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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
30.09.2015 | 19:08 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
O papa Francisco encerrou nesse domingo (27) sua primeira visita aos Estados Unidos. Entre os temas abordados estão o pedido pelo fim da pena de morte, as migrações e a venda de armas. 

Begoglio discursou no Congresso dos EUA  e  às Nações Unidas. Oferecemos então, três textos que versam sobre sua passagem à América. 

Primeiramente apresentamos duas reportagens. A primeira de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica com o titulo “Não à pena de morte e ao comércio de armas": o papa "progressista" adverte o  Congresso. Francisco é o primeiro pontífice da história a falar ao Congresso dos Estados Unidos em sessão conjunta. 

A segunda reportagem “Na ONU, Francisco defende o ambiente e o 'absoluto respeito pela vida'", foi publicada no sítio National Catholic Reporter e aborda o fim das armas nucleares, da guerra e da cultura da exclusão. 

Por fim, divulgamos o artigo de Agostino Giovagnoli, “As lições norte-americanas de Francisco”. Giovagnoli  é professor da Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, e diretor do Departamento de Ciências Históricas da mesma instituição. O artigo  é uma analise do historiador sobre a viagem do Papa, que segundo ele, expressa a "maturidade" do pontificado bergogliano e a estatura alcançada pelo papa como líder global.

Desejamos que os textos contribuam para o amadurecimento da fé e para a reflexão a cerca do dialogo entre Igreja e Sociedade.   


"Não à pena de morte e ao comércio de armas": o papa "progressista" adverte o  Congresso

"A maioria de nós fomos uma vez estrangeiros. Recordemos a regra de ouro: faça aos outros o que gostaria que fizessem a você. A América foi grande quando defendeu a liberdade e os direitos para todos, comLincoln e Martin Luther King." O Papa Francisco é o primeiro pontífice da história a falar ao Congresso dos Estados Unidos em sessão conjunta. Ele conquista Washingtoncom um discurso apaixonado e também duro: pede a abolição da pena de morte e da venda de armas, invoca políticas de acolhida para imigrantes e refugiados, um compromisso contra as desigualdades, a luta contra as mudanças climáticas. São os grandes temas do seu pontificado, mas, dentro da sala do Congresso, diante dos legisladores da superpotência mundial, eles assumem um peso político enorme.

A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Standing ovation: é unânime o aplauso de pé na sua chegada, mas enquanto o papa profere o seu discurso os aplausos tornam-se mais alinhados e seletivos. "Um discurso claramente progressista", julgam-no todos os meios de comunicação norte-americanos, doNew York Times ao Washington Post, doHuffington Post ao Politico.com.

O entusiasmo, ao contrário, é avassalador e incondicional na multidão que assiste do lado de fora: 50.000 pessoas o acompanham nos telões montados especialmente no West Lawn, vasto gramado na colina do Capitólio na capital federal.

O Papa Bergoglio mediu, no dia anterior, as afinidades eletivas com Barack Obama. Mas é uma América diferente a que o esperava no Congresso. Essa é a cova dos leões, uma maioria de republicanos, em plena campanha para a nomeação presidencial: à direita está em voga a xenofobia de Donald Trump, o negacionismo climático dos irmãos Koch, o apoio ao lobby das armas e à pena de morte, a recusa de políticas fiscais redistributivas.

Sobre cada um desses temas, o papa não faz concessões, não suaviza as asperidades. Ele fala diante de um Congresso onde, além de senadores e deputados, estão governadores dos Estados, candidatos presidenciais e muitos VIPs convidados.

Com uma enorme representação do mundo católico: são católicos o vice-presidente, Joe Biden, e o secretário de Estado, John Kerry, o presidente da Câmara (o republicano John Boehner) e a líder democrata Nancy Pelosi. Cerca de 31% dos católicos no Congresso, enquanto na população dos EUA são 22%.

O sonho americano e a acolhida aos estrangeiros são o primeiro tema forte do discurso, Bergoglio o aborda partindo da sua biografia e o expressa falando de Américas, no plural. "Milhões de pessoas vieram a esta terra para buscar o seu sonho de construir um futuro em liberdade. Nós, os povos deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque muitos de nós foram estrangeiros. Digo isso a vocês como um filho de imigrantes, sabendo que muitos de vocês também são descendentes de imigrantes. (…) Milhares de pessoas são levadas a viajar para o Norte em busca de uma vida melhor para si mesmas e para os seus entes queridos, em busca de melhores oportunidades. Não é o mesmo que nós queremos para os nossos próprios filhos?"

Ele coloca na mira os quatro males mais graves do nosso tempo: ódio, ganância por dinheiro, pobreza, poluição. Mas se destaca uma passagem sobre o papel do dinheiro na política, e há um reconhecimento à economia de mercado que é notado pelos norte-americanos: "A atividade empresarial é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum".

Sobre a proteção do ambiente, o papa põe em causa diretamente o Congresso, onde tantas reformas do governo Obamaestão paralisadas: "Eu não tenho nenhuma dúvida de que os Estados Unidos e este Congresso têm um papel importante a desempenhar. Agora é a hora de ações e estratégias corajosas", para combater os efeitos mais graves da degradação ambiental causadas pela atividade humana.

É a passagem sobre os imigrantes que torna mais clara a diferença de reações. "Não devemos nos assustar com os seus números, mas vê-los como pessoas, ver os seus rostos e ouvir as suas histórias, tentando responder da melhor forma que conseguirmos à sua situação." Dentro da sala do Congresso, só os democratas aplaudem. Do lado de fora, no grande gramado, há um rugido de aprovação: muitos hispânicos vieram para ouvi-lo de toda a América.

Um gelo na direita também quando o pontífice invoca a abolição da pena capital: "Peço a abolição global da pena de morte. Toda pessoa humana tem uma dignidade inalienável, e a sociedade só pode se beneficiar com a reabilitação dos condenados por crimes".

Mais ardente foi a afirmação sobre as armas: o papa não condenou apenas o grande tráfico internacional de armas, mas também as vendas individuais, um assunto tabu para a direita norte-americana, alinhada com o lobby da National Rifle Association.

A direita aplaude unida quando o papa defende o valor tradicional da família. No entanto, aqui também Bergoglio insere uma referência à crise econômica, ao desemprego, às desigualdades: "Os jovens estão sob pressão, não formam famílias porque não veem um futuro de possibilidades".

E denuncia a "espiral de pobreza que aprisiona tantas pessoas": tema central da Assembleia da ONU à qual falará hoje. As Nações Unidas devem fazer um balanço das Metas do Milênio. O Banco Mundial destaca que haverá 148 milhões de pobres a mais, se o limiar da pobreza absoluta for atualizada.

Um discurso pouco "religioso": a única referência explícita às Escrituras é uma citação de Moisés, isto é, a figura bíblica reconhecida pelas três religiões monoteístas, judeus, cristãos e muçulmanos. O discurso ao Congresso se encerra com o desejo de que o sonho americano permaneça fiel à sua inspiração original: paz, liberdade, defesa dos oprimidos.

Antes de voar para Nova York, o papa celebrou a missa em espanhol na Igreja de St. Patrick, onde famílias pobres estavam reunidas. Lá, ele voltou ao tema que lhe é mais caro: "O Filho de Deus veio ao mundo como um homeless [sem-teto]. Ele soube o que significava começar a vida sem um teto".

Poucas horas antes, Los Angeles, a metrópole glamourosa da riquíssima Califórnia, teve que tomar uma medida sem precedentes: a proclamação de um estado de emergência pelo aumento dos homeless.


Na ONU, Francisco defende o ambiente e o "absoluto respeito pela vida"

No "púlpito do mundo" que é a Organização das Nações Unidas, o Papa Francisco defendeu nessa sexta-feira de manhã que os esforços de desenvolvimento futuro se lembrem do rosto humano das pessoas que procuram escapar da pobreza e alcançar uma vida digna.

A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em um discurso sem menção direta às mudanças climáticas, no entanto, Francisco pressionou pela "recuperação do meio ambiente" e expressou confiança que as negociações de Paris irão "obter acordos fundamentais e eficazes".

O papa também pediu o fim das armas nucleares, da guerra e da cultura da exclusão, e fez um reconhecimento da lei moral na natureza humana, que diferencia entre homem e mulher, e tem um "absoluto respeito pela vida em todas as suas etapas e dimensões".

"A casa comum de todos os homens deve continuar sendo levantada sobre uma reta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e cada mulher, dos pobres, dos idosos, das crianças, dos enfermos, dos não nascidos, dos desempregados, dos abandonados, dos que se julgam descartáveis porque não são considerados mais do que números de uma ou outra estatística."

"A casa comum de todos os homens e mulheres também deve ser edificada sobre a compreensão de uma certa sacralidade da natureza criada", disse Francisco a uma sala de audiências lotada com mais de 150 líderes mundiais, a maior reunião da ONU desse tipo, que se encontra para a adoção de uma nova agenda global que irá direcionar os esforços de desenvolvimento pelos próximos 15 anos.

O papa chamou a aprovação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada formalmente depois do seu discurso, como "um importante sinal de esperança". Os 17 objetivos e as 169 metas procuram acabar com a pobreza, promover a educação e a igualdade de gênero, assegurar o acesso à água e à energia sustentável, e enfrentar as mudanças climáticas.

O próximo passo para os objetivos, formalmente aprovados por unanimidade entre os 193 Estados-membros, será desenvolver indicadores para medir a sua implementação, algo a que Francisco pareceu fazer referência quando ressaltou que o número e a complexidade dos problemas globais "exigem que se possuam os instrumentos técnicos de medida".

As melhores e mais simples medidas para a implementação dos objetivos, segundo ele, serão "um acesso eficaz, prático e imediato" para todos à moradia, ao trabalho digno, à alimentação adequada e à água potável, à educação e às liberdades religiosa e espiritual.

"Esses pilares do desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum, que é o direito à vida e, mais em geral, aquilo que poderíamos chamar de direito à existência da própria natureza humana", disse o papa.

Ele acrescentou que o desenvolvimento humano integral "não pode ser imposto", mas sim construído e amadurecido em cada indivíduo e família, à qual ele se referiu como "a célula primária de qualquer desenvolvimento social".

Os governos, então, devem fazer todo o possível para fornecer as condições que permitam que as pessoas formem e sustentem as famílias, no mínimo através do acesso à moradia, ao trabalho, à terra e à liberdade espiritual. Ele também falou contra as agências financeiras que impõem "sistemas de crédito" opressivos sobre as pessoas, que geram mais pobreza, exclusão e dependência.

A atividade política e econômica, acrescentou, só são eficazes quando guiadas pelo conceito de justiça e que "não perde de vista, em nenhum momento, que, acima e além dos planos e programas, há mulheres e homens concretos, iguais aos governantes, que vivem, lutam e sofrem, e que muitas vezes se veem obrigados a viver miseravelmente, privados de qualquer direito".

"Para que esses homens e mulheres concretos possam escapar da pobreza extrema, devemos lhes permitir que sejam dignos atores do seu próprio destino", disse Francisco.

Proferindo o quinto discurso papal às Nações Unidas e o primeiro a abrir a sua sessão da Assembleia Geral, Francisco ofereceu elogios para as conquistas da organização internacional nos seus 70 anos.

"Todas essas realizações são luzes que combatem a escuridão da desordem causada pelas ambições descontroladas e pelos egoísmos coletivos", disse Francisco.
"Certamente ainda são muitos os graves problemas não resolvidos, mas também é evidente que, se tivesse faltado toda essa atividade internacional, a humanidade poderia não ter sobrevivido ao uso descontrolado das suas próprias possibilidades", disse.

Ao introduzir o papa ao órgão da ONU, o secretário-geral, Ban Ki-moon, apontou para o pedido de Francisco na primeira página da sua encíclica, Laudato si' sobre o cuidados da casa comum: "Quero me dirigir a cada pessoa que habita neste planeta".

"Sua Santidade, bem-vindo ao púlpito do mundo. Estamos aqui para ouvir", disse Ban.

Francisco passou grande parte do seu discurso conectando a destruição ambiental com o fenômeno cultural da exclusão social e econômica.

"O abuso e a destruição do ambiente também são acompanhados por um implacável processo de exclusão. Com efeito, um afã egoísta e ilimitado de poder e de bem-estar material leva tanto a abusar dos recursos materiais disponíveis quanto a excluir os fracos e com menos habilidades", disse.

"A exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e um gravíssimo atentado contra os direitos humanos e o ambiente", afirmou.

Existe um verdadeiro direito ao ambiente, disse Francisco, por duas razões: primeiro, porque os seres humanos fazem parte do ambiente e, segundo, porque cada criatura tem um valor intrínseco na sua existência, beleza e interdependência.
Os passos imediatos para a preservação e a melhoria do ambiente natural, por sua vez, levariam a um final possivelmente rápido "para o fenômeno da exclusão social e econômica", disse, que permite o tráfico de seres humanos, de órgãos, de drogas e de armas. O mundo exige dos seus líderes uma vontade "eficaz, prática e constante" de alcançar esse fim, disse o papa.

Antes do seu discurso, Francisco se reuniu com funcionários da ONU, agradecendo-lhes pelo seu trabalho em encarnar o "ideal de uma família humana unida". Ele também depositou uma coroa de honra aos funcionários da ONU que morreram no serviço à organização.

No hall da Assembleia Geral, ele descreveu a guerra como "a negação de todos os direitos e uma dramática agressão ao ambiente", além de defender a "necessidade urgente" de trabalhar por um mundo livre de armas nucleares. Ele elogiou o recente acordo de desarmamento do Irã como "prova do potencial de boa vontade política e de direito".

"Se quisermos um verdadeiro desenvolvimento humano integral para todos, devemos continuar incansavelmente a tarefa de evitar a guerra entre as nações e entre os povos", disse.

Foi o Papa Paulo VI que, no primeiro discurso papal à ONU, em 1965, pediu "não mais guerras, guerra nunca mais".

Na conclusão de Francisco, ele conectou o seu discurso com as palavras finais de Paulo VI há quase 50 anos: "O perigo não vem nem do progresso nem da ciência (…). O verdadeiro perigo está no homem, que dispõe de instrumentos cada vez mais poderosos, capazes de levar tanto à ruína como às mais altas conquistas".

"O tempo presente nos convida a privilegiar ações que gerem dinamismos novos na sociedade, até que frutifiquem em importantes e positivos acontecimentos históricos. Não podemos nos permitir postergar 'algumas agendas' para o futuro. O futuro nos pede decisões críticas e globais diante dos conflitos mundiais que aumentam o número de excluídos e de necessitados", disse Francisco.


As lições norte-americanas de Francisco. Artigo de Agostino Giovagnoli

Francisco simplificou a normativa sobre os processos de nulidade matrimonial e envia agora, da Filadélfia, a mensagem de que o verdadeiro desafio não será jogado dentro da Igreja, mas na realidade concreta da sociedade contemporânea e não diz respeito às disputas doutrinais, mas aos processos históricos.

A análise é do historiador italiano Agostino Giovagnoli, professor da Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, e diretor do Departamento de Ciências Históricas da mesma instituição. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 28-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O Papa Francisco sai fortalecido da sua difícil viagem a Cuba e aos Estados Unidos. As expectativas da véspera eram incertas. Previa-se que ele passaria de uma excessiva sintonia com o povo e os governantes cubanos a um encontro problemático com os políticos e a opinião pública estadunidenses, confirmando a imagem de um líder do Terceiro Mundo em dificuldades diante da primeira potência mundial.

Não foi assim. Embora em clima de grande cordialidade, em Cuba, Francisco destacou que "servem-se as pessoas e não as ideologias" e, principalmente, denunciou aqueles que "abusam dos próprios concidadãos".

Nos Estados Unidos, no entanto, ganhou o aplauso bipartidário do Congresso, embora abordando assuntos incômodos como a venda de armas e a pena de morte, enquanto o seu discurso à ONU teve um grande impacto, mesmo criticando a inércia das Nações Unidas.

Ele se fez apreciar largamente pela sua humildade, mas falou com autoridade aos seus interlocutores. Até ontem, prevalecia a imagem de um papa das periferias, que vem da América do Sul e que fala principalmente aos excluídos. Durante essa viagem, no entanto, Francisco alavancou as suas origens de "migrante" e a dignidade dos pobres, para propor uma perspectiva universal, capaz de falar com todos e de interrogar até mesmo as elites.

Ele falou, de fato, dos excluídos, mas também de uma casa comum para toda a humanidade, dos mais pobres que sofrem mais os desastres ambientais, mas também do interesse de todos por um ambiente vivível.

Essa viagem expressa a "maturidade" do pontificado bergogliano e a estatura alcançada pelo papa como líder global. Se, na emocionante primeira vez de um papa na ONU, em 1965, Paulo VI apresentou a si mesmo e a Igreja Católica ao mundo, definindo-a como "perita em humanidade", a 50 anos de distância, Francisco entrou diretamente na discussão sobre as prioridades da agenda mundial.

No Palácio de Vidro, ele lembrou que não há verdadeira paz sem justiça social e econômica e sem liberdade, acima de tudo espiritual. No Marco Zero, ele sublinhou que a paz não é buscada com o choque de civilizações, mas construindo uma convivência multicultural e multirreligiosa.

Ele fez, em suma, as grandes questões da igualdade, da liberdade e da fraternidade, já enfatizadas há dois séculos pela Revolução Francesa. Não mais, porém, no horizonte do Estado-nação, mas no de um mundo cada vez mais globalizado.

Os reflexos dessa viagem também dizem respeito à Igreja Católica. O encontro com o episcopado norte-americano era marcado, na véspera, como um dos momentos mais problemáticos. Embora no respeito às Igrejas locais, Franciscomostrou um forte sentido da universalidade do seu ministério. Observando "as tentações de se fechar no recinto dos medos, de lamber as próprias feridas, lamentando um tempo que não volta e preparando respostas duras", ele indicou a urgência, também nos Estados Unidos, não de transformar a "Cruz em um estandarte de lutas mundanas", mas de uma "Igreja em saída".

É uma indicação que encontrou confirmação no afetuoso encorajamento às irmãs norte-americanas, objeto, no passado, de censuras severas, e no desejo de uma maior responsabilidade dos leigos na Igreja.

Nessa viagem, em suma, Francisco mostrou a imagem de uma Igreja que não se curva "ad intra", mas se dirige "ad extra", como queria o Vaticano II. Percebe-se isso também a partir da última etapa da sua viagem, o Encontro Mundial das Famílias na Filadélfia, onde ele falou – de improviso – sobre a família como "fábrica de esperança e de vida", particularmente importante para os mais fracos, como as crianças e os idosos.

Em vista do já iminente Sínodo sobre a Família, já começaram as polêmicas entre os favoráveis e os contrários à comunhão para os divorciados, entre os defensores de uma visão jurídica do casamento e os de uma visão teológica etc. Trata-se, mais uma vez, de discussões, em grande parte, "ad intra".

Mas Francisco, por um lado, redimensionou a questão mais controversa, simplificando a normativa sobre os processos de nulidade matrimonial e, por outro, envia agora, da Filadélfia, a mensagem de que o verdadeiro desafio não será jogado dentro da Igreja, mas na realidade concreta da sociedade contemporânea e não diz respeito às disputas doutrinais, mas aos processos históricos.

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