Uma história tecida há quase 198 anos foi composta por tramados que estarão retratados na Galeria de Arte da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Locais históricos e elementos marcantes da cultura pelotense entram em evidência na exposição “Telas de Tapeçaria Pintadas para Bordar”, de Túlio Oliver. As obras estarão em exposição de 28 de junho a 16 de julho, coincidindo com a data de aniversário de Pelotas, comemorada em 07 de julho. Em paralelo, o artista realizará uma oficina de tapeçaria bordada.
Umas concluídas, outras apenas iniciadas, outras por começar. Assim estarão as peças em exposição. O objetivo é instigar o público a lançar um olhar sobre a obra e, porque não, sentir-se impelido a completar o que falta. “Vai haver uma série de ideias quando as pessoas olharem essas telas”, apostou o artista.
“Pintando e bordando”, em sentido figurativo e também literal, o bem-humorado Túlio Oliver traz a torre do Grande Hotel, a Fonte das Nereidas e medalhões inspirados nas antigas pinturas do Theatro Guarany. Também em evidência, surgem a antiga Igreja da Luz, flores, cuja inspiração vem das guirlandas da Catedral São Francisco de Paula, e o próprio São Francisco, padroeiro do município, bordado em estilo bizantino, com fios de ouro e prata. “É a minha homenagem à cidade”, disse.
Todas as obras são criadas para serem bordadas nos pontos pelotenses – reunidos em uma pesquisa de 20 anos -, resultando em novas técnicas e maneiras de bordar tapeçaria.
A proposta de trazer telas inacabadas é um convite ao público. “O bordado é um artesanato relaxante, confortante e alvissareiro. O mundo hoje borda como nunca”, salientou.
Oficina
De 05 a 09 de julho, Túlio Oliver ministrará a oficina “Tapeçaria Bordada”, na UCPel. Durante a atividade, o artista ensinará o ponto de nó gaúcho, criado por ele, mais outros dois de sua autoria, e outros. As inscrições podem ser feitas na secretaria da Pró-Reitoria Acadêmica da Católica, pelos telefones (53)2128-8262 ou 2128-8012. As aulas serão ministradas na sala 206 B, no Campus I, das 14h às 16h. O investimento é de R$ 60,00, valor destinado à compra dos kits com o material a ser utilizado na oficina.
Dedicação à arte
Filho de portugueses, Túlio Oliver nasceu em Pelotas. Desde cedo, foi atraído pelos materiais que hoje são parte essencial de seu dia-a-dia: fios de lã e linha, cores e lápis que usava para arriscar desenhos traçados nos móveis da casa, quando criança. Até mesmo pregos serviam para o garoto entalhar madeira em suas experimentações.
Suas grandes inspirações foram Benette Casaretto, pintora de flores - e, segundo o artista, a melhor aluna de Aldo Locatelli - Nesmaro, pintor uruguaio, Adail Bento Costa e Luiz Notari.
Na juventude, sentiu despertar a vocação religiosa, e entrou no Seminário, em Montenegro. Mas a arte falou mais alto, e Oliver foi morar em Salvador, na Bahia, onde passou 13 anos. “Lá me descobri como pessoa e conheci artistas maravilhosos”, destacou o artista, que atuou como pintor de rua: pegava o cavalete e ia para a via pública retratar o casario baiano. Depois o mar. E rendeu-se ao universo da tapeçaria pintada para bordar.
Voltou a Pelotas para férias. “Faz mais de 30 anos que estou ‘de férias’ aqui”, diverte-se o artista. Atuou como pintor e cenógrafo de balé clássico. No fim da década de 90, em Porto Alegre, foi responsável pelo cenário do balé “O Quebra Nozes”. O trabalho rendeu a Túlio Oliver o Troféu Açorianos de 1997 como Melhor Cenografia para Balé Clássico do estado.
O artista plástico autodidata hoje atua também como restaurador e “santeiro”, ou seja, criador de imagens de santos. “Sou um herói brasileiro. Vivo da arte”, arrematou.