Apresentação
No dia 7 de outubro, a UCPel completa 57 anos desde sua fundação, em 1960. Ela nasceu em resposta a uma forte demanda pela formação de profissionais, sobretudo nas áreas de saúde educação e desenvolvimento regional. Sob a liderança do fundador, D. Antônio Zattera, ela se expandiu e criando novos cursos e estendendo seus serviços à comunidade envolvente, em particular através do Hospital Universitário S. Francisco de Paula, onde 637 profissionais atendem pelo SUS, realizando 62% dos atendimentos pelo SUS na região. O complexo da UCPel passou nos últimos anos por uma forte crise, sobretudo financeira, que exigiu uma profunda reestruturação econômico-financeira, de planejamento e gestão. O acordo recentemente celebrado com os credores possibilita não só a continuidade dessa obra de Deus, mas abre perspectivas de nova qualificação e avanços em novas frentes de serviço à comunidade.
Hoje, com 17 cursos de graduação, cinco mestrados e três doutorados, a UCPel, (mesmo tendo reduzido o número de cursos que já chegaram a 32) responde a novas demandas e novas exigências da região a que serve. Entre as recentes conquistas acadêmicas destacamos que, em março deste ano, os cursos de Tecnologia em Gestão Comercial e Gestão Financeira da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) foram reconhecidos com conceito quatro (a escala vai de um a cinco) pelo Ministério da Educação (MEC). Em 04 de julho, o MEC credenciou o curso de Tecnologia em Segurança Pública (TSP) da nossa instituição, que também recebeu aval do órgão para se tornar uma sede à oferta de Educação a Distância (Ead). Ambos os projetos foram aprovados com o conceito 4, na escala de 1 a cinco. Na avaliação do MEC realizada em inícios deste mês de setembro, o Curso de Medicina recebeu o conceito 4, estando assim entre as mais bem avaliadas no RS e a 5ª melhor no Brasil entre as universidades privadas. Em tudo isso, a UCPel cumpre sua missão de “investigar a verdade, produzir conhecimento e formar seres humanos, profissionais éticos e competentes...”.
O convite à reflexão neste aniversário da UCPel oferece dois textos. O primeiro, uma síntese do Prof. Érico Hammes da PUC/RS, trata do conceito e missão da uma universidade católica. Cita três qualidades fundamentais: preocupação humanizadora, a melhora qualitativa e a formação integral, o que representa uma mudança de paradigma em relação do meio acadêmico, dominado pelo mercado. Para Érico, uma universidade católica se apresenta como uma janela de comunidades vitalizadas.
O segundo texto trata de amizade. Quem estudou ou estuda na UCPel, sabe que no tempo dos estudos se forjam boas amizades, que duram vida afora. Perguntamos ao Papa Francisco (pela boca de um repórter de Buenos Aires), o que ele entende por amizade. Francisco diz que ele já se sentiu usado por pretensos amigos e alerta contra amizades interesseiras. O que distingue as verdadeiras amizades das que não o são, segundo o Papa Francisco? Confira, lendo a reportagem que publicamos a seguir.
Boa leitura!
Universidade Católica: Conceito e Missão
Prof. Érico Hammes, PUC/RS
Abrindo janelas, no lugar de uma conclusão
As universidades católicas estão crescendo numericamente ao ritmo da demanda por conhecimento. Observa-se, em geral, também uma autêntica preocupação humanizadora e formativa acompanhando as diferentes iniciativas de criação e expansão. Num mercado altamente competitivo, pluralista, fragmentado e instável, a afirmação institucional também se faz por diferenciais qualitativos. A informação é apenas um dos quesitos, talvez um simples pré-requisito.
Muito mais importantes são fatores como a capacidade de lidar com informações, a reconstrução (Piaget, Pedro Demo) do sentido orientativo, bem como a construção de identidades pessoais e culturais dialogantes e comungantes, em vista de uma sociedade pluralista com esperança, verdadeiramente democrática baseada na justiça social e na paz. A participação crítica no destino dos bens intelectuais produzidos e a avaliação permanente dos processos de globalização e mundialização fazem parte da seriedade científica a ser buscada permanentemente.
Do ponto de vista da identidade católica, assim como da Universidade em geral (Boaventura de Sousa Santos), podemos falar, com a FIUC, de «mudança de paradigma». O testemunho de uma fé vivida no reconhecimento do humano em todas as pessoas que participam de uma Universidade católica, a formação integral, as possibilidades de aprofundamento das razões da fé e mesmo o espaço à experiência religiosa qualificam a informação teológica indispensável. O exercício da solidariedade, a sensibilidade social, a responsabilidade pública, a independência crítica frente aos processos e mudanças sociais, a consciência ecológica e a incorporação de princípios fundamentais de ética e bioética, são outras tantas oportunidades de traduzir a adesão aos valores do Evangelho.
A metáfora da janela, usada por João XXIII na abertura do Concílio Vaticano II, aliada à experiência iconográfica dos modernos meios de comunicação social, pode também servir às Universidades católicas. Seus campi, ainda que delimitados, respiram a atmosfera circundante, recebem e elaboram o conhecimento correspondente e podem transformar-se em comunidades vitalizadoras conectadas entre si, com a sociedade e a Igreja, ensaiando o diálogo cultural, a sociedade plural e o convívio entre gerações distintas.
Papa Francisco fala sobre as verdadeiras amizades
O Papa Francisco explicou que “a amizade é um acompanhar a vida do outro”. “É um mistério a paciência de Deus, como também é necessária a paciência para forjar uma boa amizade entre duas pessoas. Tempo e paciência.”
Francisco confessou em uma recente entrevista que se sentiu usado por pessoas que se apresentaram como amigos seus mas, possivelmente, ele não os tenha visto mais que uma ou duas vezes na vida. Isso falou o Papa em uma entrevista com o jornalista evangélico Marcelo Figueroa de Rádio Milenium, de Buenos Aires (Argentina), difundida no domingo, 13 de setembro de 2015, e que havia sido gravada na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde reside o Papa. Ao ser perguntado sobre a amizade, o Papa disse que existe no mundo uma tendência a ter amigos por interesse: “vejamos que proveito eu posso tirar de me aproximar dessa pessoa e fazer-me amigo dela”. “Isso me dói. Eu me senti usado por pessoas que se apresentaram como amigos e que eu possivelmente não tinha visto mais que uma ou duas vezes na vida, e usaram isso para seu proveito. Mas é uma experiência pela qual todos nós passamos, a amizade utilitária”.
O Papa explicou que “a amizade é um acompanhar a vida do outro”. “Em geral as verdadeiras amizades, não se explicitam, dão-se e vão como se cultivando. A tal ponto que a outra pessoa já entrou em minha vida como preocupação, como bom desejo, como sã curiosidade de saber como vai, como vai a sua família, seus filhos. É dizer que alguém vai entrando”.
O Santo Padre disse logo que “outra característica para distinguir a boa amizade de outras formas que são chamadas de amizade, mas na verdade são companheirismo, etc. É notar que com um amigo, mesmo quando você não o vê durante muito tempo, quando o encontra, e às vezes passam meses ou até um ano, você sente como se te tivesse visto ontem, conectam num instante. É uma característica muito humana da amizade”.
Diante da pergunta sobre o sentido profundo da amizade como Vigário de Cristo na terra, o Papa comenta que “nunca tive tantos ‘amigos’ entre aspas, como agora. Todos são amigos do Papa. A amizade é algo muito sagrado. A Bíblia diz: ‘tenha um ou dois amigos’”. “Antes de considerar um amigo, deixe que o tempo o prove, veja como reage diante de você. E é o que aconteceu em nossa história. Você evangélico, eu católico e trabalhando juntos por Jesus. Mas não só funcionalmente, mas esta amizade foi dando-se e também envolveu a sua mulher, seus filhos”, disse o Papa ao jornalista recordando a sua longa relação de amizade com Figueroa, que o conhece desde que era bispo em Buenos Aires.
Na amizade de ambos “também houve momentos escuros. Não é certo? Como quando você teve que passar o túnel da incerteza que te dá uma doença. Confesso-te, eu sentia a necessidade de estar perto de ti, da sua mulher, dos seus filhos. Porque um amigo não é um conhecido, alguém com quem você apenas goza de um bom momento de conversa”. O Santo Padre ressaltou que “a amizade é algo profundo. Eu acredito que Jesus quis que isto se desse. Indo além da sua piada de que você é ‘minha ovelha protestante’, está essa aproximação humana de poder falar de coisas comuns com profundidade”.
Sobre a dimensão espiritual da amizade de Deus com o homem, o Papa Francisco disse que a atitude do Senhor “está repleta de carinho paternal, é obvio, mas também de amizade. Não sei como podemos interpretar isso de que Deus e Moisés falavam cara a cara, como um amigo fala com outro amigo. Quer dizer: Deus amigo de Moisés! Essa capacidade de lhe confiar tudo, seus planos, o que ia fazer…”. Depois de fazer um repasse sobre a passagem bíblica de Caim e Abel e como esse episódio é uma mostra clara da “cultura da inimizade” em que muitas vezes está submerso o homem, o Papa explicou a importância da paciência para que as pessoas sejam boas amigas.
“É um mistério a paciência de Deus, como também é necessária ter paciência para forjar uma boa amizade entre duas pessoas. Tempo e paciência. Como dizem os árabes: ‘é preciso comer vários quilogramas de sal’. Muito tempo para falar, estar juntos, conhecer-se e aí se forja a amizade. Essa paciência na qual uma amizade é real, sólida. Porque nesse tempo passam muitas coisas que deve-se responder como amigo, ou como indiferente”.
Figueroa questionou ao Papa sobre a possibilidade de ser amigos de Jesus e como se pode viver essa amizade: “Ele o disse na Ceia: ‘já não vos chamo servos, e sim amigos’. O servo não sabe o que vai fazer seu senhor, o amigo sim. Ou seja conhece os segredos”. “O que significa hoje –prosseguiu o Papa– é deixar que ele nos diga ‘amigo’. Porque frente à palavra de Jesus que te diz amigo. Ou é um néscio, ou um desgraçado que não entendem o que significa, ou abrem seu coração e entra-se nesse diálogo de amizade. Jesus aposta muito aí, porque poderia ter dito o mestre, o doutor, poderia ter usado tantos títulos. Não, ‘vocês são meus amigos, eu os escolhi por amigos’”.
(Fonte: Centro Vocacional, com ACI Digital, 15/09/2015)