Dizem que: “Uma rã passou toda sua vida num poço. Um dia encontrou para sua surpresa uma outra rã. ‘De onde vens’, perguntou ela. ‘Do mar, lá eu vivo’, respondeu a outra. ‘Como é o mar? Ele tão grande quanto meu poço?’ A rã do mar riu. ‘Nem é comparável’, disse ela. A rã do poço fez como que estivesse interessada sobre o que a sua visitante tinha a descrever sobre o mar. Mas ela ficou pensando: ‘Entre os mentirosos que eu conheci ao longo da minha vida, essa aqui sem dúvida é a maior e a mais descarada’. Conclui-se: ‘Como se pode falar do oceano a uma rã que vive no poço?’”
A cultura da “ranidade poçal” (se me permitem criar esse neologismo: “ranidade” de rã e “poçal” de poço) está muito presente nas pessoas humanas, em mim e em nós. E como tem pessoas como a rã vivendo enclausurados nos seus “poços”! Vale o “seu mundo” e não existem “outros mundos”. Vale a “sua realidade” e não existem “outras realidades”. Como, então, falar em outros mundos, em outras realidades a pessoas que se encerraram e se encerram na cultura da “ranidade poçal”!
Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se egoístas. Ensimesmadas, não há outra saída para elas senão o egoísmo, pois tudo gira ao seu redor, do seu “poço”, do seu mundo, da sua realidade. Elas não tem como não fazer a “soma do eu mais eu é eu”. Nessas pessoas, instaura-se um egocentrismo constante.
Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de si mesmo”.
Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se julgadoras. Enclausuradas, acabam sempre julgando todas as outras pessoas, pois elas com outras visões são sempre “mentirosas”. Praticamente só existe a visão subjetiva, sem dar lugar para a visão objetiva de outros mundos, outras realidades. Nessas pessoas, instaura-se um relativismo contínuo.
Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de sua visão subjetiva”.
Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se estagnadas. Acomodadas, nada lhes é possível acrescer a fim de saírem de seu “poço”, seu mundo, sua realidade. A realidade além, com todas as suas feições e que fazem crescer, não tem espaço nelas. Nasce-se e cresce-se no tamanho do “poço”. Nessas pessoas, instaura-se um comodismo mortal.
Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída do seu conforto ilusório”.
Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se atrapalhadoras. Fechadas, não apreendem que o crescimento e a realização humanas se fazem pela soma das facetas da verdade dos outros e do próprio Outro (Deus-Criador-Redentor-Salvador). A verdade é sempre maior que a “minha verdade”. A verdade, além de subjetiva, necessariamente é objetiva. Ficar meramente na minha verdade subjetiva impede um caminho de crescimento e realização de todo o gênero humano. Nessas pessoas, instaura-se um subjetivismo destruidor.
Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de sua verdade única”.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas