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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
25.06.2014 | 18:34 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
A Capelania da UCPel, dando continuidade à reflexão sobre a Copa do Mundo, disponibiliza dois textos da Rede Brasil Atual. O primeiro apresenta quatorze integrantes da revista de cultura popular La Garganta Poderosa (A Garganta Poderosa) que estão no Brasil para cobrir o Mundial de Futebol. O interesse dos comunicadores não está somente nas quatro linhas, aliás, nem está nos estádios ou no futebol em si. Os jovens deixaram as comunidades na Argentina para acompanhar o evento fora do campo, em cima dos morros cariocas. Os comunicadores populares argentinos trocaram estádios por favela na cobertura da Copa.

O outro texto apresenta, de forma sintética, o controle de um dos maiores negócios comerciais do planeta por parte de dirigentes ávidos por recompensas econômicas e políticas. São negócios bilionários que permitem à Fifa, por exemplo, manter uma reserva de US$ 1,3 bilhão na Suíça, mesmo sendo uma organização sem fins lucrativos.

Aceite nosso convite!

Boa leitura. 


Comunicadores populares argentinos trocam estádios por favela na cobertura da Copa

São Paulo – Quatorze integrantes da revista de cultura popular La Garganta Poderosa (A Garganta Poderosa) estão no Brasil para cobrir o Mundial de Futebol. O interesse dos comunicadores não está somente nas quatro linhas, aliás, nem está nos estádios ou no futebol em si. Os jovens deixaram as comunidades na Argentina para acompanhar o evento fora do campo, em cima dos morros cariocas.

Desde que chegou no domingo (8), a equipe está hospedada na favela pacificada de Santa Marta, no Rio de Janeiro. “Nos instalamos em uma favela no Rio, onde nos sentimos muito confortáveis”, contaram, no Facebook, onde divulgam parte dos conteúdos produzidos. "Não é que exista 'outro Mundial' aos olhos da imprensa comunitária: é o mesmo, incluindo os que ficam fora dele", defendem.

O nome da publicação faz referência à motocicleta (“La Poderosa”) que Che Guevara e seu amigo Alberto Granado utilizaram para percorrer o continente. A revista, criada em 2011, procura tratar pautas de temas e culturas marginalizadas.

No Brasil, os jovens trabalharão como correspondentes para rádios e canais da América Latina. “Queremos aproveitar esta grande plataforma midiática para divulgar nossa causa, que é a causa também das favelas do Brasil e dos assentamentos de outros países”, destacaram.

Futebol social
A única partida de futebol acompanhada pelo grupo foi a de Irã e Argentina, em Belo Horizonte, no dia 21. “Apesar de o futebol ser o principal na comunidade, nos interessa contar a experiência para além do esporte, aprofundar na cor e na festa das favelas do Brasil”, explicou “Dada”, um dos integrantes do grupo.

Para os integrantes de La Poderosa, “o futebol não é nem da Fifa, nem das grandes marcas”. Eles defendem que, “assim como os militares usaram um Mundial para esconder os crimes de lesa humanidade e silenciar os que lutavam por um mundo melhor, nós vamos usá-lo para o contrário."

Com uma linguagem poética, o coletivo descreve o que vê e o que espera desta experiência: “hoje amanhecemos sonhando que não dormimos, que a Copa tem silenciador, que podemos tocar um Cristo Redentor, que o turismo se aparta, que todos são negros em Santa Marta, que nos dói as costas do Mundial, que o sorteio segue sendo desigual, que gritamos de todos os modos, que certo futebol não é para todos, que a pobreza sempre condena."

A viagem é financiada pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), responsável por fornecer a logística para garantir as transmissões e a hospedagem dos comunicadores populares, que estão em casas de família no Morro de Santa Marta.


O jogo fora do campo

Respira-se futebol nos ares brasileiros e o aroma traz memórias longínquas. A mais remota é de um final de tarde de domingo. Meu pai desliga o rádio de cabeceira e comenta: “O Brasil perdeu”. A data: 16 de julho de 1950.

Nas páginas dos jornais e nas cabeças dos cartolas aquela Copa já estava ganha antes da final. O jogo com o Uruguai era só para comemorar o título e deu no que deu. Flávio Costa, técnico da seleção, concluiu: “O futebol brasileiro só evolui do túnel para dentro do campo”.

A nova derrota, quatro anos depois, na Suíça, confirmou a impressão de que o nosso futebol necessitava de mudanças drásticas na organização. As medidas tomadas deram certo e o resultado veio com a conquista brilhante na Suécia, em 1958, repetida sem tanto brilhantismo no Chile, em 1962.

A euforia dessas vitórias dava o tri na Inglaterra como favas contadas. Os apetites dos eternos aproveitadores voltaram à tona. Todos queriam tirar uma casquinha.

Um exemplo: para contentar o maior número possível de clubes foram convocados para a fase preparatória 44 jogadores. Depois, como só podiam ir 22, escolheram dez do Rio, dez de São Paulo (os principais centros do futebol no país), um de Minas Gerais e outro do Rio Grande do Sul (estados em ascensão futebolística). Critérios de convocação político-geográficos.

Com esse tipo de organização não passamos das oitavas. Lembro das fisionomias abatidas de Djalma Santos, Gilmar, Bellini, Zito e Garrincha, machucados, assistindo das cadeiras, ao lado da tribuna de imprensa, a derrota diante de Portugal, em Liverpool.
A volta ao Brasil foi emblemática. Encontrei a delegação no aeroporto de Londres, pronta para embarcar. Viríamos juntos num voo da Varig.

Minutos antes da partida somos chamados para um ônibus que nos leva a Brigthon, cidade turística localizada a cerca de 100 quilômetros da capital. Lá é servido um demorado almoço seguido de um retorno sem pressa para o aeroporto. Tudo para que as chegadas no Rio e em São Paulo ocorressem durante a madrugada, o mais longe possível da ira dos torcedores brasileiros.

Como já ocorrera após a derrota na Suíça, a remodelação foi total e a seleção se recupera de maneira grandiosa com a conquista no México, em 1970. Seguimos assim, com grandes sucessos e profundas decepções, até chegarmos à Copa de hoje.

Saem do túnel para o gramado jogadores de alta qualidade técnica num conjunto, às vezes, primoroso. Fora do campo nada mudou. Dirigentes ávidos por recompensas econômicas e políticas seguem controlando um dos maiores negócios comerciais do planeta. A grande diferença neste 2014 é que está sendo possível separar, pelo menos para análise, o que se passa no campo dos malfeitos administrativos. Para isso, a contribuição de jornalistas brasileiros e estrangeiros, fazendo investigações e publicando livros, tem sido determinante.

Cito dois exemplos, entre outras importantes publicações: Um Jogo cada vez Mais Sujo, do jornalista inglês Andrew Jennings, e O Lado Sujo do Futebol, dos brasileiros Luiz Carlos Azenha, Leandro Cipoloni, Amauri Ribeiro Jr. e Tony Chastinet.

Documentam as falcatruas milionárias perpetradas pelos dirigentes do futebol. No centro de muitas delas, estão os acertos para garantir a determinadas emissoras de televisão os direitos de transmissão dos jogos.

São negócios bilionários que permitem à Fifa, por exemplo, manter uma reserva de US$ 1,3 bilhão na Suíça, mesmo sendo uma organização sem fins lucrativos. Só da Copa da África do Sul a entidade levou, livres de impostos, US$ 2,35 bilhões.

Guardadas as proporções, várias federações nacionais seguem no mesmo padrão. Basta ver os salários pagos pela CBF aos seus dirigentes. Ao mesmo tempo, o meia Alex, do Coritiba, um dos líderes do Bom Senso F.C., lembra que depois do final dos campeonatos estaduais cerca de 500 jogadores ficaram desempregados.

A esperança é de que uma nova vitória brasileira – diferente das outras – não iniba as mudanças urgentes de que necessita o futebol do campo para fora.


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