O professor das disciplinas de Fotografia dos cursos de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Carlos Recuero, realizou uma pesquisa sobre o efeito da fotografia nas redes sociais. Para seu doutorado em Letras pela UCPel, Recuero estudou a linguagem fotográfica em O uso de fotografia como instrumento de linguagem na conversação social.
Para chegar a conclusões mais exatas, o professor elaborou um questionário avaliativo através do aplicativo Google Docs, com a meta de computar a resposta de 100 usuários de redes sociais (Twitter, Plurk, e-mail e Facebook), abordando, a partir de perguntas diretas e com espaço para comentários, aspectos comportamentais entre a linguagem fotográfica e os efeitos que ela gera nas relações sociais.
Após tabular os dados, chegou à conclusão de que as imagens fotográficas em redes sociais, além de gerarem um reconhecimento social por representações e significações e contribuírem na construção de uma ciberidentidade, servem para solidificar os relacionamentos por meio da visibilidade.
Diferentes formas de interpretar a fotografia foram descobertas no estudo. Entre os entrevistados, 99% têm fotos no perfil do Facebook e, quando indagados pelo motivo, a resposta foi que associação do “eu” virtual com o “eu” concreto é feita constantemente pela visualização da fotografia de perfil, ou seja, não há dissociação do meio virtual e real para a valorização da imagem e para o estabelecimento de vínculos sociais.
Outra interpretação para a atualização de fotos nas redes é a de que há uma espécie de “atualização constante do seu eu”, onde o usuário faz a narrativa de suas experiências e vivências cotidianas pela fotografia.
Através dos números apurados, foi possível observar a importância do fator imagem nos relacionamentos via web, já que 96% dos pesquisados afirmaram que a foto de perfil é fundamental ou de muita importância para os relacionamentos, não desvinculando a realidade física do avatar no ambiente virtual.
Em trechos de comentários extraídos da pesquisa pode-se observar como a fotografia no ambiente virtual é fundamental para a comunicação e associação com o “eu” concreto. “Pelas fotos de perfil, podemos saber com quem estamos conversando”, disse um dos participantes. Foi também observado que 90% dos entrevistados costumam analisar os álbuns virtuais de seus amigos, pois afirmam que é através deles que ficam sabendo das novidades e fofocas cotidianas. Outro internauta pesquisado destacou o papel da fotografia em desempenhar uma narrativa social. “As fotos [do perfil] fazem parte da nossa vida, ajudam muito a contar a nossa história pessoal. Meus amigos podem estar atualizados dos fatos que marcam minha vida”, disse.
De acordo com Recuero, sendo a visibilidade, reputação e popularidade os pilares das redes sociais, a imagem passa a desempenhar o papel de “cartão de visita” do ator social, que tem a sua disposição diversos softwares de edição de imagem à disposição para melhor marcar sua presença nas redes.
Aliás, a preocupação com a foto do perfil como papel fundamental para passar uma “boa imagem” na rede foi unânime. É ela o principal meio de divulgação e autopromoção no ciberespaço, verificando-se que 92% dos entrevistados admitiram olhar as fotos do perfil antes de adicionar um novo amigo. “Eu acho importante para ver qual o tipo de fotografia que ele divulga e para julgar se vale a pena aceitá-lo”, disse um dos entrevistados.
Entre os autores que serviram de subsídio teórico para a tese de Recuero destacam-se a também professora da UCPel, Raquel Recuero; a pesquisadora Paula Sibilia e o psicanalista italiano Contardo Calligaris.