Conta-se que: “um camponês caminhava com seu filho. O menino narrava ao pai alguma coisa, mas também dizia mentiras. O camponês percebeu que seu filho o estava enganando e disse: - “Agora, filho, estamos chegando perto de uma ponte. Não é uma ponte comum, é mágica. Ela cai quando mentirosos a cruzam”. O filho assustado, confessou que estava enganando o pai. O camponês e seu filho começaram a cruzar a ponte, até que começaram a ouvir um barulho muito alto e a ponte caiu. - “Bom, te enganei” – aceitou o camponês quando saíram da água pela margem do rio.
Pontes mágicas não existem - são mentirosas e ilusórias. Pontes verdadeiras existem – elas unem, plenificam e aproximam. Por que, então, apresentar pontes mágicas que mentem e iludem, se temos pontes verdadeiras que unem, plenificam e aproximam? Como são esquecidas as pontes verdadeiras nos nossos tempos! É necessário fazer uma memória das pontes verdadeiras, presentes substancialmente na nossa existência.
Esquece-se a ponte da transcendência criadora. Deus-Pai é essa ponte. Constrói-a pelo seu amor criador. A criação toda foi e é pontificada Nele: ela tem sua origem e seu destino no Deus-Criador. A ponte de toda a criação, sem Ele, leva ao niilismo absurdo. Pontes niilistas nunca são pontes que unem, que plenificam e que aproximam. É hora de passar pela ponte verdadeira do Deus-Criador redentor. Não nos iludamos, pois a ponte do Deus-Criador não existe magicamente!
Esquece-se a ponte da transcendência redentora. Deus-Filho é essa ponte. Estabelece-a pelo seu amor redentor. A humanidade toda foi e é pontificada Nele: ela encontra o sentido da vida na morte e ressurreição do Deus-Redentor. A ponte de toda a humanidade, sem Ele, leva à autossuficiência aniquiladora. Como podem pontes que são autossuficientes serem ponte que unem, que plenificam e que aproximam? É hora de usar a ponte verdadeira do Deus-Redentor. Magicamente, isso é verdade, a ponte do Deus-Redentor não existe.
Esquece-se a ponte da transcendência santificadora. Deus-Espírito é essa ponte. Edifica-a pelo seu amor santificador. A humanidade toda foi e é pontificada Nele: ela encontra a alegria de viver abraçando sua presença vivificadora, uma vez que expulsa o espírito destruidor da mera “terra”. A ponte de todo o gênero humano, sem o Deus-Espírito, leva ao orgulho egocêntrico. Pontes orgulhosas, que só giram em torno do ego, não servem para unir, para plenificar e para aproximar. É hora de abrir-se para a ponte verdadeira de Deus-Santificador. Sonhar com a ponte do Deus-Espírito, não é um sonho mágico.
Esquece-se a ponte verdadeira da Fraternidade. O próximo humano é essa ponte. O relacionamento fraterno a edifica. O gênero humano só é pontificado pela fraternidade: somos frattelli tutti. A ponte da civilização humana, sem a fraternidade, leva ao individualismo pútrido. Já existem demasiadas pontes individualistas infectas, que não unem, não plenificam e não aproximam. É hora de viver a ponte verdadeira da Fraternidade. A civilização humana deve aprender que a ponte da Fraternidade não é mágica.
Esquece-se a ponte verdadeira da Fé. A humanidade é ponte de Fé, enquanto encontra o caminho da Fé que proporciona o sentido da vida. Esse caminho da Fé, abre-se, para além do rumo horizontal, para o rumo vertical. A ponte humana, sem a Fé, leva à mera imanência relativa. É impossível, o relativismo introvertido criar pontes que unem, plenificam e aproximam. Faz parte da essência humana viver a ponte verdadeira da Fé – ela não é mágica.
Esquece-se a ponte verdadeira da Esperança. A humanidade é ponte de Esperança, enquanto abraça a verdade que leva à Esperança. A verdade segura é a abertura ao plano salvador que nos liga ao infinito. A ponte humana, sem a Esperança, edifica-se na mera autosegurança ilusória. Pontes construídas sobre alicerces falsos não unem, não plenificam e não aproximam. É decisivo existencialmente encontrar a ponte verdadeira da Esperança – ela não é mágica.
Esquece-se a ponte verdadeira da Vida. A humanidade é ponte de Vida, enquanto vive plenamente Naquele que “veio para dar a vida e a vida em abundância”. A vida plena é a vivência do amor humano-divino presente em nós. A ponte humana, sem a Vida plena, desemboca no vazio absurdo da existência. Como podem pontes vazias absurdas serem pontes que unem, plenificam e aproximam? É urgente a humanidade viver a ponte verdadeira da Vida – ela não é mágica.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas