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Convite à Reflexão [Segundo turno das eleições municipais]
20.10.2016 | 14:24 | #capelania-e-identidade-crista
Convite à Reflexão [Segundo turno das eleições municipais]
Dia 30 deste mês se realiza o segundo turno das eleições municipais em diversas capitais de Estados do Brasil. Um fenômeno que surpreendeu no primeiro turno, realizado no passado dia 2 de outubro, foi a alta taxa de votos em branco e nulos. Em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, os votos brancos e nulos superaram os votos dados ao vencedor do primeiro turno.

Quais as causas dessa tendência dos eleitores? Desencanto com a política, ou melhor, com essa política? Haverá outros fatores? Conseguirão os candidatos, que se habilitaram ao segundo turno, reverter essa tendência? Deixamos essas perguntas ao leitor. Para estimular a reflexão, oferecemos o artigo abaixo, publicado em Zero Hora, no dia 04 desse mês, assinado pelo jornalista Erik Farina. Boa leitura!

Votos brancos e nulos evidenciam descontentamento com classe política, dizem especialistas

Erik Farina  -  Zero Hora,  04/10/2016

Quase 35% dos eleitores rejeitaram escolher algum candidato a prefeito em Porto Alegre. O alto índice de abstenção e de votos brancos e nulos em Porto Alegre reforça o que analistas vinham prevendo há alguns anos: a crescente descrença de que políticos possam colocar em curso ações para melhorar o país. Um terço do eleitorado porto-alegrense se negou a entregar seu voto a qualquer um dos nove candidatos à prefeitura no primeiro turno. De acordo com especialistas, foi um recado claro de insatisfação com a institucionalidade política e jurídica brasileira.  

— A política brasileira vive sua crise mais profunda em toda a história da República — avalia o professor de sociologia da Unicamp Ricardo Antunes. — O recado foi dado nas manifestações de 2013, mas os congressistas não fizeram as reformas necessárias. O resultado se reflete na falta de interesse da população pelo voto — completa. Até o presidente Michel Temer admitiu nesta segunda-feira, em Buenos Aires, que o não-comparecimento de eleitores às urnas foi um recado para a classe política em geral. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a abstenção nas votações de domingo foi de 17,6%, acima dos 16,4% registrados em 2012.

Em Porto Alegre, 382,5 mil eleitores abriram mão de escolher um candidato —34,8% do eleitorado apto a votar. É um número mais elevado do que os votos obtidos pelo vencedor no primeiro turno, Nelson Marchezan (213,6 mil). O cenário não foge do que foi registrado em outras importantes capitais. Em São Paulo, o volume de abstenções, brancos e nulos chegou também a 34,8%. No Rio de Janeiro, os que se recusaram a escolher candidato somaram 38,1%, mais do que a soma de votos de Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), que vão disputar o segundo turno.

— Eleitores de partidos tradicionais citados em esquemas de corrupção estão migrando para outras legendas ou votando branco e nulo. É o que ocorreu com o eleitorado do PT, que teve desempenho fraco nas capitais — aponta Ricardo Caldas, professor de Ciência Política da UNB. Na capital gaúcha, o descontentamento com a política é agravado pela sensação de que as principais alternativas para melhorar a cidade já se esgotaram, completa Caldas: 

— A população de Porto Alegre já experimentou os principais partidos no poder, e todos foram rechaçados: PT, PMDB e o governo Estadual do PSDB, com Yeda Crusius. Na ausência de um nome novo com força para se eleger, muita gente prefere nem votar.

José Luiz Bica de Melo, professor de teorias políticas da UNISINOS, avalia que o porto-alegrense demonstra, em seus debates políticos e no resultado das urnas, um certo esgotamento do interesse pela política municipal em razão do longo período de permanência dos mesmos grupos na administração da cidade.

— Foram 16 anos com o PT, e são mais 12 com o PMDB e suas alianças. Os eleitores percebem que os problemas não se resolvem e se cansam de discursos do "vamos começar a fazer" — avalia Bica. 

Pode ter sido crucial para a alta abstenção o reduzido número de candidatos com reais chances de vitória na reta final da disputa. Quem pretendia escolher postulantes com chances remotas possivelmente usou a urna para protestar contra os partidos tradicionais, e contra a própria obrigatoriedade pelo voto, aponta Bica. 

— Como há uma politização acima da média em Porto Alegre, a descrença geral com os políticos é potencializada por aqui — afirma.

Esse cenário impõe aos candidatos que seguem para o segundo turno na Capital, Nelson Marchezan (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB), a tarefa de atrair esse eleitorado que se negou a escolher um candidato no último domingo deste mês, na avaliação da doutora em história especializada em política Ana Simão, professora da ESPM-Sul e da Ulbra.

— Além dos que votaram branco, nulo ou não compareceram, muitos eleitores da esquerda tendem a não simpatizar com nenhum dos dois no segundo turno em Porto Alegre. Ou os candidatos revertem esse quadro, ou a abstenção será ainda maior em 30 de outubro — aposta a especialista. 
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