuscitado, aquele que é o Caminho certo, a Verdade segura e a Vida plena.

Dom Jacinto Bergmann,

Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas