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Convite à reflexão: porque um Sínodo para a Amazônia?
17.10.2019 | 10:39 | #capelania-e-identidade-crista
Convite à reflexão: porque um Sínodo para a Amazônia?

A Igreja católica, sob o Papa Francisco, quer trilhar novos caminhos na Igreja, sempre fiel aos fundamentos da fé cristã. Ele deseja uma Igreja “em saída” também na Amazônia que se põe a serviço daquele povo. Já em 2013, Francisco convidava os bispos do Brasil a reconhecerem a Amazônia como um autêntico “banco de prova”, lembra Dom Michel Cerny, sub-secretário do Sínodo,  em artigo publicado na Revista “Civiltà Cattolica”. A Igreja, escreve Cerny, é “determinante no futuro daquela área”.  Os novos caminhos guiam a Igreja para ser não para si mesma, mas para as pessoas, envolvendo-as ativamente. Nos últimos anos, a diminuição dos missionários – homens e mulheres – colocou em perigo a presença da Igreja católica entre as populações indígenas da Amazônia. A Conferência de Aparecida (em 2007) teve a coragem de admitir, por um lado, “que numerosas pessoas perdem o sentido transcendental de suas vidas e abandonam as práticas religiosas; e, por outro lado, que significativo número de católicos estão abandonando a Igreja para entrar em outros grupos religiosos”. Em 2017, por sugestão dos bispos dos nove países que tem parte na Pan-Amazônia, o Papa Francisco convocou um Sínodo ou assembléia de bispos, especial para essa região, que se realiza em Roma nesse mês de outubro, de 06 a 27. O Sínodo tem função consultiva, é um conselho do Papa, a quem cabe decidir depois sobre as propostas a adotar.

O Sínodo tem um desafio pela frente: relançar a missão da Igreja na Amazônia com “fidelidade a audácia”, como diz o Documento de Aparecida. Trata-se de compreender como evangelizar aquela região, de rios e florestas, e de forte presença indígena. Os indígenas estão presentes desde tempos imemoriais; os caboclos e ribeirinhos chegaram depois, nos ciclos da borracha ou atraídos por miragens como o garimpo. Muitos são católicos por tradição e hoje se sentem parte da Amazônia, terra que adotaram. Em sua visita a Puerto Maldonado, Peru, em janeiro de 2018, o Papa Francisco falou assim: “Amai esta terra, senti-a vossa. Tomai seus cheiros, ouvi-a, maravilhai-vos com ela. Enamorai-vos desta terra […], comprometidos a salvaguardá-la, a defendê-la. Não a useis como mero objeto que se pode descartar”.

O Sínodo ajudará a que todos esses povos - indígenas, moradores dos rios, descendentes de africanos, mestiços, migrantes andinos e habitantes das cidades – a assumir sua identidade amazônica e a encontrar uma estrutura eclesial apropriada para os seus fins pastorais. A Igreja está lá há muito tempo e muitas estruturas de apoio como hospitais, escolas e paróquias, foram criadas por ela, com a ajuda de missionários de fora da região.   “Novos caminhos para a Igreja” significa aprofundar o “processo de inculturação” dessa presença (EG 126). Por isso, é importante que o povo da Amazônia, não só brasileira, sinta a Igreja como “sua”, que sejam sujeitos ativos da evangelização. Os missionários vindos de fora devem aceitar um papel secundário e dar prioridade ao protagonismo da comunidade local, sobretudo aos indígenas. Muitos foram batizados e passaram por uma primeira evangelização tradicional. Com a abertura que representa o Sínodo, as populações da Amazônia poderão contribuir para a um novo florescimento da vida das comunidades e do cuidado com a casa comum, sustentados por sua fé cristã e pela riqueza espiritual de suas culturas.

O Sínodo terá de responder ao desafio de passar de uma “pastoral de visita” para uma “pastoral de presença”. Em vez de visitas esporádicas de um padre que vem de fora, eles teriam a presença permanente de lideranças e de um presbítero local, que se expressa na linguagem de sua cultura, e possa celebrar a missa todos os domingos. Segundo a fé católica, “a Igreja vive da Eucaristia” e “a Eucaristia edifica a Igreja”. Isso põe a questão o papel das lideranças locais para as funções religiosas, especificamente para a celebração da missa, até agora reservada aos padres celibatários.  O “Instrumento de Trabalho” (texto preparatório do Sínodo) sugere que o Sínodo discuta a proposta de ordenação de presbíteros casados para as comunidades remotas, para essa realidade especial. Não seria a primeira vez que haveria padres casados na Igreja Católica, que já existem em Igrejas orientais ligadas a Roma e entre padres anglicanos casados (aproximadamente mil padres) que aderiram ao catolicismo e foram admitidos como “padres casados” pelo Papa Bento XVI”. Não se trata de abolir o celibato para o clero, mas de atender a uma necessidade especial de uma região.

Há outros temas na pauta do Sínodo da Amazônia. Os membros do sínodo, que conta com a presença de uns 250 bispos, padres e assessores, leigos e leigas, provenientes dos 9 países da Pan-Amazônia. O Brasil tem a maior delegação, com 58 bispos provenientes da região. O relator geral do Sínodo também é brasileiro, dom Cláudio Hummes. Além dos temas internos da Igreja, o sínodo vai discutir a questão ambiental e de defesa de uma ecologia integral nessa região, cuja biodiversidade e sustentabilidade sofre ameaças pelo avanço do desmatamento, das queimadas e de uma ocupação predatória, sem respeito às culturas locais. Em seu discurso de abertura, o papa Francisco criticou os novos colonialismos, as “colonizações ideológicas”, que fazem ver a realidade com programas pré-fabricados, com o afã de domesticar os povos originários. “As ideologias são uma arma perigosa”, afirmou o Papa, porque levam a visões redutivas, a entender sem admirar, sem assumir, sem compreender. O lema “civilização e barbárie” serviu para dividir, aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles”.        

No dialogo com os povos indígenas, populações ribeirinhas e com o povo das cidades da região, representadas em Roma, o sínodo se propõe elaborar propostas para um novo caminho pastoral nessa região, que inclui o cuidado  com a natureza e o meio ambiente, no trato adequado dos recursos naturais e da biodiversidade, que devem atender primeiramente os povos que lá vivem, no respeito à soberania de cada pais, sem esquecer o benefício que uma Amazônia bem cuidada representa para todo o mundo.   

Pe. Martinho Lenz, SJ, capelão

               

 

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