O Dia das Mães mexe com nossa sensibilidade e nos move a lembrar nossas mães, alimenta nosso desejo de tê-las perto de nós, mesmo que seja só para lembrar a mãe que já se foi. Recordar o amor e o cuidado que recebemos de nossa mãe faz bem e nos enche de alegria. E nos faz pensar também no sofrimento de muitas mães que não tem como cuidar e alimentar os filhos do jeito que gostariam, pela pobreza ou por outras condições adversas.

Propomos dois textos para reflexão: o primeiro, de um estudante de teologia, sobre o Sagrado Dia das Mães, de memória agradecida pelo cuidado e o carinho recebidos de sua mãe, sobretudo nos primeiros anos de vida.  Faz também uma reflexão espiritual sobre a figura e a missão de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus e mãe do povo cristão.

O outro texto é feito de breves reflexões do Papa Francisco sobre as mães e sua missão maior: acolher e alimentar a vida. Elas acompanham seus filhos, mesmo quando se desgarram na vida. Elas não os abandonam, pois os desgarrados são os que mais precisam dos cuidados e amor materno.

Boa leitura!

Por Luiz Antonio de Moura, estudante de teologia *

Alguns anos atrás escrevi um texto onde indagava quem era minha mãe e terminei concluindo que minha mãe é aquela que um dia recebeu uma pequena semente de vida incompleta. Completou-a e guardou-a dentro de si – por nove meses – livrando aquela mudinha de planta de ser destruída e aniquilada. Minha mãe é aquela que, por meses a fio, alimentou todo o meu ser, com seu sangue, com suas dores e suas lágrimas, mas, também, com seu amor e com seu carinho. Minha mãe é aquela que, após o meu nascimento, soube amamentar, soube limpar, banhar, trocar e amar aquele pequeno ser totalmente indefeso. Minha mãe é aquela que me ensinou os primeiros passos e as primeiras palavras, educou e disciplinou, sem deixar de amar. Minha mãe é aquela que me ensinou a ter coragem, a orar, a confiar em Deus, a não desistir facilmente diante das dificuldades e a perceber que, dia após dia, a vida é construída e que, por esta razão, tudo tem o seu tempo certo. Minha mãe, enfim, é aquela que me encorajou a buscar as vitórias limpas, sem traumas e sem truques, sem armações, jeitinhos ou fraudes. Melhor é a derrota, ensinou-me, do que a vitória maculada por qualquer vício. Graças a Deus, eu tive uma mãe. Graças a Deus, eu ainda tenho a minha mãe.

Hoje, porém, mais maduro e mais consciente de tudo o que se passa ao meu redor, sinto-me impulsionado a falar sobre minha mãe, assim como sobre todas as outras mães, sob a influência daquela que é o exemplo maior de que temos notícia: Maria de Nazaré. Uma mãe cuja vocação foi provada pelo fogo do Espírito Santo, por cuja Virtude foi semeado em seu claustro sagrado o Filho de Deus, Jesus. Um momento difícil para Aquela menina-moça, prometida em casamento a um homem da estirpe de Davi, que vivia num ambiente extremamente ligado à lei mosaica, onde não se podia, sequer, imaginar a traição antes do casamento. Maria, futura mãe, angustiou-se demais com aquela situação, até que o Anjo do Senhor tratou de tranquilizar José, em sonho, para recebê-la como esposa. A seguir, o sofrimento da mãe, que vê seu rebento nascer num ambiente totalmente diverso do casebre humilde, mas aconchegante e protegido em que vivia anteriormente, consolando-se em trazer o filho à luz, nas cercanias de um curral, enrolando o recém-nascido em panos arranjados na última hora, mas, superaquecidos de amor e de felicidade... Oito dias depois, recebeu um forte golpe ..., ao ouvir da boca de Simeão a profecia de que uma espada haveria de atravessar sua alma... Depois, quando o menino tinha doze anos, sofreu de forma angustiante ao senti-lo perdido em meio à festa da Páscoa celebrada em Jerusalém, quando, depois de um dia de viagem de retorno, percebeu sua ausência. Mal fazemos ideia do sofrimento daquela pobre mãe que, imediatamente ...voltou a Jerusalém, onde só três dias depois é que o foi encontrar... 

Humanamente, podemos imaginar o sofrimento e a dor suportados por Maria na noite em que soube da prisão de seu filho. Com o coração dilacerado, rasgado pela angústia e pela preocupação, ela deve ter passado toda aquela noite acordada, enquanto Ele era submetido aos primeiros suplícios da condenação. Vamos vê-la caminhando junto da multidão, no caminho para o Calvário, sofrendo calada, chorando sem se deixar perceber para, ao final, ver seu filho morto no madeiro... Maria é o exemplo de mãe para todas as mães de todos os tempos: amou seu filho desde a concepção imaculada até a ressurreição consumada. E continua amando-o intensamente até hoje... 

Nesse Dia das Mães, é nosso dever render homenagens a todas as mães: as que ainda estão ativas entre nós, as que já partiram para o encontro com o Senhor, as que estão enfermas, as idosas, as mais jovens, as mais cansadas, as mais sofridas, as mais cultas, as mais pobres e mais humildes, as mais sábias e as menos instruídas. Enfim, a todas, todas! Também não podemos deixar de lembrar todas as mães que, apesar de não terem gerado, souberam criar com sabedoria, amor e carinho os filhos concebidos por outras mulheres. Estas, também, são verdadeiras e maravilhosas mães, porque assumiram como suas as responsabilidades que outras não quiseram, não souberam ou não puderam assumir. Feliz de quem teve uma mãe. Mais feliz, ainda, aquele que teve duas mães: a que gerou e a que criou... Minha mãe é responsável por eu ter nascido e por ter conseguido sobreviver. Se nossa vida toma outros rumos, é porque assim queremos, fazendo as opções que julgamos serem as mais acertadas. Nossas mães jamais poderão ser responsabilizadas por nossas falhas. O melhor, elas souberam preservar: nossas vidas.

No entanto, não podemos nos esquecer da Mãe por excelência: Maria. A mãe das mães, a mãe de todos os povos e de todas as raças. Ela, que nos momentos mais delicados da nossa vida sempre se faz presente, com aquele olhar penetrante que tantos artistas inspirados souberam tão bem retratar. Ela que sofre com nossos sofrimentos, que chora com nosso choro, que ri com nosso riso, que faz festa com nossa alegria. Ela que sempre vai correndo ao encontro de Jesus para dizer-lhe: eles não têm mais vinho! E, voltando-se para nós, sempre diz: façam tudo o que Ele vos disser. E, no final, tudo é transformado em nossas vidas, porque Ele sempre amou, respeitou e se preocupou com sua mãe, e, por isso, sempre atende aos seus clamores, ainda mais sendo para nos ajudar.

Maria, nossa querida e santa mãe, abençoa a todos nós que somos teus filhos, mas, muito mais, a todas as nossas mães, para que elas sejam imitadoras do teu carinho, da tua santidade, da tua dedicação, da tua paciência e da tua preocupação com o destino final de cada um de nós. Feliz dia das mães para todas as mães do mundo, a começar por Maria, verdadeiramente Mãe! 

(* Luiz Antonio de Moura é estudante do 1º ano de teologia, do Instituto Teológico Franciscano, Faculdade de Teologia, Petrópolis, RJ; artigo escrito em 09/05/2014.)

No Dia das Mães de 2017 - em 10 de maio - o Papa Francisco exaltou mais uma vez o valor da maternidade. Depois da oração do Regina Coeli, Francisco recordou com gratidão e afeto todas as mães. Ele se dirigiu à multidão perguntando se havia mães na Praça. Ao ouvir as respostas, pediu um aplauso a todas elas ... Em inúmeras ocasiões, homilias, discursos e catequeses, o Papa falou do elo que une a mãe a seu filho. “São elas que testemunham a beleza da vida”, disse na catequese de janeiro deste ano, citando o Arcebispo Oscar Arnulfo Romero, que dizia que as mães vivem um martírio materno. Para Francisco, a mãe dá a sua vida pouco a pouco, no silêncio da vida quotidiana. “Ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é também uma escolha de vida. Qual é a escolha de vida de uma mãe? A escolha de vida de uma mãe é a escolha de dar a vida. E isto é grande, é bonito.”

Eis o que disse na Audiência Geral de 18 de setembro de 2013: “Quando um filho cresce, torna-se adulto, caminha com as próprias pernas, faz o que quer e, às vezes, pode até sair do caminho. Em todas as situações, a mãe tem sempre a paciência de continuar acompanhando os filhos. O que a impele é a força do amor; a mãe sabe acompanhar com discrição e ternura o caminho dos filhos e até quando erram procura sempre o modo de os compreender, para estar próxima, para ajudar”.

“Nós, na minha terra, dizemos que a mãe sabe ‘dar la cara’. O que significa? Quer dizer que a mãe sabe dar a cara pelos próprios filhos, ou seja, é levada a defendê-los sempre. Penso nas mães que sofrem pelos filhos na prisão, ou em situações difíceis: não se perguntam se são culpados ou não, continuam a amá-los e muitas vezes sofrem humilhações, mas não têm medo, não deixam de se doar.

Francisco diz que a mãe sabe pedir, sabe bater em todas as portas pelos próprios filhos, sem calcular. As mães sabem também bater à porta do Coração de Deus. “As mães rezam muito pelos seus filhos, especialmente pelos mais frágeis, por quantos enfrentam maiores necessidades, por aqueles que na vida empreenderam caminhos perigosos ou errados.”