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UCPel promove ação com famílias de alunos apenados
UCPel promove ação com famílias de alunos apenados

A Universidade Católica de Pelotas (UCPel) realizou, no último sábado (22), atividade de valorização e reflexão com familiares de estudantes apenados. A ação teve como objetivo integrar esses familiares, convidando-os a se tornarem protagonistas na oferta da educação. A ocasião também reuniu parentes residentes em  diferentes municípios, que acompanharam a atividade de forma online, além dos próprios estudantes universitários, que são bolsistas no Presídio Regional de Pelotas (PRP).

A UCPel mantém um acordo de cooperação interinstitucional com a Secretaria do Sistema Penal e Socioeducativo do Rio Grande do Sul. Essa parceria também envolve a Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE) e órgãos locais, como o PRP e o Instituto Penal de Monitoração Eletrônica da 5ª Região Penitenciária.

Uma das metas dessa união é a oferta de bolsas de estudo para cursos de graduação na modalidade EAD, destinadas a pessoas privadas de liberdade. Desde fevereiro de 2023, foram disponibilizadas cinco bolsas: três para apenados em regime fechado no PRP e duas para aqueles em situação de monitoração eletrônica. No início de 2024, mais bolsas foram oferecidas. O trabalho é acompanhado pelo Núcleo de Educação a Distância da UCPel em parceria com a equipe técnica do PRP.

Os estudantes da UCPel são guiados pela tutoria e pela coordenação do curso. Eles participam das atividades conforme um cronograma pré-estabelecido e acordado com a assistente social do PRP. O projeto prevê a ampliação das bolsas ao longo dos anos.

Segundo a diretora do Núcleo de Educação a Distância da UCPel, Patrícia Giusti, os principais desafios estão relacionados com as condições tecnológicas no PRP, necessárias para a realização das atividades. “No início foi mais difícil, atualmente eles têm acesso a um laboratório de informática que permite a realização dos estudos”, relata.

Ao longo desse período, percebeu-se a importância de envolver também os familiares das pessoas privadas de liberdade nesse processo. Isso não só amplia o escopo pedagógico de acesso à educação, como também fortalece os vínculos familiares e valoriza o esforço das pessoas privadas de liberdade.

Segundo o professor do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos Humanos da UCPel, Luiz Antônio Bogo Chies,  um dos idealizadores do evento, estudar dentro de um estabelecimento prisional é um grande desafio, apesar da colaboração institucional. “Entendemos que essa atividade tem uma grande potência em termos de abrir a prisão para a sociedade e vice-versa, desafiando os estereótipos que cada polo tem em relação ao outro e potencializando o acesso à educação como algo relevante na trajetória de um cidadão, esteja ele em condição de privação de liberdade ou não, além da importância do fortalecimento dos vínculos familiares e do papel comunitário e inovador da universidade,” pontua.

Para Patrícia, o evento foi uma oportunidade de reflexão sobre a importância do ensino superior na vida dos apenados e de suas famílias. “Tivemos a oportunidade de ouvir as famílias, suas percepções, sonhos e escutar o quanto a educação está construindo um caminho diferente na vida dos apenados,” comenta.

A assistente social da Susepe, Gabriela Di Muro, reforça que o evento serviu como uma oportunidade aos familiares expressarem a forma como enxergavam esse acesso ao Ensino Superior. “Muitos familiares participaram de forma remota, o que foi bastante significativo. Esses encontros fortalecem os vínculos, porque a pessoa privada de liberdade precisa do suporte externo e a família é um elo potente. Então buscamos sempre aproximar essa relação com a universidade”, complementa.

Para o ex-apenado e bolsista do curso Tecnologia e Gestão de Recursos Humanos da UCPel, Marcelo Nether dos Santos, a experiência do estudo à distância é a melhor que teve na vida. “Foi a realização de um sonho, que era fazer um curso de nível superior, apesar das restrições, já que quando iniciei o curso estava privado de liberdade”, relata. 

Santos ressalta que sofreu descriminação no presídio, mas que não se deixou afetar.  “Eu e meu colega faríamos diferente, daríamos nossa resposta mostrando o quanto estamos comprometidos com o sucesso deste projeto e essa resposta se daria na forma de resultados, o que conseguimos fazer com perfeição, pois fomos e somos resilientes, dedicados a esse compromisso de aproveitar esta oportunidade para buscar mais conhecimento e uma perspectiva melhor para nosso futuro e de nossas famílias”, afirma. 

O aluno salienta a importância dos suportes que teve à disposição para ajudar nos estudos. “Os educadores foram e são ótimos, sempre nos auxiliando em tudo, e com todo esse apoio obtivemos bons resultados e conquistamos a admiração e o reconhecimento de nosso esforço. Recebemos apoio de 99% dos agentes públicos da instituição e da direção”.

Ele enfatiza ainda, que a educação é essencial para aprimorar habilidades e conhecimentos, uma ferramenta poderosa para alcançar objetivos e transformar vidas, assim como transformou a dele. “Agora já estou no último ano do meu curso na UCPel e no final do ano de 2023 realizei o ENEM e com minhas notas fui aprovado para fazer outro curso de nível superior, desta vez em outra universidade. A educação me inspira e motiva, e cria em mim um senso de direção e propósito”, declara. 

Gabriela enfatiza a necessidade de uma reconstrução do conceito de apenado, porque o acesso ao Ensino Superior permite pensar em uma forma de responsabilização que trará resultados positivos para a sociedade. “Acredito que um desafio é a comunidade abrir espaços de oportunidade de trabalho para essas pessoas que estão buscando uma transformação através do processo de educação”, expõe. Segundo ela, o objetivo da integração entre a UCPel, SUSEPE e o PRP é manter os encontros de forma trimestral, com temáticas previamente construídas em conjunto com os universitários e com os familiares.

Redação: Betânia Bierhals

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