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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
05.08.2015 | 19:48 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
A Encíclica Laudato Si e sua contribuição para a Igreja e Sociedade. 

A Capelania nesta semana aborda a nova Encíclica do Papa Francisco Laudato Si. Oportunizamos a leitura de um artigo e duas entrevistas. Primeiramente com o título: “Louvada seja a criação. Examinando uma encíclica vivificante”, oferecemos um copilado de comentários de professores de várias áreas sobre a encíclica, entre eles de Agnes M Brazal que leciona na St. Vincent School of Theology – Adamson University, nas Filipinas, segundo ela “Para sustentar este compromisso como ‘cidadãos ecológicos’ é, pois, preciso uma espiritualidade que inspira, estimula e proporciona um sentido ulterior para nossos atos pessoais e comunitários”. 

Posteriormente disponibilizamos uma entrevista com Carlos Rittl, coordenador do Observatório do Clima. Para ele “O Papa acaba por ocupar um vácuo de liderança política nesta agenda, com seu apelo moral sobre meio ambiente e a forma como tratamos o nosso planeta, a ‘nossa casa’”. Neste texto percebe-se o diálogo oportunizado por Francisco com uma mensagem não apenas para os católicos, mas a todos os povos. 

Na última entrevista com André Wénin, exegeta belga, sobre “As convergências entre a Bíblia, a Laudato Si e o tempo presente” o teólogo afirma que o texto bíblico e da encíclica confluem no sentido de instigar a sociedade a analisar sua relação com o meio ambiente e assumir seu papel na tarefa da preservação da “casa comum”. 

Os artigos também provocam a reflexão sobre o diálogo fé e ciência. 

Boa leitura. 



Louvada seja a criação. Examinando uma encíclica vivificante


Em 18 de junho, o Papa Francisco publicou a sua tão esperada encíclica sobre o meio ambiente Laudato Si’, que começa com um verso do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. A revista America pediu a vários especialistas que respondessem a este documento histórico. Trechos de suas respostas estão abaixo.
Os artigos são de Kevin Ahern, Drew Christiansen, Daniel P. Scheid, Agnes M. Brazal, Daniel P. Horan e Elizabeth Pyne, publicados na revista America, volume 213, nº 2, edição de 20 a 27-07-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis os artigos.

Sigamos as notas de rodapé
Além da utilização de uma linguagem inclusiva de gênero – a primeira nas encíclicas sociais católicas –, um dos aspectos mais surpreendentes de Laudato Si’ são as notas de rodapé. Francisco se afasta da tradição das encíclicas sociais católicas ao citar várias fontes não católicas oficiais, tais como documentos da ONU, as conferências episcopais nacionais e, de modo mais surpreendente, um místico sufi!

Agora, embora possa parecer um tanto pedante para a maioria dos leitores, as notas de rodapé no ensino papal têm funcionado como uma forma de alertar o leitor para a continuação de uma tradição. Por exemplo, a Caritas in Veritate, a encíclica social de 2009 do Papa Bento XVI, na maior parte faz referência aos ensinamentos sociais oficiais de outros papas. Esta tradição reflete uma teologia específica do papado que entende que o papa deva ser o professor principal da doutrina católica com uma rígida divisão dos papéis entre professor e aluno. Como tal, o papa nunca precisaria aprender de fontes “abaixo” dele. Isso também inclui as declarações emitidas pelas conferências nacionais dos bispos. Sob os pontificados de João Paulo II e Papa Bento XVI, as publicações sociais das conferências episcopais nacionais e dos sínodos foram percebidas como carecendo de competência para um ensino (magisterial) com autoridade. Em Evangelii Gaudium, o Papa Francisco abordou este ponto quando pediu pelo desenvolvimento do “estatuto das Conferências Episcopais” com “autêntica autoridade doutrinal” para melhor servir a missão da Igreja (n. 32).

Embora não tenha sido bem recebida por todos, Laudato Si’ afirma a autoridade destas estruturas regionais com 20 citações de declarações de 18 conferências episcopais nacionais e regionais. A seleção de documentos de várias regiões do mundo parece querer significar algo referente às preocupações expressas pelos bispos quanto aos problemas em jogo. Com efeito, ela construtivamente mostra como a promoção de uma ecologia integral não é apenas a preocupação do Papa Francisco. Embora sutil, é também um aceno para uma visão indutiva e mais descentralizada de Igreja, onde as declarações (os documentos) das conferências episcopais têm valor na formação do ensino social católico universal.

Por Kevin Ahern, especialista em ética teológica e professor assistente de Estudos Religiosos da Manhattan College, Bronx, Nova York

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Uma família cósmica
Esta encíclica oferece tanto soluções éticas como políticas para os males ambientais e as injustiças que o papa descreve. Porém, eu gostaria de salientar duas curas religiosas que ele oferece e que abordam o isolamento social como fonte de injustiça ambiental. Uma delas é teológica, a outra espiritual.

A visão teológica é a de uma família cósmica de criaturas do Deus uno. “[Todos] estamos unidos por laços invisíveis”, escreve Francisco, “e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde” (n. 89). É nessa visão vivida, como na fraternidade das criaturas de Deus (o Irmão Sol, a Irmã Lua) de São Francisco, onde podemos superar o afastamento uns dos outros, especialmente o afastamento dos ricos para com os pobres, e o distanciamento da humanidade para com o nosso lar terrestre.

Finalmente, o caminho à harmonia ambiental e social é encontrado por meio do cultivo de paz: a paz interior e a paz com a criação. Esta encíclica enxerga a degradação ambiental e a injustiça social como resultados de desequilíbrios dentro de nós mesmos, entre os seres humanos em geral e entre os seres humanos e o mundo natural.

A paz interior, escreve o Papa Francisco, “reflete-se num equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de admiração que leva à profundidade da vida. A natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa, ou do culto da notoriedade?” (n. 225).

Por Drew Christiansen, SJ, ex-editor-chefe da revista America, detém o título de Distinguished Professor of Ethics and Global Human Development, na Georgetown University. Christiansen assessorou os bispos dos EUA na elaboração de seu documento pastoral, de 1991, sobre o meio ambiente intitulado “Renewing the Earth”, e posteriormente organizou e supervisionou o programa de justiça ambiental da Conferência Episcopal americana.

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A comunhão da criação
De muitas maneiras, a muito aguardada encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ continua e desenvolve a tradição que São João Paulo II e o Papa Emérito Bento XVI estabeleceram, ainda que ela, de maneira significativa, marca também uma direção audaz e renovada do ensino social católico sobre ecologia. Como temos visto em outras áreas com este papa, há também uma mudança de tom e um movimento em direção a uma visão que muitos ecoteólogos católicos vêm articulando há vários anos. Mais do que os documentos papais anteriores, Laudato Si’ rejeita fervorosamente o antropocentrismo (n. 67), sublinha “um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza” (n. 91) e comemora com entusiasmo a bondade da criação e de cada criatura, amada em seu próprio direito por Deus.

O texto começa com São Francisco de Assis e seu famoso Cântico das Criaturas, em que a Terra – “a nossa casa comum” – não é simplesmente um recurso, mas “uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços” (n. 1). Toda criatura, insiste Francisco, “é objeto da ternura”, e até mesmo “a vida efêmera do ser mais insignificante é objeto do seu amor” (n. 77). Os seres humanos são chamados a refletir esse amor, a “amar e aceitar o vento, o sol ou as nuvens, embora não se submetam ao nosso controle”. De fato, Francisco diz mesmo que “podemos falar duma fraternidade universal” (n. 228).

Enquanto São João Paulo II e o Papa Bento XVI afirmam o valor intrínseco de criaturas não humanas e nos exortam a respeitar a gramática de criação, o Papa Francisco incorpora a bondade do cosmo ao núcleo de uma abordagem católica à ecologia (n. 236). A reverência pela criação permite a admiração e o encanto (n. 11) para penetrar em nossos corações e nos chamar a uma “comunhão universal” (n. 76), ao parentesco com todas as criaturas, a um sentido de pertença e de enraizamento (n. 151) e à alegria no cosmo. Afinal, o objetivo final de uma encíclica sobre a ecologia não é apenas as economias sustentáveis e uma ação internacional imediata para com as alterações climáticas, mas também o louvor e adoração ao Criador (n. 87).

Por Daniel P. Scheid, professor assistente de Teologia na Duquesne University. O seu próximo livro, intitulado “The Cosmic Common Good: Religious Grounds for Ecological Ethics (Oxford)”, explora os princípios ecologicamente orientados do pensamento social católico no diálogo com outras tradições religiosas.

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A visão a partir do sul global
Vinda de um arquipélago frágil, onde a subida do nível do mar é a mais alta do mundo e onde os eventos climáticos extremos estão previstos para aumentar ainda mais neste século, fico preocupada com o nosso futuro e, fervorosamente, peço que o apelo do Papa Francisco seja atendido. Esta encíclica sublinha que todos podem fazer algo pela nossa casa comum. Em resposta a este apelo, cada diocese da Igreja, nas Filipinas, em colaboração com outras religiões e organizações da sociedade civil, pode planejar atividades de educação e mobilização das comunidades no sentido de proteger o meio ambiente, os recursos e as espécies ameaçadas na região. Isso, sem dúvida, irá deixar um rastro de mártires ecológicos. A Global Witness relata que cerca de 1 mil ativistas ambientais que se opuseram à mineração, ao desmatamento, etc., em todo o mundo foram mortos entre 2002 e 2013, com os números subindo em 20% em 2014, como um sinal de que estamos em meio a uma crise ambiental global.

Para sustentar este compromisso como “cidadãos ecológicos” é, pois, preciso uma espiritualidade que inspira, estimula e proporciona um sentido ulterior para os nossos atos pessoais e comunitários. Embora Laudato Si’ fale explicitamente de espiritualidade somente no último capítulo, esta encíclica como um todo trata de uma ecoespiritualidade integradora baseada numa ecologia integral que relaciona trabalho e desenvolvimento tecnológico e social com o cuidado da criação e da diversidade das formas de vida e culturas, assim como relaciona-os com uma preocupação especial para com os pobres e vulneráveis. O papa constrói a ideia de que esta espiritualidade encontra sua fonte profunda no evangelho da criação, na comunhão trinitária e no mundo como sacramento desta comunhão.

Por Agnes M. Brazal, que leciona na St. Vincent School of Theology-Adamson University, nas Filipinas.

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O caráter franciscano de 'Laudato Si'
O Papa Francisco claramente “capta” tanto a escrita quanto o espírito da tradição teológica e espiritual franciscana. Uma das dimensões mais marcantes, e aparentemente mais polêmicas, de Laudato Si’ é a conexão explícita que o Papa Francisco faz entre pobreza abjeta e degradação ambiental. A verdade é que esta não é uma ideia nova, mas remonta tão distante no tempo como a Francisco de Assis, se não antes. Já de início o Papa Francisco escreve que “a pobreza e a austeridade de São Francisco não eram simplesmente um ascetismo exterior, mas algo de mais radical: uma renúncia a fazer da realidade um mero objeto de uso e domínio” (n. 11). Esta declaração aponta para o centro do abraço da pobreza evangélica de São Francisco como um meio para aprofundar a solidariedade. O que o santo de Assis reconheceu em sua época era que não somente coisas, mas também as mulheres e os homens começaram a ser valorizados em termos financeiros. O valor de alguém vinha a ser determinado pela quantidade de dinheiro de que dispunha, e não pelo valor inerente decorrente do fato de ter sido amorosamente criado por Deus.

O Papa Francisco chama a atenção para a inter-relação entre a realidade das mudanças climáticas globais (em grande parte causada pelos ricos e poderosos do nosso tempo) e os pobres que sofrem os efeitos devastadores de forma desproporcional. A categoria de “os marginalizados” se estende para além da espécie humana para incluir o nosso próprio planeta. Como Papa Francisco diz: “Entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada” (n. 2).

Para Francisco de Assis, uma mudança radical no estilo de vida era obrigatória para se autenticamente seguir o Evangelho. Abraçar a pobreza evangélica como uma forma de protesto contra as injustiças sociais e como um meio para se aproximar da solidariedade levou-o a estar entre os pobres e marginalizados de seus dias.

Por Daniel P. Horan, OFM, autor de vários livros, incluindo “The Franciscan Heart of Thomas Merton”. Atualmente, Horan está escrevendo sua tese doutoral intitulada “Imagining Planetarity: Toward a Postcolonial Franciscan Theology of Creation”.

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A diversidade da vida criada
Embora Laudato Si’ reafirma o ensinamento católico contra o controle artificial da natalidade e do aborto, o único comentário específico sobre gênero ou identidade sexual é breve e um tanto estranho, colocado no final da seção sobre a “ecologia da vida cotidiana”. Na sequência de um tratamento mais substancial do planejamento urbano e das realidades enfrentadas pelos pobres vem uma reflexão sobre a interação do corpo com seu ambiente como uma faceta da “ecologia humana”. E então vem isto: “Também é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente. Assim, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente” (n. 155).

Como devemos ler esta afirmação um tanto ampla sobre identidade de gênero e interação? Francisco termina o parágrafo com uma pista, citando a sua Audiência Geral de 15 de abril deste ano: “Não é salutar um comportamento que pretenda ‘cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela’” (n. 155). Nesse discurso, Francisco criticou a teoria de gênero quando apresentou “a diferença e a complementaridade entre homem e mulher” como base para a reflexão sobre o sacramento do matrimônio dentro “da beleza do plano do Criador”. Por isso, seria um erro ver as sementes de qualquer mudança radical do ensino magisterial sobre gênero e sexualidade no texto de Francisco. Uma declaração geral baseada no direito natural em favor do essencialismo de gênero não é de surpreender.No entanto, a interpretação deve atender a silêncios específicos ou, neste caso, a uma relativa calmaria sobre a sexualidade contra a demanda retumbante por justiça econômica e ecológica, cultivada nos níveis pessoal e político. Num certo sentido, portanto, as cartas foram tiradas, mas os jogadores ainda não as acrescentaram ao seu conjunto. Dentro do desenvolvimento do ensino papal a respeito da “ecologia integral”, este pode ser uma jogada, um movimento notável.

Por Elizabeth Pyne, doutoranda em Teologia na Universidade de Fordham, Bronx, Nova York.



'Laudato Si': a novidade que provoca e agita a agenda ambiental. Entrevista especial com Carlos Rittl


"Deveríamos seguir o conselho do Papa e discutir de forma muito objetiva como podemos cuidar da Amazônia e de nossos recursos naturais para nosso próprio benefício. Mas estamos, como país, muito longe disso. O Governo não tem políticas para a região, exceto os seus grandes planos de infraestrutura, investimentos em agropecuária, nada em bases sustentáveis", alerta o biólogo. 
Se todos vivemos numa só casa, o Planeta Terra, todos temos de cuidar dele e adotar medidas que garantam a saúde desse lugar e a nossa própria. A frase anterior diz o óbvio, mas por que na prática não é isso que acontece? A preservação do planeta é tema de agenda das discussões internacionais, mas líderes políticos parecem não sair do retórico para pôr em prática o que de fato se precisa fazer para, por exemplo, reduzir a emissão de gases.

Essa falta de ação deixa um vácuo que para o coordenador do Observatório do Clima, Carlos Rittl, é muito bem ocupado pelo Papa Francisco através da Carta Encíclica Laudato Si’. “O Papa acaba por ocupar um vácuo de liderança política nesta agenda, com seu apelo moral sobre meio ambiente e a forma como tratamos o nosso planeta, a ‘nossa casa’”, destaca em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Para Rittl, um dos grandes legados do documento é ter como “mensagem central uma frase repetida algumas vezes no texto: ‘tudo está conectado’”. Tal frase suscita o conceito de bem comum. Pensar que todos somos parte de um mesmo todo põe em perspectiva a conexão que transcende as áreas de conhecimento, países e mesmo formas de vida. “Não é possível falar em proteção ambiental sem que esta envolva também a proteção ao ser humano, em especial os mais pobres e vulneráveis”, completa.

Como integrante do grupo de pesquisadores do Observatório do Clima, Rittl observa como as provocações da Encíclica devem ecoar diante da agenda política internacional sobre a emissão de gases. Para ele, há uma urgência que foi revelada na Laudato Si’ e chama a todos — chefes de estado em especial — à responsabilidade. Tendo em horizonte a COP 21, em Paris, se faz urgente um resultado do encontro que vá para além dos inócuos acordos e cooperações. “A geração atual de governantes tem à sua disposição mais argumentos do que nenhuma outra antes para agir com responsabilidade e à altura da emergência climática”. Ao longo da entrevista, Rittl também analisa a postura brasileira diante do tema. Como outros países, opera numa nebulosa lógica de discussão sobre questões ambientais. “É chegada a hora de colocar compromissos consistentes na mesa, para um acordo com compromissos mandatórios para todos os países”, dispara.

Carlos Rittl é mestre e doutor em Biologia Tropical e Recursos Naturais. Foi coordenador do Greenpeace Brasil, como coordenador da Campanha de Clima, e do WWF-Brasil, como coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia. Atualmente é coordenador executivo do Observatório do Clima.

Confira a entrevista.
IHU On-Line - De que maneira o senhor avalia a Encíclica Laudato Si’ em termos científicos? Como o documento encaminha o debate da questão do meio ambiente?
Carlos Rittl - A Encíclica Laudato Si' é, em geral, bastante precisa quando se refere ao conhecimento científico e quando o associa aos desafios ambientais e climáticos de nosso tempo. Creio que a comunidade científica tenha recebido muito bem o documento. Em alguns casos, há até um excesso de cuidado — como o fazem, também, em geral, os cientistas. É o caso do parágrafo 23, do Capítulo I, "O que está acontecendo com nossa casa", que afirma que "a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros) emitidos, sobretudo, por causa da atividade humana". De fato, todo o aquecimento global observado hoje se deve às emissões de gases de efeito estufa decorrentes de atividades humanas.
Entretanto, de modo geral, a Encíclica descreve de forma muito clara a emergência pela qual passamos. E vincula a degradação ambiental presente aos padrões de produção e consumo e à própria cultura que molda a convivência humana. De forma muito apropriada, aponta as causas da degradação ambiental e do aquecimento global, suas consequências, e também aponta soluções, em uma mensagem não apenas aos católicos, mas a todos os povos.

IHU On-Line - Como o senhor avalia a perspectiva ecológica adotada na Encíclica?
Carlos Rittl - A mensagem central da Encíclica é uma frase repetida algumas vezes no texto: “tudo está conectado”. O ser humano não está dissociado da Terra ou da natureza, eles são partes de um mesmo todo. Portanto, destruir a natureza equivale a destruir o homem. Não é possível falar em proteção ambiental sem que esta envolva também a proteção ao ser humano, em especial os mais pobres e vulneráveis.

A chamada Ecologia Integral, que sustenta toda a construção da Encíclica, tanto do ponto de vista da argumentação religiosa quanto de prescrições políticas — vide críticas a cúpulas mundiais sobre meio ambiente, que “não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes” (LS 166) — , é um excelente caminho para a análise das causas das crises ambiental e climática, e para apontar soluções. É preciso conectar aspectos sociais, ambientais, econômicos, culturais, comportamentais, e mesmo religiosos, em se tratando de uma encíclica papal, para um bom diagnóstico de todas as crises, e para prescrever caminhos para superá-las.

IHU On-Line - Politicamente, o que a 'Laudato Si' representa para a luta pelo meio ambiente?
Carlos Rittl - A Laudato Si’ tornou o Papa Francisco um ator muito importante no diálogo mundial sobre mudanças climáticas e sobre meio ambiente. O Papa acaba por ocupar, com a Encíclica, um vácuo de liderança política nesta agenda, com seu apelo moral sobre meio ambiente e a forma como tratamos o nosso planeta, a "nossa casa". E o fez de forma nunca antes vista na história da Igreja Católica.

A Encíclica e as reações positivas até mesmo de representantes de outras religiões, como evangélicos, judeus, representantes do islã, entre outros, ajudam a “capilarizar”, a popularizar o tema junto a uma massa de bilhões de pessoas. Isso aumenta a pressão sobre os governos e políticos, que precisam dar respostas às expectativas da população mundial. População essa que já enfrenta as consequências do aquecimento global e do uso irracional de recursos naturais. E a Carta traz mensagens a todos, ricos e pobres, países ricos e em desenvolvimento, governos, corporações, indivíduos, sobre seu papel no cuidado com o planeta.

IHU On-Line - De que forma analisa a recepção da Encíclica no Brasil?
Carlos Rittl - Nas reações públicas à Encíclica no Brasil, predominaram as análises positivas. As mensagens da Laudato Si’ foram muito bem recebidas. Por parte do Governo Brasileiro, as reações foram limitadas, mas positivas, como em breves menções elogiosas feitas pela Presidente Dilma Rousseff e pelo Ministro Patrus Ananias [1], quando do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-2016.

No entanto, ninguém ainda sabe se a proposta de compromissos do Brasil para o novo acordo global sobre mudanças climáticas irá ou não refletir o senso de emergência climática, muito claro no texto da Encíclica. Ou se seguirá o padrão de outros grandes países, que já registraram suas intenções de cortes de emissões de gases de efeito estufa junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) [2], sem a devida ambição.

Por ora, a demora no anúncio das metas de redução de emissões do Brasil para o período pós-2020 e os sinais que têm vindo em momentos como o da Declaração Conjunta Brasil-Estados Unidos sobre Mudança do Clima [3], publicada no último dia 30 de junho, são bastante preocupantes. Isso porque nenhuma grande ambição por parte do Brasil foi demonstrada.

IHU On-Line - As discussões suscitadas pela Encíclica podem refletir nos debates da Conferência das Partes – COP 21 [4]? De que maneira?
Carlos Rittl - Estamos às vésperas de grandes decisões que irão moldar os caminhos para o desenvolvimento(sustentável ou não) das nações ao longo de muitas décadas. E, ao mesmo tempo, definirão a trajetória de sucesso ou fracasso de todos no enfrentamento de alguns dos maiores desafios da humanidade, como em relação às mudanças climáticas. Laudato Si’ foi publicada neste ano de 2015 não por acaso. O Papa o fez intencionalmente, tendo em conta não apenas a urgência na mudança de padrões de produção e consumo planetários, mas também marcos decisivos na agenda global, como será a COP 21.

A Encíclica é um dos fatos novos mais relevantes do ano na agenda de mudanças climáticas. Na mais recente rodada de negociações da UNFCCC, realizada em Bonn, Alemanha, pouco antes da publicação da Encíclica, a Secretária Executiva da Convenção, Sra. Christiana Figueres [5], afirmou esperar um grande impacto das mensagens do Papa, em sua Carta ao mundo, nas negociações internacionais. Nós do Observatório do Clima [6] também esperamos por isso. Inclusive no que se refere ao papel do Brasil e sua responsabilidade nas negociações internacionais da UNFCCC, sobre cuja ambição ainda não temos indicações muito claras.

IHU On-Line - A partir dos movimentos preparatórios para a COP 21, acredita que haverá avanços na elaboração e implantação de ações para a redução das mudanças climáticas no mundo? É possível fazer um prognóstico do comprometimento dos países com essa questão?
Carlos Rittl - A geração atual de governantes têm à sua disposição mais argumentos do que nenhuma outra antes para agir com responsabilidade e à altura da emergência climática. A ciência, além de indicar as causas, impactos presentes e potenciais impactos futuros, indica, também, soluções. Por exemplo, reduzir emissões e como se preparar para a adaptação às mudanças climáticas, que medidas serão necessárias.

A população mundial tem-se mobilizado cada vez mais e cobrado dos governos que priorizem as soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas em suas agendas de desenvolvimento, políticas, planos e investimentos. As perdas econômicas diante de desastres naturais vinculados a um clima mais extremo já atingiram a escala das centenas de bilhões de dólares apenas nos últimos anos. E mais e mais estudos indicam que o enfrentamento do problema, do desafio das mudanças climáticas e da necessidade de se reduzir emissões traz benefícios significativos para a economia.

Já tínhamos, também, argumentos morais para a ação. A cada ano, centenas de milhões de pessoas são afetadas por ano pelos desastres naturais decorrentes de um clima mais hostil e milhares e milhares de pessoas perdem suas vidas com o aquecimento global já observado hoje. O apelo moral do Papa Francisco agrega muita força aos argumentos que cobram decisões adequadas dos Governos.

Haverá um acordo em Paris, não tenho dúvidas disso. Este acordo talvez não seja o suficiente em termos do conjunto dos compromissos dos países para redução de suas emissões. Mas, como estamos tratando de um acordo que passa a vigorar a partir de 2020, é importantíssimo que a pressão de todos pavimente o caminho para o aumento de ambição necessária ao longo do tempo, entre agora e 2020. Isso para que possamos entrar na próxima década em um caminho climático mais seguro para todos.

IHU On-Line - Como se dá a participação do Brasil nas discussões em torno da COP 21? Como o país tem se posicionado?
Carlos Rittl - O Brasil tem sido historicamente um país muito importante nas negociações da UNFCCC. Possui negociadores muito bem preparados. Sempre se notabilizou por apresentar propostas inovadoras, como no caso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) [7]. No ano passado, trouxe à mesa de negociação novas ideias. Uma delas é a da flexibilização da diferenciação entre países para a definição de seus compromissos no âmbito do novo acordo de clima. E ainda a do reconhecimento do valor social da redução de emissões de gases de efeito estufa feita a partir de ações antecipadas (cumprimento de metas antes dos prazos) ou de superação de metas de redução de emissões, para transformá-la em uma espécie de moeda do clima. Em outros momentos, assumimos compromissos quando não tínhamos a obrigação. Como quando o ex-presidente Lula anunciou as metas do Brasil de desvio de tendência de suas emissões até 2020, em Copenhagen, na COP15, em 2009.

Mas agora em que é chegada a hora de colocar compromissos consistentes na mesa, para um acordo com compromissos mandatórios para todos os países, o Brasil tem olhado apenas para trás dizendo que já fez muito. Fizemos mais que outros países, inclusive desenvolvidos, quando se trata de redução de emissões nos últimos 10 anos. Isso é inquestionável. Mas o que fizemos não é suficiente para nos desobrigar de mais esforços daqui por diante.

O Brasil tem que fazer a sua parte, assumir um compromisso de reduzir suas emissões de gases de forma incisiva a partir de 2020. Para nós, do Observatório do Clima, um compromisso adequado para o Brasil seria limitar suas emissões a menos de 1 bilhão de toneladas de CO2e (métrica que permite comparar o potencial de aquecimento global das emissões de todos os gases com base no CO2, o dióxido de carbono) em 2030. Hoje, as emissões brasileiras giram em torno de 1,5 bilhão de toneladas de CO2e por ano. O compromisso que propomos para o Brasil é compatível com nossa responsabilidade, capacidade e com a necessidade de limitar o aquecimento global a, no máximo, 2°C em relação a níveis pré-industriais.

IHU On-Line – Como o senhor avalia as políticas de incentivo ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia no Brasil?
Carlos Rittl - O Brasil não tem uma política clara voltada para energias renováveis modernas, como a energia eólica, a da biomassa, a solar, a termossolar e nem mesmo para biocombustíveis. O setor de biocombustíveis no Brasil passou por momentos de muita incerteza nos últimos anos. Muitas usinas de processamento de cana-de-açúcar fecharam, milhares de trabalhadores foram demitidos, entre outros pela manutenção dos preços da gasolina em níveis muito baixos, de forma artificial.

O consumidor pagava mais caro para se deslocar em seu veículo movido a etanol do que a gasolina, acabava optando pela segunda. Apesar de ajustes recentes nos preços da gasolina, ainda não há clareza sobre como o papel dos biocombustíveis para a matriz de transporte do Brasil — e deveria ser uma opção não apenas para o transporte individual, mas para o transporte público também.

Em relação à energia elétrica, temos alguns instrumentos de políticas, como os leilões de energia, que acabam por contratar energia nova a ser gerada a partir dos ventos, do sol e da biomassa de cana-de-açúcar. Mas não há uma política clara, com metas para a ampliação da geração de qualquer uma destas fontes, e nem temos um direcionamento de outras políticas (industrial, tributária, de ciência e tecnologia) para o fomento às mesmas.

Leilões recentes bem sucedidos mostram enorme apetite por aquelas fontes de energia por parte de investidores. Mas muitas vezes o Governo oferece mais incentivos a outras opções, como os combustíveis fósseis [8] e grandes hidrelétricas. Enquanto se espera que o Brasil tenha algo em torno de 3 GW (2% do que deverá ser a matriz brasileira) de energia solar em 2023 ou 2024, outros países (Estados Unidos, China, Índia, Alemanha e até a Arábia Saudita) avançam muito mais rápido no desenvolvimento desta fonte como opção energética. E também estruturam cadeias produtivas, geram empregos, com impactos positivos para suas economias.

IHU On-Line - Tornar as fontes de energia limpa mais acessíveis à população seria um caminho para diminuir o problema do aquecimento global? Como promover esse acesso?
Carlos Rittl - Acesso à energia de fontes limpas é um dos caminhos, sim. A maior parte das emissões mundiais de gases de efeito estufa vem do setor de energia. A energia termossolar já é uma alternativa de baixo custo para substituir os chuveiros elétricos durante boa parte do ano em diversas regiões do país. Mas carece de políticas para ampliação de sua adoção, em especial em novas edificações. As chamadas mini e microgeração de energia distribuída são, já, opção de geração de energia em escala em muitos países, em especial a partir de energia solar fotovoltaica. No Brasil, temos poucos incentivos e os custos para uma família colocar painéis solares em sua residência são altos. Só se pagam após anos de instalação dos mesmos, e pela economia nas contas de energia.

Em outros países, há formas inteligentes de promover a expansão desta fonte. Um cidadão dos Estados Unidos interessado vai, por exemplo, a uma loja de materiais de construção e encontra ali um balcão de uma empresa que comercializa energia solar. Sem que ele desembolse um centavo, a empresa desenvolve um projeto customizado, calcula o potencial de geração de energia em sua residência e o investimento se paga sozinho. O indivíduo entra com a cessão de seu telhado para a instalação dos painéis, a empresa os instala, e a venda de energia excedente paga os custos que o dono do imóvel teria para instalar os equipamentos.

No Brasil, se você quiser instalar painéis solares em sua residência, não poderá comercializar a energia, mesmo que o que você produza seja mais do que o que você consome. Apenas pode abater o excedente momentâneo de futuras contas de energia. Ainda não há, também, políticas para que esta seja uma fonte para gerar energia sem custo, ou a um custo baixíssimo, para população de baixa renda. Só recentemente algumas medidas de redução de carga tributária sobre energia solar foram tomadas para incentivar esta fonte no país. Medidas neste sentido são muito importantes para tornar esta fonte de energia uma opção adotada em escala no país. Mas precisam estar associadas a políticas claras, o que nos falta hoje.

IHU On-Line – Como a agenda ambiental brasileira equaciona a relação entre desenvolvimento econômico, cuidado com o meio ambiente e implantação de políticas para redução da emissão de gases?
Carlos Rittl - Em 2012, fomos anfitriões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, 20 anos depois da chamada Cúpula da Terra, a conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro que gerou marcos da governança ambiental e desenvolvimento global, como as Convenções sobre mudanças climáticas, biodiversidade e combate à desertificação. A Conferência de três anos atrás, que deveria servir para consolidar no país um caminho de desenvolvimento efetivamente sustentável, trouxe pouquíssimos avanços para direcionar a agenda de desenvolvimento do país para um caminho de sustentabilidade. Muito pelo contrário, estamos em fase de grandes retrocessos.

Reduzimos a proteção ambiental, tornamos a legislação ambiental mais fraca e a cada dia vemos a governança socioambiental do país mais ameaçada, com propostas como redução de áreas protegidas, a não criação de novas áreas, a de emenda à Constituição Federal para a transferência de poder de criação de novas unidades de conservação e de reconhecimento e homologação de terras indígenas do Poder Executivo para o Congresso Nacional. E, no ano de 2013, o Brasil teve um crescimento de quase 8% em suas emissões de gases de efeito estufa sem quase nenhum crescimento econômico.

Por ora, todos os grandes planos de desenvolvimento do país priorizam um desenvolvimento que não considera as mudanças climáticas como componente estratégico, seja do ponto de vista dos riscos (climáticos e ambientais), seja sob a perspectiva das oportunidades. Achamos que já fizemos muito. E nos esquecemos de olhar para que acontece já hoje, a olhos vistos, nossa vulnerabilidade às mudanças climáticas.

Dados da Universidade Federal de Santa Catarina mostram que entre 1991 e 2012, 127 milhões de brasileiros foram afetados por desastres naturais (estiagens, secas, tempestades, enchentes, deslizamentos de terra, tornados, etc.) e que estes ocorreram em intensidade 40% superior na segunda metade daquele período em relação à primeira.

Passamos agora pela pior crise hídrica em décadas no Sudeste do país, a pior seca em décadas no Nordeste e uma grande enchente no Norte do país. Entre janeiro e junho, a Defesa Civil registrou 1.068 municípios brasileiros em situação de emergência e calamidade pública devido a desastres naturais. Mas mudanças climáticas ainda são tratadas como tema de terceira importância quando o assunto é desenvolvimento do país.

IHU On-Line - Na Laudato Si’, o Papa Francisco questiona a internacionalização de territórios com grande biodiversidade e de interesse comum, como a Amazônia, para que que não fiquem à mercê de interesses “tecnoeconômicos”. Como o senhor avalia essa discussão? Em que implicaria a internacionalização da Amazônia no contexto de preservação ambiental e politicamente para o Brasil?
Carlos Rittl - Não há, hoje, no mundo, nenhum movimento consistente que busque promover o debate sobre internacionalização da Amazônia. Mas há muitos interesses econômicos sobre os recursos naturais da Amazônia e de outras regiões que são muito importantes para todo o planeta, como a bacia do Congo, ambas citadas na Encíclica. Assim, penso que o Papa Francisco, ao referir-se a estas regiões na Laudato Si’, chame a atenção para a necessidade de conservá-las, sim, em benefício de toda a humanidade. Mas deixando claro que este é “um dever próprio e não delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais” (LS 38) dos países que se localizam naquelas regiões.

Mais importante do que discutir uma hipotética internacionalização da Amazônia e seus efeitos, é avaliar a forma como tratamos a região, seus recursos e sua população. Reduzimos o desmatamento na Amazônia nos últimos 10 anos, o que foi importante. Mas nos acomodamos, como se tudo estivesse resolvido, mesmo perdendo algo em torno de 5 mil quilômetros quadrados por ano de florestas nativas naquela região. O desmatamento cresceu em 2013, caiu um pouco em 2014, e tudo indica que voltará a subir agora em 2015 na região. Os dados mais recentes indicam um grau acelerado de destruição e degradação florestal ocorrendo agora na floresta Amazônica.

Amazônia e o verdadeiro desenvolvimento

O país ainda não conseguiu olhar para a região e enxergar ali uma base importantíssima para seu desenvolvimento, não no modelo atual, que coloca a floresta como obstáculo a ser derrubado, e sim na importância de sua biodiversidade e seus ecossistemas para o país, para o equilíbrio do clima, dos regimes hídricos, para a economia do futuro, com base em biotecnologia. Desmatamento enriquece poucos, mas empobrece muitos, em especial os que dependem da floresta conservada para sua subsistência. E o desmatamento está associado à violência contra os povos da floresta, contra as comunidades locais e suas lideranças, agrava as desigualdades locais.

Deveríamos seguir o conselho do Papa e discutir de forma muito objetiva como podemos cuidar da Amazônia e de nossos recursos naturais para nosso próprio benefício. Mas estamos, como país, muito longe disso. O Governo não tem políticas para a região, exceto os seus grandes planos de infraestrutura, investimentos em agropecuária, nada em bases sustentáveis.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado?
Carlos Rittl - O Governo Brasileiro irá muito em breve definir compromissos para o novo acordo de clima, a ser fechado na COP21, no final do ano. Estes compromissos serão determinantes para os rumos da economia do país nas próximas décadas, para definir como o Brasil se insere de forma estratégica na economia global de baixo carbono. Um compromisso ambicioso do Governo Brasileiro irá ajudar a consolidar um acordo mais ambicioso para fazer frente ao enorme desafio das mudanças climáticas. É muito importante que todos se engajem no debate sobre mudanças climáticas para que a decisão do Governo seja proporcional a este clima mais hostil que já afeta a nossa qualidade de vida, em todas as regiões do país.

Por Leslie Chaves e João Vitor Santos
Notas:
[1] Patrus Ananias de Sousa (1952): advogado e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Desde janeiro de 2015 é ministro do Desenvolvimento Agrário. (Nota da IHU On-Line)
[2] Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima: também conhecida como UNFCCC (do original em inglês United Nations Framework Convention on Climate Change) ou Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas – CQNUAC, é um tratado internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - CNUMAD, informalmente conhecida como a Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Este tratado foi firmado por quase todos os países do mundo e tem como objetivo a estabilização da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera em níveis tais que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. (Nota da IHU On-Line)
[3] Declaração Conjunta Brasil-Estados Unidos sobre Mudança do Clima: acordo internacional firmado entre Brasil e Estados Unidos em 2015. O Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal de florestas. O documento informa que o Brasil pretende restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. (Nota da IHU On-Line)
[4] COP 21: a COP é a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. É a autoridade máxima para a tomada de decisões sobre os esforços para controlar a emissão dos gases do efeito estufa. Em 2015, a COP tem sua 21ª edição, a ser realizada em Paris, França, em dezembro. O objetivo é revisar o comprometimento dos países, analisar os inventários de emissões e discutir novas descobertas científicas sobre o tema. Foi criada na ECO-92 e teve sua primeira edição em 1995, em Berlim, na Alemanha. Desde então, ocorre anualmente. (Nota da IHU On-Line)
[5] Karen Christiana Figueres Olsen (1956): diplomata costarriquenha, nomeada Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) em 2010, sucedendo Yvo de Boer. Figueres tinha sido membro da Costa Rica na equipe de negociação desde 1995, envolvida tanto na UNFCCC como na construção do Protocolo de Quioto. Ela tem contribuído para a concepção de instrumentos-chave de mudanças climáticas, e é um promotor principal da participação ativa da América Latina na Convenção. (Nota da IHU On-Line)
[6] Observatório do Clima: rede que reúne entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro. Promove encontros com especialistas na área, além de articular os atores sociais para que o governo brasileiro assuma compromissos e crie políticas públicas efetivas em favor da mitigação e da adaptação do Brasil em relação à mudança do clima. (Nota da IHU On-Line)
[7] Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL: é um dos mecanismos de flexibilização criados pelo Protocolo de Kyoto para auxiliar o processo de redução de emissões de gases do efeito estufa ou de captura de carbono (ou sequestro de carbono) por parte dos países do Anexo I. (Nota da IHU On-Line)
[8] Recentemente, o Governo resolveu ressuscitar o carvão mineral e contratou em leilão dois novos projetos de geração termelétrica a partir desta fonte, oferecendo grandes incentivos para tornar o preço de contratação, nos leilões, competitivo. (Nota da entrevistada)



As convergências entre a Bíblia, a Laudato Si’ e o tempo presente. Entrevista especial com André Wénin

"No livro do Gênesis não estamos longe dos fundamentos da Ecologia Integral. Porém o que diz o Gênesis em sua linguagem mítica não é primeiramente uma afirmação teológica, trata-se de uma verdade de experiência", comenta o  exegeta belga.

As representações presentes na Bíblia oferecem múltiplas compreensões e relações possíveis. É importante considerar que, apesar de se configurar como uma interessante chave de leitura para compreensão do mundo hoje, há uma passagem específica da história impressa nessas Escrituras.

Conforme ressalta o teólogo André Wénin em entrevista por e-mail para a IHU On-Line, a Bíblia serve de embasamento para muitas das discussões abordadas na Laudato Si’.

“Nesta Encíclica, Gênesis 1-3 é um texto claramente muito explorado, junto com outras páginas bíblicas que são essencialmente do Antigo Testamento”, diz.

Sobre este diálogo, o biblista salienta que, ao interpretar o ambiente retratado em Gênesis, deve-se levar em conta que “a Bíblia testemunha sobre um mundo onde, na relação entre o homem e a natureza, esta prevalece”. Considerando esse contexto, a questão da dominação da natureza, que aparece nessa passagem, ganha outras nuances, como o respeito profundo a todos os seres, e a concepção da terra enquanto dádiva divina e herança da humanidade, e não posse. De acordo com Wénin, esse é um dos pontos que mais se aproximam dos princípios da Ecologia Integral desenvolvidos no texto da Laudato Si’.

O professor chama a atenção para o fato de que a Bíblia é um texto que chama o leitor a refletir, não oferecendo respostas prontas. “Sua contribuição consiste menos em dizer o que se deve pensar do que esclarecer o que está em jogo para levar os leitores a pensar sua própria realidade à luz de uma palavra de homens na qual a Tradição reconhece o eco da palavra do próprio Deus”, aponta. Nesse sentido, o texto bíblico e o da Encíclica confluem no intuito de instigar a sociedade a analisar sua relação com o meio ambiente e assumir seu papel na tarefa da preservação da “casa comum”.

André Wénin é graduado em filologia clássica, é biblista exegeta, teólogo, e doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Atualmente é professor da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, professor visitante em teologia bíblica na Universidade Gregoriana, em Roma, e secretário da Rede de Investigação em Análise Narrativa de Textos Bíblicos – RRENAB (Réseau de Recherche EN Analyse narrative des textes Bibliques).

Entre seus livros mais recentes estão Il bambino conteso. Storia biblica di due donne e un re (Lapislazzuli) (Bologna: Edizioni Dehoniane, 2014); Il re, il profeta e la donna. Testi scelti sui primi re d'Israele (Epifania della parola; 7) (Bologna: Edizioni Dehoniane, 2014); e Révéler les œuvres de Dieu. Lecture narrative du livre de Tobie (Le livre et le rouleau; 46) (Bruxelles: Lessius, 2014).

Entre as obras publicadas em português estão De Adão a Abraão ou as errâncias do humano - Leitura de Gênesis 1,1- 12,4 (São Paulo: Loyola, 2011); José ou a Invenção da Fraternidade - Leitura narrativa e antropológica de Gênesis 37-50 (São Paulo: Loyola, 2011); e O Homem bíblico: leituras do primeiro Testamento (São Paulo: Loyola, 2004).

Pelo Instituto Humanitas Unisinos -IHU, André Wénin publicou O feminino no Gênesis. A partir de Gn 2, 18-25, emCadernos Teologia Pública, no. 87 e A Fraternidade no Gênesis: dificuldades e possibilidades, em Cadernos Teologia Pública, no. 80.

Confira a entrevista.
IHU On-Line - O cristianismo já foi acusado de ter permitido a aplicação de um modelo de exploração da terra a partir das palavras do Gênesis. Mas o que significa “reinar sobre a terra” e "cultivar e guardar", ideias presentes neste livro?
André Wénin - A meu ver, a crítica feita ao cristianismo não é totalmente equivocada. A concepção da criação do modo como é desenvolvida no Gênesis supõe uma separação radical entre o criador e a criação (Gênesis 2, 1-3). O mundo assim separado de Deus é, então, profano. Não pode mais ser divinizado. E como, no mesmo texto, o ser humano é constituído senhor da terra, isso possibilita a dominação do mundo pela técnica. Isso até mesmo a legitima. Mas, na era industrial, as capacidades de domínio da terra pela humanidade desenvolveram-se muito, o que ocorreu primeiramente nas regiões cristianizadas. Dito isso, o cristianismo não é, enquanto tal, responsável pela deriva desse domínio, que foi se transformando aos poucos na exploração sem limites. O que explica isso é antes a atração do ganho, a cupidez, assim como a vontade de poder. Atitudes estas claramente contestadas na Bíblia.

Se retomarmos os textos do começo do Gênesis e se os lermos em seu contexto, percebemos um sentido bem mais nuançado. No Gênesis 1, 26 (projeto divino a respeito da humanidade) e 1, 28 (ordem dada aos humanos para dominar a terra, submetê-la dominando os animais), a tarefa confiada aos seres humanos é também uma responsabilidade. Mas as derivas possíveis dessa dominação são logo corrigidas pela última palavra pronunciada por Deus nesse texto. Em suas últimas palavras, o Criador dá aos viventes seu alimento (versículos 29-30). Dá aos humanos os cereais e os frutos, aos animais, os vegetais. Isso pode parecer anedótico, mas, ao contrário, é essencial. Porque, se os humanos devem dominar os animais, mas não se alimentarem da carne destes, significa que podem dominá-los sem matá-los, sem violentá-los. E, uma vez que os humanos e os animais não têm a mesma alimentação, não deverão lutar entre eles para poderem comer. Tem-se aí a imagem de uma relação “suave” com a criação, uma forma de exercer o domínio sobre o mundo que respeita profundamente o mundo e seus habitantes.

Quanto ao Gênesis 2, 15, o texto narra o modo como Deus põe o ser humano no jardim para que o “cultive e guarde”. Aqui, as palavras são importantes. O verbo traduzido por “cultivar” significa primeiramente “servir” e, por extensão,trabalhar, logo, cultivar (o solo). “Servir” à terra é também respeitá-la (como um servo respeita seu senhor), e certamente não explorá-la sem medida. Da mesma maneira, “guardar” significa “velar por”, e até mesmo “preocupar-se com”. Nada, portanto, visa a uma atitude conquistadora, puramente dominadora. Esboça-se até mesmo, nesse texto, uma dinâmica de aliança.

De fato, se os humanos “servirem” ao jardim com seu trabalho, o jardim os alimentará com seus frutos (Gênesis 2, 16); se guardarem o jardim e o cercarem de cuidados, este os protegerá (em hebraico, o termo jardim vem de um verbo que significa “proteger”). Se assim é, o bem do homem dependerá da maneira como ele tratará a terra que recebe como dádiva. Israel ouvirá repetir esta verdade: a terra que habitará deverá ser considerada sempre como uma dádiva, ou mesmo como uma “herança”, isto é, um bem recebido da geração anterior (e, em última instância, de Deus) e que a ele caberá transmitir à geração seguinte. Daí a consciência de que não se possui a terra: usufrui-se dela durante certo tempo, com a responsabilidade de cuidá-la para a geração seguinte. Não estamos longe dos fundamentos da Ecologia Integral, ao que me parece. Porém, no fundo, o que diz o Gênesis em sua linguagem mítica não é primeiramente uma afirmação teológica, trata-se de uma verdade de experiência.

IHU On-Line - Que outras passagens bíblicas citadas na Encíclica o senhor destaca e como entende a perspectiva de tais passagens?
André Wénin - Nesta Encíclica, Gênesis 1-3 é um texto claramente muito explorado, junto com outras páginas bíblicas que são essencialmente do Antigo Testamento. A leitura feita não é nova.

Na minha visão de biblista, surge uma questão quando leio essas páginas (n. 65-75): pode-se recorrer, para fundar uma teologia, a versículos desvinculados de seu contexto (literário, mas também histórico), dos quais se induz assim uma leitura imediatamente teológica? Isso é especialmente verdadeiro no caso do início do Gênesis, que, como todos os especialistas reconhecem, aproxima-se do mito. Faz-se como se a frase “o homem é criado à imagem e à semelhança de Deus” enunciasse uma verdade teológica que não viria de uma linguagem particular, de um gênero literário específico (mesmo se a teologia toma facilmente o mito por teologia, tendo ela mesma uma tendência a mitificar o real).

Se trouxermos de volta essa frase para dentro de seu contexto literário, é forçoso constatar isto. O Criador em cena no Gênesis 1 deseja que o ser humano (ou/e a humanidade) seja “à sua imagem e semelhança” (Gênesis, 1, 26). Mas ao criá-lo (versículos 27-28), ele o faz somente “à sua imagem”, sem que a semelhança seja dada. Esta é mais, como já disseram alguns padres da Igreja, uma tarefa que é da responsabilidade do ser humano: fazer com que se assemelhe à imagem do Deus criador, cuja última ação, nesse texto, é renunciar à onipotência, parando sua criação no sétimo dia. Se o ser humano deve assemelhar-se a Deus, é tanto limitando sua potência para dar lugar ao outro (humano, natureza) quanto exercendo esta força.

No que tange ao contexto histórico, é claro que o convite a dominar a natureza não significa a mesma coisa em nosso mundo que significa em uma sociedade essencialmente rural para a qual a natureza é uma ameaça permanente (seca, feras, etc.). Dominar a natureza circundante é uma necessidade vital em tal cultura, assim como o respeito à natureza é uma atitude óbvia. Acerca desse ponto, a Bíblia testemunha sobre um mundo onde, na relação entre o homem e a natureza, esta prevalece. É a fonte de sua sabedoria, como era o caso entre os índios das Américas, ou os camponeses europeus ainda no início do século passado. Fazer da Bíblia um representante dessa corrente universal de sabedoria não possibilitaria manifestar a pertinência universal de sua mensagem?

O capítulo 3 do Gênesis é também citado a respeito do pecado, que é recusa de reconhecer-se criatura limitada e vontade de tomar o lugar de Deus (Laudato Si’, n. 66). Tal afirmação me traz uma indagação. Ela introduz entre a criatura e Deus uma relação de oposição que eu não vejo no mito bíblico (Deus seria ilimitado e superior, o homem limitado e inferior). De fato, o personagem de Deus que o início do Gênesis encena é um ser que, longe de se pôr como ilimitado, assume voluntariamente um limite (Gênesis, 2, 1-3). E a vocação do ser humano, como eu disse, é precisamente a de tornar-se como Ele. De resto, a serpente do Gênesis 3 não propõe que a mulher tome o lugar de Deus! Ela propõe que a mulher realize a vocação humana de ser como Deus! O momento em que as coisas derrapam é quando a serpente propõe realizar isso recusando precisamente o limite que é bom porque leva à relação, à aliança; a serpente propõe tornar-se como Deus, “comendo”, isto é, apropriando-se em seu proveito exclusivo. Eis a perversão da serpente: ela propõe tornar-se como Deus, negando o limite, ao passo que Deus assume esse limite; ela propõe tornar-se como Deus tomando para si, enquanto Deus, desde o início da narrativa, é quem não cessa de dar... Ora, o que faz a ideologia do progresso ilimitado, justamente essa que é apontada pela Encíclica, senão adotar e pregar a lógica da serpente... Não se trata de pecado (no Gênesis 3, nenhum termo expressa pecado nem culpa...), mas, mais profundamente, de um erro com consequências desastrosas para todos.

IHU On-Line - Como fazer a conexão entre as grandes questões da humanidade candentes até hoje e os textos bíblicos?
André Wénin - A Bíblia — ou, pelo menos, o Antigo Testamento, que me é mais familiar — nada mais faz que levantar à sua maneira as questões essenciais da humanidade. Mas aquele que crê que ela dá respostas está enganado. Porque, na Bíblia, muito frequentemente, várias respostas coexistem; privilegiar uma única delas só pode empobrecer a riqueza da Palavra. A Bíblia é, neste sentido, um livro que mais convida a pensar do que dá a crer.

Como mostra a Encíclica quando se refere à Bíblia, esta levanta as questões da relação entre o homem e a terra e da diferença paradoxal entre o humano e o animal, mas também aquelas da violência individual e coletiva (a guerra), da palavra e de sua capacidade para alimentar as oposições e pacificar as relações. Ela fala do trabalho, da vestimenta, do alimento, que são realidades em que os humanos devem se relacionar com a natureza, mas podem escolher como fazê-lo. Ela fala da sexualidade (e de seus desvios), da propriedade, do poder e das maneiras de exercê-lo, etc. Sobre todas essas questões, sua contribuição consiste menos em dizer o que se deve pensar (como dá a entender certa maneira de citar a Escritura) do que esclarecer o que está em jogo para levar os leitores — a comunidade dos leitores, idealmente — a pensar sua própria realidade à luz de uma palavra de homens na qual a Tradição reconhece o eco da palavra do próprio Deus.

IHU On-Line - Como debater e trazer temas da Bíblia para a atualidade?
André Wénin - A atualidade impõe os temas que devem ser refletidos e debatidos. Se a Bíblia pode alimentar a reflexão ou o debate, tanto melhor. Se há um tema que o Antigo Testamento tratou frequentemente e com certa amplitude, mas que é pouco levantado hoje, esse tema é o bom uso da palavra. Vivemos em um mundo que se diz sociedade da informação. Não seria mais uma sociedade da manipulação da informação para fins de desinformação? Se a palavra é essencial para construir uma sociedade humana, a mentira, como diz Montaigne [1], é um vício maldito, pois solapa as bases do viver juntos e da confiança que torna isso possível. A mentira, e o que a ela se assemelha, a saber, a manipulação da linguagem ordenada para maximizar o poder ou o lucro de alguns em detrimento do maior número, eis o que poderia dar a pensar. E, na Bíblia, não faltam recursos para isso: narrativas variadas, salmos, leis, palavras proféticas, reflexões de sábios falam tão bem dos efeitos mortíferos de uma linguagem deturpada e instrumentalizada. Ela contém todo um material que poderia alimentar uma reflexão e debates profundos sobre o que se torna a palavra em nosso mundo hiperconectado em que a aparência é soberana.

Por João Vitor Santos e Leslie Chaves | Tradução Vanise Dresch
Nota:
[1] Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592): escritor e ensaísta francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente, nos seus "Ensaios", analisou as instituições, as opiniões e os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade como objeto de estudo. (Nota da IHU On-Line)

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