Aprender faz parte inerente ao gênero humano. Ao longo de toda a história humana sempre refletiu-se sobre o significado do aprender. Isso para não desviar a finalidade verdadeira e última do processo de aprendizagem. Não basta aprender independentemente de sua finalidade. Essa não pode ser desvirtuada.
Não pretendo aqui fazer uma análise de todos os desvirtuamentos ocorridos ao longo da história humana. Mas estou deveras inclinado a analisar o desvirtuamento acontecido em grande escala nos tempos antecedidos da pandemia da COVID19. A passos largos a humanidade caminhava para uma compreensão e uma realização de educação fortemente desvirtuada.
Compreendia-se e realizava-se um aprender “para ter mais”. As pessoas aprendiam para serem mais acumuladores: quem aprendia mais, tinha mais. Educação tornava-se, assim, sinônimo de posse. Compreendia-se e realizava-se um aprender “para dominar mais”. As pessoas aprendiam para serem mais poderosas: quem aprendia mais, podia mais. Educação tornava-se, assim, sinônimo de domínio. Compreendia-se e realizava-se um aprender “para competir mais”. As pessoas aprendiam para serem mais superiores: quem aprendia mais, competia mais. Educação tornava-se, assim, sinônimo de superioridade. Compreendia-se e realizava-se um aprender “para resolver mais”. As pessoas aprendiam para serem mais ilimitados: quem aprendia mais, resolvia mais. Educação tornava-se, assim, sinônimo de infinitude da criatura.
Educação apenas como posse, como domínio, como superioridade e como infinitude leva uma situação “vazia e caótica”. É a situação que o Criador encontrou antes de sua intervenção no mundo: “a terra estava vazia e caótica” (cf Gn 1). No entanto, a UNESCO, em relação à educação, nunca deixou de insistir nos “quatro pilares do aprender”: “Aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”. A pandemia da COVID19 corroborou de forma explícita a compreensão da UNESCO.
É necessário e urgente novamente “aprender a aprender”. Aprender que o aprender não está em vista apenas da posse. Aprender, sim, é para criar e repartir mais. Está em jogo participarmos do próprio Deus-Criador que educa criando e repartindo. É necessário e urgente novamente “aprender a fazer”. Aprender que o fazer não está apenas em vista do domínio. Aprender, sim, é para servir e salvar mais. Está em jogo participarmos do próprio Deus-Salvador que educa servindo e salvando. É necessário e urgente novamente “aprender a conviver”. Aprender que o conviver não está apenas em vista da superioridade. Aprender, sim, é para caminhar juntos e somar mais. Está em jogo participarmos do próprio Deus-Santificador que educa unindo e somando. É necessário e urgente novamente “aprender a ser”. Aprender que o ser não está em vista da infinitude como criatura. Aprender, sim, para ser finito em busca do Infinito. Está em jogo buscarmos, como criaturas, a Plenitude do Senhor de toda a Vida que educa buscando-nos e deixando-se buscar.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas