A Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e a Prefeitura Municipal de Rio Grande deram início hoje (1º) a um projeto que deverá transformar a vida de aproximadamente mil famílias do bairro Getúlio Vargas, na cidade vizinha. O processo de ampliação do porto de Rio Grande, que prevê o aumento da área de estacionamento de veículos de importação e exportação, além de cumprir exigências internacionais de segurança com isolamento do local, pressupõe o deslocamento da comunidade que mora no bairro. O projeto, que inicia ainda nesta semana, contempla a construção de um conjunto residencial que passará a ser a nova casa dos moradores. A responsabilidade da Católica será de fazer a sustentação social do remanejo da população.
O projeto foi apresentado oficialmente pelo prefeito Janir Branco, em atividade com a presença do reitor da UCPel, Alencar Mello Proença, do superintendente do porto de Rio Grande, Sinésio Cerqueira, do secretário de Cidadania e Assistência Social, Leonardo Salum, e do secretário de Coordenação e Planejamento, Paulo Cuchiara. Participaram também o coordenador de graduação da Católica, professor Rubilar Simões Júnior, a coordenadora do curso de Serviço Social da UCPel, Andréa Heidrich e a coordenadora do projeto, Wanda Griep Hirai.
A primeira etapa, que consiste na construção de apartamentos num espaço de 8.600m2, para onde serão irão cerca de 200 famílias, começa ainda nesta semana. Próximo ao local onde hoje é a comunidade, o local será feito com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, e contrapartida da Prefeitura. Durante 15 anos, os moradores pagarão mensalidade equivalente a 5% do salário mínimo, ou seja, R$ 20,00.
Durante os 15 meses de obras do Residencial Getúlio Vargas, será feito um trabalho paralelo de qualificação profissional, com acompanhamento do Serviço Social da Católica.
Um lugar para chamar de seu
Mudar de casa e deixar para trás tudo que foi construído não é tarefa fácil para ninguém. Por intermédio da Universidade Católica, dois assistentes sociais, um psicólogo e estagiários de ambas as áreas serão responsáveis pela atenção social com foco na questão do deslocamento da comunidade. “Nosso papel é atuar no projeto social, trabalhando as condições sócio-psicológicas da comunidade para a mudança e preparar aquela sociedade para o deslocamento, de sair para um lugar diferente com o que estava acostumada a vida inteira”, salientou o reitor da UCPel, Alencar Proença.
Além de beneficiar a comunidade, o projeto proporcionará campo de atuação para estudantes da Universidade. “É indiscutível que se abre um espaço acadêmico grandioso na área social”, disse. Durante o anúncio oficial do início das obras, o reitor falou sobre a presença da Católica em Rio Grande. “Nos sentimos com a sensação de retornar à essa casa, porque um dos nascedouros da Universidade foi o Faculdade de Direito Clóvis Bevilácqua, em Rio Grande. Queremos fazer deste um projeto de toda a instituição, e aberto à comunidade riograndina. Temos certeza de que teremos participação efetiva e que a movimentação dessas famílias terá eficácia social, com ganho do ser humano na dignidade”, destacou.
O prefeito Janir Branco salientou que, muito mais do que o projeto de desenvolvimento do porto está a proposta de resgatar a dignidade dos moradores do local. “A retirada das pessoas é muito difícil. Por isso foi buscado apoio da Universidade e dos parceiros. Estamos nos valendo da experiência da UCPel na área social para pôr em prática esse projeto de cidadania”, frisou.
Os moradores do bairro Getúlio Vargas, povoado por posseiros e constituído por habitações precárias e esgoto a céu aberto, poderão agora ir para um local próprio e respaldado por infra-estrutura.
Os Moradores
Moradora há nove anos do bairro, a catadora Osmarina Portela Meireles, 53 anos, vive com a filha e o neto. “É um poste para 38 casas, a luz é fraquinha. Tem cada ‘ratão’ que passeia na casa, na cama da gente. E a gente vive assim nessa podridão. Tendo a minha casinha, está bom”, disse. A dona de casa Lucimere Rodrigues, 45 anos, aprova a mudança. “Acho bom. Não vai ter mais valeta e sujeira”, afirmou.
Embora alguma resistência ainda esteja latente nos moradores, as professoras do Serviço Social consideram este um aspecto normal. “Os moradores se habituaram a viver no local. Nosso olhar, de fora, é muito diferente do sentido que eles têm de ‘casa’. Existe toda uma história de vida das pessoas, e essas coisas vão ser compreendidas e trabalhadas”, destacou Wanda. “O Serviço Social tem compromisso com a população. É um desafio seguir as diretrizes do projeto e garantir que a população não seja prejudicada”, pontuou Andréa.
O próximo passo para o trabalho será uma reunião com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania, quando os documentos do projeto serão fornecidos para apreciação e seja discutida a contratação dos técnicos – que serão da cidade de Rio Grande.