No mês de outubro entramos em sintonia com a fé cristã que nesses dias celebra duas festas marianas: a Festa de Aparecida (12/10) e a de Guadalupe (21/10). Esse segundo evento ganha especial relevância com a realização anual de uma romaria, que costuma atrair uma multidão. Atentos à realidade que nos cerca, nos perguntamos: em que reside o poder de atração desta festa e da romaria, que já vai para sua 33ª edição?
Lendo a notícia sobre a romaria e o relato sobre a origem da imagem venerada pelo povo no Santuário de Guadalupe, você vai entender melhor o segredo guardado nessa imagem e o sentido espiritual e simbólico dessa festa popular.
A Romaria que atrai uma multidão
Maria, mãe de Jesus Cristo, é venerada pelo povo católico sob diversas imagens e rostos. São rostos que se parecem com os de nosso povo: o rosto moreno da Mãe Aparecida – cuja festa foi celebrada com um feriado dia 12/10 – e o rosto indígena da Virgem de Guadalupe, que entre nós é venerada todos os anos com uma romaria ao seu santuário na Cascata, próxima de Pelotas. Os rostos de Maria nos falam da fé do povo cristão, cujas alegrias e dores são assumidas iluminadas por Maria e seu Filho Jesus. Dessas festas, o povo retorna cansado, mas feliz.
A 33ª Romaria ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe acontece esse domingo, dia 21 de outubro. O Santuário de Guadalupe fica no vilarejo de Cascata, na BR 293, distante 22 km de Pelotas. O evento costuma atrair uma multidão (30 mil pessoas no ano passado), não só de Pelotas, mas das cidades e dioceses vizinhas de Rio Grande e Bagé. O segredo desse evento não é apenas a atração que uma festa religiosa exerce, mas a procissão trazendo o quadro Imagem, as celebrações, os sacramentos da reconciliação e da eucaristia, as bênçãos da saúde e os momentos de confraternização.
Muitos romeiros vão para agradecer graças alcançadas e pedir a proteção de Deus através de Maria. Mas qual o segredo desse quadro-imagem de Nossa Senhora de Guadalupe? Nem todos sabem que a imagem que aqui veneramos é cópia fiel do quadro original que se conserva no Santuário de Guadalupe, a cidade do México. Essa cópia fiel foi trazida de lá e é autenticada por um selo da Igreja mexicana. Vale a pena conhecer essa história e alguns de seus segredos.
O relato de Guadalupe: os segredos de uma imagem
Pelo relato de que dispomos, datado de 1531, uma "Senhora do Céu" apareceu ao índio Juan Diego, identificando-se como Maria, a mãe de Jesus. Juan, da tribo nahua, foi instruído por ela a dizer ao bispo que construísse um templo no lugar, a colina de Tepeyac, um bairro da cidade de México. O bispo, Juán de Zumárraga, não deu fé ao relato do índio e pediu uma prova da autenticidade da aparição. Em resposta, a Virgem fez crescer flores numa colina semi desértica em pleno inverno. Juan Diego foi levar as flores ao bispo (no dia 12 de dezembro de 1531), carregando-as no seu manto ou tilma. Ao abrir o manto diante do bispo e de outras pessoas, todos ficaram admirados ao verem uma imagem de Maria estampada no manto. A tilma, um tecido de pouca qualidade, feito de fibras de cacto, se conserva intacta até hoje.
Um estudo realizado na Universidade Nacional do México, em 1946, comprovou que as fibras do tecido são de agave, que não duram mais do que vinte anos. Em ampliações do rosto de Nossa Senhora, constatou-se que seus olhos, refletem as pessoas que estava à sua frente em 1531 - Juan Diego, o bispo e outras 11 pessoas. O assunto tem sido objeto de análises científicas, inclusive da NASA, que não consegue explicar os segredos dessa imagem. O relato de Guadalupe foi publicado no Brasil pelo Frei Luiz Carlos Susin, no livro intitulado: “Aqui se conta a História de N.S. de Guadalupe” (recentemente reeditado). Susin chama atenção para a semelhança da história de Guadalupe com a de Nossa Senhora Aparecida e até com a saga de Sepé Tiaraju, o índio herói das nossas reduções.
Na verdade, o maior milagre de Guadalupe não está na imagem misteriosa, mas no seu poder espiritual, de profundo sentido simbólico. O bispo, que de início reagiu com descrença, acabou se dobrando e cumprindo o que a Senhora do céu havia dito a um índio desprezado. Juán de Diego Cuauhtlatoatzin foi canonizado pela Igreja em 2002. Um reconhecimento para a fé simples e fiel do povo tantas vezes humilhado em nossas periferias. Na vida de Maria de Nazaré, mãe de Jesus, venerada sob o título de Mãe de Guadalupe, o povo sofrido encontra forças para superar adversidades, lutar contra opressões e agir solidariamente, para construir uma sociedade mais justa e fraterna. Esse é o milagre cotidiano e permanente de Guadalupe.
Com esse relato e mensagem, sintam-se todos convidados a participar da Romaria de Guadalupe em Pelotas, no dia 21 de outubro, das 8h às 16h (missa às 10h) no Santuário de Guadalupe, na Cascata. Uma justa homenagem à Mãe de Jesus e mãe nossa.
*texto produzido pela Capelania UCPel