O medo e a ansiedade são emoções normais neste período de pandemia mundial do COVID-19. O novo coronavírus tem modificado a rotina da população, seja pela necessidade de isolamento social ou home office, mas também interfere no bem-estar daqueles profissionais que atuam em áreas essenciais e permanecem no desempenho de suas tarefas. Para auxiliar colaboradores da Associação Pelotense de Assistência e Cultura (APAC), a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) criou uma série de quatro vídeos com dicas sobre saúde mental, medo, ansiedade e a nova rotina de trabalho.
Proposto pelos setores de Comunicação e Relacionamento e Gestão de Pessoas, juntamente com o Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento (PPGSC), o conteúdo trata sobre formas de lidar com as dificuldades enfrentadas no cenário excepcional que vivenciamos e foi gravado por quatro docentes da UCPel.
A supervisora de Gestão de Pessoas UCPel/HUSFP, Aline Duarte, lembra que enquanto parte das equipes está atuando exclusivamente em home office ou em modalidade de revezamento, outros colaboradores seguem suas atividades normalmente no Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e em Unidades Básicas de Saúde (UBS). “Percebemos o quanto é difícil para algumas pessoas se manterem em isolamento na atuação em home office. Sabemos que mudar a rotina de forma tão brusca não é fácil. E aqueles que estão trabalhando com revezamento de equipes estão psicologicamente abalados porque precisam continuar se expondo. Essa situação desestabiliza e agrava o comportamento das pessoas, o que é perfeitamente compreensível”, explica.
A psiquiatra Martha Abuchaim deu dicas sobre como cuidar da saúde mental nesse período sugerindo evitar o excesso de informações. “É uma enxurrada de informações sobre o vírus que nem sabemos se são verdadeiras, o que só faz aumentar a ansiedade. Evitar totalmente também não é uma boa opção, pois haverá margem para situações fantasiosas. Devemos buscar notícias de fonte segura e no máximo duas vezes por dia”, pontuou. A médica orienta ainda que, mesmo durante o home office, a rotina seja mantida. Portanto, acordar no horário habitual, manter hábitos saudáveis de alimentação e exercícios físicos também pode contribuir para o alívio da ansiedade.
O psiquiatra Ricardo Pinheiro lembrou que sentir medo é inevitável nesta condição, porém alertou para situações de pânico. “O medo se traduz muitas vezes em ansiedade, porém o pânico é a ansiedade que paralisa, é diferente. Medo e ansiedade podem ser saudáveis quando nos preparam para enfrentarmos as tarefas que virão. Tenho certeza que a ansiedade, sentida hoje por profissionais da área da saúde, será produtiva e servirá para nos adaptarmos. O pânico não nos ajudará a exercer o que precisamos, que é sobretudo proteger a nós, nossas famílias e nossos pacientes”, comenta.
A psicóloga Luciana Quevedo também falou sobre como lidar com o medo durante a pandemia. “Neste momento o medo do outro também é o meu, porém devemos evitar o pânico e lembrar que estamos unidos pela saúde e pela vida. É uma boa oportunidade para a união das equipes, para o exercício do pensamento coletivo e para pensar sobre o lugar do outro oferecendo ajuda aos colegas”, lembra.
O psicólogo Luciano Souza indica aos colaboradores a técnica de Respiração Diafragmática para relaxamento. “A ansiedade é classificada como uma emoção adaptativa, útil para o ser humano como mecanismo de proteção. No caso da pandemia, as pessoas que estão em maior risco e em situação de exposição diária podem sofrer de ansiedade com repercussão no comportamento e nas reações fisiológicas”, explica.
De acordo com o docente, a ansiedade pode refletir em um maior autocuidado, no entendimento da importância do isolamento social, na necessidade da higienização correta das mãos, desde que esses pensamentos sejam funcionais e direcionados a comportamentos protetores. “No entanto, quando essa situação extrapola os benefícios devemos agir para ajudar o corpo a lidar com essa emoção. A intenção neste momento deve ser para minimizar os sintomas mais intensos da ansiedade que podem surgir”, completa Souza.
O psicólogo indica a técnica de relaxamento chamada Respiração Diafragmática. Além de figurar entre as mais efetivas, também é bastante simples de ser aprendida e aplicada. O indicado é procurar um ambiente tranquilo e confortável. Repousar as mãos sobre o abdômen. Inspirar o ar pelo nariz lentamente, segurar por dois segundos e depois expirar o ar pela boca de forma a perceber o abdômen esvaziando por completo. Esse ciclo deve ser repetido por aproximadamente 1 minuto para amenizar as reações físicas provocadas pela ansiedade.
Redação: Mariana Santos