O texto abaixo, elaborado por um estudante do segundo semestre de teologia da UCPel, fala por si. Constitui um convite a refletir sobre os vários caminhos que se abrem na busca de sermos felizes, contribuindo na construção de um mundo melhor, fazendo parte de numa comunidade cristã.
Essa reflexão sobre o mês de agosto enquanto mês vocacional deseja “suscitar em nós esse desejo livre e ardoroso de encontrar nosso lugar no mundo”, como escreve William Nunes. Ao ler o texto, busque situar-se face às grandes opções que se apresentam para a realização da própria vocação, enquanto opção de vida, sendo “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14).
AGOSTO, MÊS VOCACIONAL
Introdução:
Agosto foi escolhido como mês vocacional na Igreja no Brasil em 1981, durante a 19ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com o objetivo de promover nas comunidades católicas de todo país uma consciência da sua responsabilidade na descoberta e no discernimento vocacional de cada batizado. Esse ano o tema escolhido pela CNBB para o mês vocacional foi “Seguir a Jesus à luz da fé” e o lema tirado da segunda carta a Timóteo (1,12b): “Sei em quem depositei a minha fé”. Nas palavras de Dom Jaime Spengler, presidente da Comissão para Ministérios Ordenados da CNBB, em entrevista concedida à CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), ainda é necessário criar uma cultura vocacional; “Quando falamos de vocação ou de cultura vocacional, quase sempre temos em mente os ministérios ordenados ou a vida consagrada. Na verdade, trata-se de uma compreensão muito mais ampla da questão. Quanto é necessário, por exemplo, que nas diversas dimensões da vida social haja pessoas leigas, comprometidas com a fé, dispostas a cooperar em construir um mundo um pouco melhor para as futuras gerações. Urge apresentar aos jovens e adolescentes os distintos caminhos do serviço do Senhor e do seu Reino: como leigos engajados nos diversos âmbitos da vida social; casados que assumem o compromisso do matrimônio; consagrados por causa do Reino dos Céus; e ministros ordenados a serviço do povo, nas diversas comunidades de fé”.
AS QUATRO SEMANAS DO MÊS VOCACIONAL
Durante o mês de agosto, a Igreja Católica no Brasil convida a todos os batizados e batizadas a uma reflexão mais profunda sobre a dimensão vocacional da vida cristã. Mas afinal o que é Vocação? A palavra Vocação tem sua origem no Latim Vocare, que traduzido quer dizer “Chamar”. Por isso, quando falamos em vocação buscamos entender qual é o nosso lugar no mundo, onde encontraremos a realização das aspirações mais profundas de nossa existência humana.
Entre as muitas expressões da resposta a esse “chamado”, a Igreja nos oferece, nessas quatro semanas do mês vocacional, a oportunidade de refletir sobre quatro vocações específicas, sendo elas o sacerdócio ministerial, a família, a vida consagrada e os leigos.
O primeiro domingo nos convida a refletir sobre o sacerdócio ministerial. Sabemos que pelo batismo tomamos parte no sacerdócio comum a todo o cristão, porém alguns homens são chamados a exercer na Igreja o sacerdócio ministerial, como nos diz a carta aos Hebreus (5, 1-3): “Todo sacerdote é tirado do meio do povo e instituído em favor do povo nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, como pelos seus próprios.” Assim todo homem chamado ao sacerdócio é tirado do meio da comunidade cristã e busca responder a Deus de maneira generosa, oferecendo a Ele sua vida em favor de seu povo.
No segundo domingo, lembramos a vocação à família, quando comemoramos o dia dos pais. Apesar de pouco lembrarmos desse fato, a família também constitui uma vocação específica. Todo homem e mulher que se descobre vocacionado a constituir família, carrega em si essa marca indelével do amor de Deus. Disse o Papa Francisco durante o encontro com as Associações Familiares em Roma: “Pode ser que um homem e uma mulher não acreditem: mas se eles se amam e se casam, são à imagem e semelhança de Deus, mesmo não crendo. É um mistério: São Paulo chama ‘grande mistério’, ‘grande sacramento’, um mistério verdadeiro”.
É esse mistério do amor de Deus que envolve a vocação familiar, chamada a gerar a vida no mundo.
No terceiro domingo lembramos a vocação à vida consagrada. Desde os primórdios da Igreja, muitos homens e mulheres deixaram tudo a fim de se consagrarem a Deus, abraçando os conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência. Geralmente os religiosos se reúnem em comunidades que podem ser chamadas de ordens, congregações ou institutos de vida consagrada, cada qual com suas características particulares, algumas com seu trabalho voltado a educação, outras ao cuidado com os doentes, entre outras realidades. Sobre a fecundidade da vida consagrada fala-nos o Papa em sua homilia aos religiosos reunidos em Roma por ocasião do 22° Dia da Vida Consagrada: “Deste modo, enquanto a vida do mundo procura acumular, a vida consagrada deixa as riquezas que passam, para abraçar Aquele que permanece. A vida do mundo corre atrás dos prazeres e ambições pessoais, a vida consagrada deixa o afeto livre de qualquer propriedade para amar plenamente a Deus e aos outros. A vida do mundo aposta em poder fazer o que se quer, a vida consagrada escolhe a obediência humilde como liberdade maior”.
No quarto e último domingo do mês de agosto nos voltamos para vocação leiga dos catequistas, figuras fundamentais no processo de iniciação à vida cristã, como introdutores daqueles que abraçam a fé. Esse ano, vivemos no Brasil o ano do Laicato, que tem como tema “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino” e como lema: “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt 5,13-14). O cristão leigo é convidado a ser esse “sal” na massa, seja na família ou no trabalho.
Se o sal não der sabor, vã será sua missão. Por isso, todo cristão leigo é chamado no mundo a ser presença viva, na catequese, na visita aos doentes e no engajamento missionário, comprometido com uma “Igreja em saída” capaz de encontrar-se com as mais diversas realidades, – na economia, na política, na cultura, na comunicação -, sendo luz que irradia nas trevas do egoísmo, do individualismo contemporâneo.
Que o mês vocacional possa suscitar em nós esse desejo livre e ardoroso de encontrar no mundo nosso lugar
William Amaral Nunes: estuda Teologia na UCPel.