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Artigo - “Ranidade poçal”
26.11.2021 | 10:50 | #capelania-e-identidade-crista
Artigo - “Ranidade poçal”

Dizem que: “Uma rã passou toda sua vida num poço. Um dia encontrou para sua surpresa  uma outra rã. ‘De onde vens’, perguntou ela. ‘Do mar, lá eu vivo’, respondeu a outra. ‘Como é o  mar? Ele tão grande quanto meu poço?’ A rã do mar riu. ‘Nem é comparável’, disse ela. A rã do  poço fez como que estivesse interessada sobre o que a sua visitante tinha a descrever sobre o  mar. Mas ela ficou pensando: ‘Entre os mentirosos que eu conheci ao longo da minha vida, essa  aqui sem dúvida é a maior e a mais descarada’. Conclui-se: ‘Como se pode falar do oceano a uma  rã que vive no poço?’” 

A cultura da “ranidade poçal” (se me permitem criar esse neologismo: “ranidade” de rã e  “poçal” de poço) está muito presente nas pessoas humanas, em mim e em nós. E como tem  pessoas como a rã vivendo enclausurados nos seus “poços”! Vale o “seu mundo” e não existem  “outros mundos”. Vale a “sua realidade” e não existem “outras realidades”. Como, então, falar em  outros mundos, em outras realidades a pessoas que se encerraram e se encerram na cultura da  “ranidade poçal”! 

Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se egoístas. Ensimesmadas, não há outra  saída para elas senão o egoísmo, pois tudo gira ao seu redor, do seu “poço”, do seu mundo, da  sua realidade. Elas não tem como não fazer a “soma do eu mais eu é eu”. Nessas pessoas,  instaura-se um egocentrismo constante. 

Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de si  mesmo”. 

Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se julgadoras. Enclausuradas, acabam  sempre julgando todas as outras pessoas, pois elas com outras visões são sempre “mentirosas”.  Praticamente só existe a visão subjetiva, sem dar lugar para a visão objetiva de outros mundos,  outras realidades. Nessas pessoas, instaura-se um relativismo contínuo. 

Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de sua  visão subjetiva”. 

Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se estagnadas. Acomodadas, nada lhes é  possível acrescer a fim de saírem de seu “poço”, seu mundo, sua realidade. A realidade além, com  todas as suas feições e que fazem crescer, não tem espaço nelas. Nasce-se e cresce-se no  tamanho do “poço”. Nessas pessoas, instaura-se um comodismo mortal. 

Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída do seu  conforto ilusório”. 

Pessoas com cultura de “ranidade poçal” tornam-se atrapalhadoras. Fechadas, não  apreendem que o crescimento e a realização humanas se fazem pela soma das facetas da verdade  dos outros e do próprio Outro (Deus-Criador-Redentor-Salvador). A verdade é sempre maior que a  “minha verdade”. A verdade, além de subjetiva, necessariamente é objetiva. Ficar meramente na  minha verdade subjetiva impede um caminho de crescimento e realização de todo o gênero  humano. Nessas pessoas, instaura-se um subjetivismo destruidor. 

Ao contrário de uma cultura da “ranidade poçal”, precisamos uma cultura da “saída de sua  verdade única”. 

Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas

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