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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
30.03.2016 | 19:34 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
Refletindo sobre o sentido da ressurreição

O tempo pascal nos convida a refletir sobre o sentido da ressurreição e do ressurgir, não só da ressurreição de Cristo, mas o nosso ressurgir de situações de humilhação, de  desânimo ou de opressão.

Propomos três textos sobre o tema da ressurreição. Um, mais teológico, sobre “o sentido da ressurreição para um cristão”. A ressurreição é o mistério central fé cristã. O que significou para Jesus o ressurgir dos mortos e o que pode significar para nós. Para Jesus não foi uma volta à vida de antes, mas um processo semelhante a uma verdadeira “mutação”, um salto para uma vida absolutamente nova. Em que sentido essa mutação de vida nos pode interessar? O artigo oferece pistas para uma resposta.

O segundo texto é a mensagem pascal do Papa Francisco, que foi acompanhada da bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo), no domingo de Páscoa. O Cristo ressuscitado indica um caminho novo para nós e para os povos mergulhados em guerras e conflitos internos. “Diante dos abismos espirituais e morais da humanidade, diante dos vazios que se abrem nos corações e que provocam ódio e morte, disse o Papa, somente uma infinita misericórdia nos pode dar a salvação”, e abrir caminhos de paz e de cuidado com a casa comum.

O outro texto retoma a Sexta-feira Santa, que esse ano teve uma novidade em Pelotas, através de uma programação especial proposta pela Rádio Universidade da UCPel, sobre o tema “Paixão de Cristo e paixão do mundo”.  Grupos ou categorias que sofrem algum tipo de discriminação entre nós puderam se expressar, através de seus representantes. O texto recolhe falas de um dos entrevistados, Fabio Gonçalves, uma liderança negra, que denunciou a discriminação racial que ainda ocorre em nosso contexto. Lembrou a necessidade de reparação através de leis e políticas públicas. Destacou também sinais de esperança para o povo negro, face a atitudes de mais acolhimento e abertura de espaços de igualdade.

 Boa leitura!



Qual é o sentido da ressurreição de Jesus para um cristão?
A ressurreição de Cristo não se reduz à revitalização de um indivíduo qualquer. Com ela foi inaugurada uma dimensão que interessa a todos seres humanos.

 (ALETEIA TEAM )

Acreditar na ressurreição de Jesus, para o cristão, é uma condição de existência: é-se cristão porque se acredita que Jesus está vivo, triunfou da morte, ressuscitou, e é, para todos os humanos, o único mediador entre Deus e os homens. Dessa mediação participam a seu modo tudo aquilo (o universo e tudo aquilo que contém) e todos aqueles (dos mais sábios aos mais humildes) que, pela vida e pela palavra, proclamam o poder e a misericórdia de Deus que sustenta todo o universo e chama todos a participar de sua vida.

A fé na ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus. Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o critério no qual o homem pode confiar.

A fé na ressurreição de Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé” (1Cor 15, 14).

A ressurreição de Cristo não é apenas o milagre de um cadáver reanimado. Não se trata do mesmo evento que ocorreu com outros personagens bíblicos como a filha de Jairo (cf. Mc 5, 22-24) ou Lázaro (cf. Jo 11, 1-44), que foram trazidos de volta à vida por Jesus, mas que, mais tarde, num certo momento, morreriam fisicamente.

A ressurreição de Jesus “foi a evasão para um gênero de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso: uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”, explica o Papa Bento XVI no segundo volume do seu livro “Jesus de Nazaré”.

Jesus ressuscitado não voltou à vida normal que tinha neste mundo. Isso foi o que aconteceu com Lázaro e outros mortos ressuscitados por Ele. Jesus “partiu para uma vida diversa, nova: partiu para a vastidão de Deus, e é a partir dela que Ele se manifesta aos seus”, prossegue o Papa.

A ressurreição de Cristo é um acontecimento dentro da história que, ao mesmo tempo, rompe o âmbito da história e a ultrapassa. Bento XVI a explica com uma analogia. “Se nos é permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução”, a ressurreição de Jesus é “a maior ‘mutação’, em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova, como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver conosco e diz respeito a toda a história” (homilia da Vigília Pascal de 2006).

Portanto, a ressurreição de Cristo não se reduz à revitalização de um indivíduo qualquer. Com ela foi inaugurada uma dimensão que interessa a todos seres humanos, uma dimensão que criou para os homens “um novo âmbito da vida, o estar com Deus”, explica o Papa no livro “Jesus de Nazaré”.

As narrativas evangélicas, na diversidade de suas formas e conteúdos, convergem todas para a convicção a que chegaram os primeiros seguidores de Jesus, de que sua ação salvadora, tal como se havia pressentido nas Escrituras, não se frustrara nem se havia encerrado com sua morte. Pelo contrário, cumpria a promessa de Deus feita desde as origens da humanidade e, portanto, o fato de Jesus estar vivo e atuante na história tinha sua base em Deus, vinha confirmar a esperança que depositamos em Deus de que a verdade e o bem, a justiça e a paz hão de triunfar, terão a última palavra, porque Deus é fiel.


Cristo ressuscitado indica caminhos de esperança:

Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco (Páscoa 2016)

O Papa Francisco celebrou missa na manhã deste domingo de Páscoa, às 10,00 horas de Roma, na Praça de S. Pedro repleta de fiéis e peregrinos provenientes das diversas partes do mundo para assistir a esta celebração pascal e ouvir a mensagem e receber a bênção Urbi et Orbi (para Roma e para o mundo) do Santo Padre. A mensagem Urbi et Orbi foi proferida pelo Papa, a partir da varanda central da Basílica de S. Pedro, no fim da celebração eucarística, ás 12,00 horas de Roma.

Francisco iniciou por anunciar aos presentes que .

Diante dos abismos espirituais e morais da humanidade, diante dos vazios que se abrem nos corações e que provocam ódio e morte, prosseguiu o Papa, somente uma infinita misericórdia nos pode dar a salvação. Só Deus pode preencher com o seu amor esses vazios, esses abismos, e evitar-nos de afundar, permitindo-nos de continuar caminhando juntos em direção à Terra da liberdade e da vida.

O anúncio jubiloso da Páscoa: Jesus, o crucificado, não está aqui, ressuscitou (cf. Mt 28,5-6) oferece-nos, por conseguinte, a certeza consoladora de que o abismo da morte foi vencido e, com isso, foram derrotados o luto, o pranto e a dor (cf. Ap 21,4). O Senhor, que sofreu o abandono dos seus discípulos, o peso de uma condenação injusta e a vergonha de uma morte infame, faz-nos agora compartilhar a sua vida imortal, e nos oferece o seu olhar de ternura e compaixão para com os famintos e sedentos, com os estrangeiros e prisioneiros, com os marginalizados e descartados, com as vítimas de abuso e violência disse o Santo Padre, recordando que o nosso mundo está cheio de pessoas que sofrem no corpo e no espírito,  um mundo no qual as crônicas diárias estão repletas de relatos de crimes brutais, que muitas vezes acontecem dentro das paredes do nosso lar, e de conflitos armados a grande escala submetendo populações inteiras a provas inimagináveis.

Eis que Cristo ressuscitado indica portanto, ressaltou Francisco, caminhos de esperança para a querida Síria, um País devastado por um longo conflito, com o seu cortejo triste de destruição, morte, de desprezo pelo direito humanitário e desintegração da convivência civil.

 .

A imagem do homem novo, que resplandece no rosto de Cristo, prosseguiu o Papa, favoreça a convivência entre israelenses e palestinos na Terra Santa, bem como a disponibilidade paciente e o esforço diário para trabalhar no sentido de construir as bases de uma paz justa e duradoura através de uma negociação direta e sincera. O Senhor da vida acompanhe também os esforços para alcançar uma solução definitiva para a guerra na Ucrânia, inspirando e apoiando igualmente as iniciativas de ajuda humanitária, entre as quais a libertação de pessoas detidas.

O Senhor Jesus, nossa paz (Ef 2,14), que ressuscitando derrotou o mal e o pecado, possa favorecer, nesta festa da Páscoa, a nossa proximidade com as vítimas do terrorismo, forma de violência cega e brutal que continua a derramar sangue inocente em diversas partes do mundo, como aconteceu nos ataques recentes na Bélgica, Turquia, Nigéria, Chade, Camarões e Costa do Marfim; Possam frutificar os fermentos de esperança e as perspectivas de paz na África; penso, acrescentou Francisco, de modo particular ao Burundi, Moçambique, República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, marcados por tensões políticas e sociais.

E Francisco recordou que com as armas do amor, Deus derrotou o egoísmo e a morte; seu Filho Jesus é a porta da misericórdia aberta de par em par para todos. E fez votos para que a sua mensagem pascal possa resplandecer cada vez mais sobre o povo venezuelano nas difíceis condições em que vive e sobre aqueles que detêm em suas mãos os destinos do País, para que se possa trabalhar em vista do bem comum, buscando espaços de diálogo e colaboração entre todos. Que por todos os lados possam ser tomadas medidas para promover a cultura do encontro, a justiça e o respeito mútuo, únicos elementos capazes de poder garantir o bem-estar espiritual e material dos cidadãos.

Mas também, o Cristo ressuscitado, anúncio de vida para toda a humanidade, ressoa através dos séculos e nos convida não esquecer dos homens e das mulheres em busca de um futuro melhor, grupos cada vez mais numerosos de migrantes e refugiados – entre os quais muitas crianças - que fogem da guerra, da fome, da pobreza e da injustiça social. Esses nossos irmãos e irmãs, disse o Santo Padre,  que nos seus caminhos encontram com demasiada frequência a morte ou a recusa dos que poderiam oferecer-lhes hospitalidade e ajuda. E Francisco fez votos para que a próxima Cimeira Mundial sobre a Ajuda Humanitária não deixe de colocar no centro a pessoa humana com a sua dignidade e possa desenvolver políticas capazes de ajudar e proteger as vítimas de conflitos e de outras situações de emergência, especialmente os mais vulneráveis e os que sofrem perseguição por motivos étnicos e religiosos.

Neste dia glorioso, o pensamento do Santo Padre se estende também ao sofrimento da nossa Mãe Terra “ainda assim tão abusada e vilipendiada mediante uma exploração ávida pelo lucro, que altera o equilíbrio da natureza causando efeitos das mudanças climáticas, que muitas vezes causam secas ou violentas inundações, resultando em crises alimentares em diferentes partes do planeta”.

O pensamento de Francisco se estende ainda à todos os “nossos irmãos e irmãs que são perseguidos por causa da sua fé e pela sua lealdade a Cristo” para lhes dirigir ainda hoje as palavras de Cristo: «Não tenhais medo! Eu venci o mundo!» (Jo 16,33). Hoje é o dia radiante desta vitória disse o Papa.

Finalmente, o Santo Padre dirigiu uma palavra de conforto e de esperança para “todos aqueles, disse, que nas nossas sociedades perderam toda a esperança e alegria de viver, para os idosos oprimidos que na solidão sentem esvanecer as forças, para os jovens aos quais parece não existir o futuro, a todos eu dirijo mais uma vez as palavras do Ressuscitado: «Eis que faço novas todas as coisas... a quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água vivificante» (Ap 21,5-6). Esta mensagem consoladora de Jesus, concluiu dizendo Francisco, possa ajudar cada um de nós a recomeçar com mais coragem, para assim construir estradas de reconciliação com Deus e com os irmãos. Dessa reconciliação com Deus e com os irmãos, ressaltou Francisco, temos hoje tanta necessidade.

No fim, Francisco agradeceu à todos pela presença festiva e a alegria que souberam trazer neste dia Santo. A todos pediu que continuem a rezar por Ele.



Reflexão da R.U. por ocasião da Semana Santa:

Existe discriminação racial em Pelotas?
Esse ano, nossa Radio Universidade realizou uma programação especial na sexta-feira Santa, sob o tema “Paixão de Cristo, Paixão do mundo”.  O programa, coordenado pelo Diretor da rádio, P. Plutarco Almeida, aproximou os sofrimentos da cruz de Cristo com as cruzes de diversas categorias de sofredores e excluídos em nossa cidade: mulheres, idosos, pessoas com deficiência, moradores de rua, homossexuais, negros e mulatos, além de outras categorias. Ele entrevistou representantes dessas categorias para falarem sobre suas cruzes, lutas e esperanças. 

Como exemplo, trago aqui um tema muito atual, abordado por Fábio Gonçalves, liderança do movimento negro, que se questionava sobre a pouca visibilidade histórica do negro. Foi a população negra que fez a riqueza dessa cidade através do trabalho, tanto nas charqueadas, como na construção civil e em outros campos. Na hora da partilha dos bens produzidos, o que ficou para o negro foi o sofrimento, a doença e a discriminação. Após a abolição, os negros tiveram que se refugiar nas periferias, onde estão até hoje. Famílias tradicionais desta cidade fizeram sua fortuna encima do trabalho escravo. 

No Censo de 2010, 18% da população de Pelotas foi registrada como sendo de negros e mulatos. Na opinião de Fábio, essa percentagem na realidade é bem maior. Isso não por erro do censo, mas por que na hora de preencher os dados, os próprios afrodescendentes buscaram esconder sua ascendência negra, pensando assim fugir da discriminação de que ainda são vítimas. Fábio Gonçalves defendeu a necessidade de reparação da injustiça histórica que pesa sobre a população negra tanto em Pelotas como no Brasil. Um caminho para isso são políticas públicas, como as quotas nas universidades e em repartições. É notória a ausência de negros em cargos de chefia, seja no executivo como no judiciário. Pelotas conta apenas com um vereador negro. 

 Como motivo de esperança, Fábio apontava a existência de um ambiente mais favorável para as demandas da comunidade negra. Há novas oportunidades para que seus movimentos se expressem em público, como a participação em programas como esse da R.U na sexta-feira santa. Acrescento como motivo de esperança o empenho de entidades como o Centro de Referência em Direitos humanos da UCPel.  A entrevista encerrou com uma música reggae de Edson Gomes, autor baiano, numa linha musical de conscientização, intitulada: “Acorde, levante e lute”.

Pense nisso, enquanto nos unimos à luta pelos justos direitos de grupos que ainda hoje sofrem discriminação em nossa cidade.

P. Martinho Lenz, SJ
Capelão da UCPel


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