Em boletim informativo divulgado pelo Observatório Nosotras, nesta segunda-feira (21), os dados de práticas que envolvem a violência contra a mulher foram analisados. O documento traça uma comparação entre amostras referentes ao ano de 2022 e ao primeiro semestre de 2023, produzindo um recorte com foco central nos 22 municípios abarcados pelo Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul (COREDE SUL). O relatório pode ser visualizado na íntegra na página do Nosotras.
Realizado por membros do Grupo Interdisciplinar de Trabalho e Estudos Criminais e Penitenciários da Universidade Católica de Pelotas (GITEP/UCPel), o relatório analisou os dados gerais que abrangem a incidência dos cinco tipos penais monitorados e sistematizados pelo Observatório da Violência Contra a Mulher da Secretaria da Segurança Pública do estado do Rio Grande do Sul. São eles: ameaça, lesão corporal, estupro, tentativa de feminicídio e feminicídio consumado.
De acordo com o documento, a interpretação dos dados envolvendo estes crimes permite, além da análise comparativa, a identificação de dimensões sensíveis que poderão orientar intervenções efetivas por parte das instituições públicas e organizações da sociedade civil para o enfrentamento deste fenômeno social da violência contra a mulher.
O relatório visa chamar atenção para que a região como um todo se sinta desafiada em pensar políticas públicas de forma conjunta, ressalta a coordenadora do Nosotras e docente da UCPel, Vini Rabassa da Silva. Uma das editoras do boletim, Marina Madruga, também professora da UCPel, analisa que o cenário de violência contra mulheres é permanente em nossa história. “O Observatório Nosotras pretende, através de integração e articulação entre diversos parceiros, atuar na prevenção”, complementa Marina.
A violência contra as mulheres é um problema alarmante constatado em todos os municípios do COREDE SUL, segundo o boletim. O aumento das ocorrências na região também provoca preocupação — o primeiro semestre de 2023 já registra 59,3% do total de casos de lesão corporal e 62% dos casos de ameaças do ano passado. “O alto número destes dois indicadores criminais chamam muita atenção porque, muitas vezes, são ações que irão evoluir”, analisa a docente da UCPel e também editora do boletim, Christiane Freire.
O número de feminicídios e de estupros se mostram igualmente preocupantes — somente em Pelotas, já aconteceram, em 2023, dois feminicídios e 36 casos de estupro. A cidade encabeça a lista dos municípios mais violentos da região quando as vítimas são mulheres, principalmente ao analisarmos a violência sexual. Nesta modalidade de crime, Pelotas registra 45,5% dos casos da região até agora, um pouco acima do percentual regional que o município representou em todo o ano anterior (43,7%).
Os números da região do COREDE SUL acompanham a média nacional, conforme destaca Christiane. Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública (FBSP), todos os crimes contra a mulher tiveram alta em 2022, na comparação com o ano anterior. Mais de 18 milhões de mulheres foram vítimas de violência, segundo a FBSP. Confira os dados comparativos de tipos penais em 2022 e o primeiro semestre de 2023 na região.
Mesmo espelhando os números país, os delitos contra as mulheres, segundo argumenta Vini, também podem estar associados às práticas culturais do Rio Grande do Sul — um dos fatores pelos quais há uma permanência no número de casos. “Principalmente aqui no nosso Estado onde se cultivam ainda padrões tradicionais de uma cultura machista”, relaciona. A divulgação desses números se faz necessária para que setores públicos, a sociedade civil, movimentos sociais e o setor da educação comecem a pensar em um enfrentamento preventivo. “Porque a maioria das políticas que nós temos atacam a consequência da violência”, destaca a coordenadora do Observatório.
A prevenção também é mencionada por Marina e Christiane, ambas acreditam que uma integração dos municípios da zona sul pode ser importante para a redução da violência, principalmente se houver um foco na prevenção. O foco atual das políticas tem sido a judicialização por uma carência em ações preventivas, discorrem. “Ameaças e lesões corporais, em geral, direcionam para crimes mais graves, é importante que se consiga conter estes casos”, conclui Christiane.
O Observatório Nosotras consiste em um espaço virtual e de articulação de pessoas, movimentos sociais, serviços públicos e instituições para difusão de produções teóricas, pesquisas, intercâmbio de práticas e promoção de eventos formativos voltados a prevenção e combate à violência contra meninas e mulheres nos 22 municípios que integram o COREDE Sul do estado do Rio Grande do Sul.
A linha de ação adotada pelo observatório parte da elaboração de boletins técnicos semestrais voltados à publicização e à reflexão acerca dos dados que envolvem as práticas de violência contra à mulher no COREDE SUL, bem como, o informe de destaques gerais sobre o tema.
Redação: Caroline Albaini