A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Susane Klug Passos teve um artigo publicado na
versão online da revista científica inglesa AIDS Care. A divulgação no veículo de circulação mundial ocorreu em maio. Até o fim desse ano, o trabalho deve ser publicado, também, na revista impressa.
Intitulado originalmente como High prevalence of suicide risk in people living with HIV: Who is at higher risk? (ou Alta prevalência de risco de suicídio em pessoas vivendo com HIV/AIDS: Quem é de maior risco?, em português), o artigo versa sobre os fatores que tornam mais intenso o risco de suicídio entre os soropositivos. Para chegar aos resultados, alunos do curso de Psicologia da UCPel e de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) entrevistaram pacientes do Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS (SAE). Ao todo, 211 pessoas, todas maiores de idade, responderam a questões sociodemográficas (referentes a estado civil, sexo, idade, etc.), perguntas clínicas (a respeito de histórico de doenças, internações e uso de medicamentos, por exemplo) e a questionários-padrões sobre o uso de drogas psicoativas, ansiedade, depressão e risco de suicídio. Os questionários foram aplicados entre março e junho de 2012.
Susane, que é médica e atua no SAE desde 1998, disse que já tinha percepção que o risco de suicídio entre os portadores de HIV era elevado comparado à população que não é portadora. “Mesmo assim, queríamos saber, entre eles, quais são os fatores que mais contribuem para o risco de suicídio”, explicou a doutoranda. Por meio da pesquisa, foi diagnosticado que os fatores de maior risco de suicídio são identificados entre mulheres jovens (de 18 a 47 anos), que não têm trabalho fixo remunerado, sofrem algum tipo de transtorno, como ansiedade e depressão, e são usuárias de drogas que atuam diretamente no sistema nervoso central, a exemplo de maconha, cocaína, crack e benzodiazepínicos.
Os resultados mostraram que 34,1% dos entrevistados apresentavam algum fator de risco de suicídio e 23,2% já tinham tentado se matar. Índices considerados altos, mesmo se comparados a qualquer outro tipo de doença crônica, como o alcoolismo e o câncer. “O fato de ser portador de HIV é um agravante ainda devido ao estigma ligado à doença. As pessoas sofrem com o preconceito. Isso gera medo, angústia, vergonha e culpa”, enumerou Susane. “É fato que o tratamento melhorou e os soropositivos vivem mais hoje em dia. Mas, o confronto com esses sentimentos continua. Os pacientes continuam se deparando com situações angustiantes e momentos dramáticos que não se veem em outros casos. A mulher que tem câncer não tem vergonha de contar isso ao marido, porque o câncer é socialmente aceito. Já com a AIDS é diferente”.
Qualidade de vida
Em 2012, quando cursava Mestrado em Saúde e Comportamento pela UCPel, Susane fez sua dissertação baseada noutra pesquisa com portadores de HIV/AIDS. Orientado pelo professor Luciano Souza, o estudo
Qualidade de vida em pacientes soropositivos de um centro de referência no Sul do Brasil (
saiba mais aqui) também foi desenvolvido a partir de questionários obtidos no SAE. O setor é fruto de uma parceria entre a UFPel e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e presta atendimento a pacientes de 22 municípios da zona Sul. “Enquanto coletávamos dados para a dissertação, as questões sobre risco de suicídio começaram a aparecer espontaneamente. Foi aí que percebemos que era preciso abrir os olhos para esse perigo. Conhecendo as causas, podemos atuar na prevenção”, destacou, ao mencionar que, conforme informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% das tentativas de suicídio podem ser prevenidas.