Nesta sexta-feira que passou, celebrou-se mundialmente a Festa do Sagrado Coração de Jesus. Uma celebração muito cara, especialmente, para os cristãos católicos (na cidade de Pelotas temos a Paróquia do Porto dedicado ao Sagrado Coração de Jesus). A celebração da Festa convida-nos a achegarmo-nos mais perto do “coração” do filho de Deus: ele é refúgio para o nosso íntimo - a ele podemos recorrer sempre; ele é alento para os nossos propósitos - nele podemos confiar sempre; ele é inspiração para o nosso viver - a partir dele aprendemos tomar decisões certas e verdadeiras. Assim, não são falsas as palavras de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus: “Vinde a mim vós que estais cansados: eu sou manso e humilde de coração”.
É importante acentuarmos que na cultura semítica-bíblica, o coração é a sede das decisões - o coração é que “decide”; na cultura grega, e consequentemente na nossa cultura ocidental, o coração é mais a sede dos sentimentos - o coração é que “sente”.
O texto evangélico, proposto pela Igreja Católica para Festa do Sagrado Coração de Jesus, foi tirado do Evangelho de João, apresentando a oração de Jesus de Nazaré: “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da tua terra, porque escondeste estas coisas aos intelectóides(uso a tradução”intelectóide” no sentido de alguém possuidor de um falso intelectualismo) e entendidos e as revelaste aos simples e pequeninos.Sim ó Pai, porque assim foi do teu agrado!” O que essa oração de Jesus deixa claro?
Pois, na oração Jesus está claríssimo que as “realidades de Deus” não chegam ao “coração” dos “intelectóides e entendidos”; só chegam ao “coração” dos“simples e pequeninos”. Como entender isso?
O “coração” dos “intelectóides e entendidos” está cheio de “razões” e “explicações”.Essas, baseadas num“coração” que decidiu (coração como sede de decisões) olhar-se “criador” de si mesmo e de todas as realidades que o rodeiam:“Eu tenho sempre razão e sou o único entendido de tudo”. Assim, os “intelectóides e entendidos” fecham o seu “coração” hermeticamente para as “realidades de Deus”. Eles acabam mexendo com o “coração” erroneamente: não deixam o coração existir para decisões maiores e eternas!
Já o “coração” dos “simples e pequeninos” procura também razões e explicações. Essas, porém, estão baseadas no “coração” que decidiu (coração como sede de decisões) olhar não para si mesmo como “criador”,mas contemplar, como criatura,Deus-criador do universo e da história: ”Deus é a razão de tudo e Nele eu encontro sentido em tudo”. Assim, os “simples e pequeninos” abrem o seu “coração” totalmente para as “realidades de Deus”. Eles sabem mexer com o seu “coração” acertadamente: deixam o coração existir para decisões maiores e eternas.
Fica o desafio existencial: “Mexer” com qual coração? Como "mexem” os “intelectóides e entendidos” ou como “mexem” os“simples e pequeninos”?
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas