A polêmica citação da atriz Fernanda Torres “sou artista e burguesa, mas não defendo o impeachment”, publicada no jornal Folha de São Paulo do dia 03 de abril de 2016, foi analisada na Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (PPGL/UCPel). A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia, utilizou a teoria de Análise de Discurso para explicar como vem ocorrendo a relação de classes mediada através da linguagem.
Antes de iniciar a palestra, a convidada lembrou que foi na Católica, durante a realização do Seminário Nacional sobre Linguagens e Ensino (Senale), no ano de 1999, que se apaixonou pela Análise de Discurso. “Foi nesta casa que ouvi as primeiras falas sobre a teoria e tive a certeza do que queria seguir”, comentou. Gesualda ainda mencionou a importância da professora da UCPel, Ercília Ana Cazarin, para a sua formação.
A palestra, que teve como tema “A linguagem no corpo social: jogos de forças e de sentidos”, analisou como se dá o espaço de contradição tanto na citação da atriz quanto nas ações intituladas "panelaços". “Os 'panelaços' se constituem como uma prática gestual mas também de linguagem que se concentra na contradição”, concluiu.
A palestrante definiu a questão de linguagem como suscetível à interpretação e o modo como é recebida, como o outro a recebe e como o ator se enxerga no processo gera a disputa de classes socais. Gesualda também comentou sobre como o atual momento de barulhos múltiplos vindo das ruas e da mídia tem alcançado as relações pessoais. “Hoje temos no Brasil uma noção de esquerda diluída e uma concepção de burguesia embasada no contexto europeu”, disse.