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Trabalho realizado no CAPS é reconhecido em evento nacional
24.07.2012 | 16:05 | #psicologia
Trabalho realizado no CAPS é reconhecido em evento nacional
O professor que coordena as atividades do projeto Felizarte no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Escola), Izamir de Farias, apresentou dois trabalhos sobre terapias alternativas no 3º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, que ocorreu em junho deste ano, em Fortaleza, Ceará.

O primeiro trabalho é uma dissertação feita em conjunto com a artesã do CAPS Porto, Milene Gouveia. O artigo, intitulado As oficinas terapêuticas e o convívio social do portador de transtornos mentais usuário do CAPS em Pelotas: Um breve histórico, trata da importância das atividades extra CAPS para o convívio social dos usuários. Nesse tipo de atividades, enquadram-se viagens, visitas a exposições de arte entre outras, cujo objetivo é o aprimoramento da cultura geral. Após estes passeios são debatidas experiências e observações peculiares entre os usuários, traçando uma análise comportamental e psicológica.

“Essa proposta extra CAPS promove uma auto valorização como ser humano. Observamos que há adoção de novos comportamentos e valores, demonstrando que a vida não deve ser limitada e que existem diversas pessoas passando pelas mesmas dificuldades”, ressaltou Farias.

Seu segundo trabalho apresentado no congresso tratou do tema Reinserção Social através da música no CAPS Escola. Para um público de diversas localidades do país, Farias propôs um resgate da trajetória do Felizarte e a discussão de toda a complexidade em torno da relação paciente/ sociedade e o tratamento convencional. “Foi muito gratificante ter o trabalho reconhecido. Milhares de pessoas discutindo assuntos na qual nos empenhamos demonstra que não estamos sozinhos na luta por um melhor tratamento aos pacientes. Foi um evento fantástico”, relatou o professor, que, também, ressaltou o grande número de interessados, de todo o país, em obter mais informações sobre a abordagem e procedimentos diferenciados adotados na instituição em Pelotas.

O coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fundação Oswaldo Cruz (Laps/ENSP/Fiocruz), Paulo Amarante, esteve presente no Congresso. Autor do livro Arte e saúde mental, em parceria com Fernanda Nocam, Amarante aborda justamente o tipo de atividades não convencionais defendidas por Farias, propondo novos saberes através da música, teatro, dança, artesanato e outras manifestações artísticas. Em conversa com Farias, ele elogiou o trabalho realizado pelos CAPS da região Sul e comentou a importância da continuidade das atividades para a “desencapsulação” dos usuários, por meio da arte, fazendo um trocadilho entre a palavra CAPS e a abordagem integradora do trabalho. 

Além de Amarante, o evento contou com a participação do psiquiatra italiano Ernesto Venturini e do psiquiatra argentino estudioso em psicanálise Antônio Lancetti. 
Para aposentado e membro do grupo Felizarte Uilson Santos, as atividades do CAPS servem para constituir uma grande família. Além de proporcionar novas perspectivas de vida. “Diferentemente de alguns familiares que nos discriminam, aqui todos nós somos aceitos. Sentimos-nos felizes por divulgarmos nosso trabalho em apresentações e ter reconhecimento por isso”, comentou, ao acrescentar que considera a arte o melhor remédio para que se possa viver feliz. “A vida recomeça aqui [no CAPS]. A música teve um grande papel transformador na minha vida e de todos os integrantes do Grupo Felizarte”.

Carreira de dedicação
Desde 1998, enquanto ainda era estudante de Licenciatura em Artes na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Farias começou seu envolvimento com atendimento a serviços de saúde mental, trabalhando com Unidades Básicas de Saúde (UBS). Como parte de um curso de extensão chamado Arte e Saúde, teve início seu comprometimento em estabelecer uma melhora na qualidade de vida dos portadores de transtornos mentais.

“Fui convidado em março de 1998 a participar das oficinas propostas pelo curso de extensão e logo senti afinidade com o assunto. Passamos, assim, desde então, a relacionar arte e expressão no processo terapêutico”, destacou Farias. 

Em 2001 começou seu trabalho com diversos CAPS da região, aprofundando as experiências com o desenvolvimento da linguagem através da arte. Farias afirma que esse período foi decisivo para sua formação profissional, pois possibilitou muita pesquisa e aprofundamento na área, além da descoberta dos efeitos cognitivos positivos da arte entre os pacientes. “Notamos, desde o começo dos trabalhos, que a capacidade de expressão de sentimentos através da música, dança e teatro, melhora o convívio social e a qualidade de vida”, disse.

O Felizarte surgiu há aproximadamente sete anos e foi uma remodelação das atividades realizadas por Izamir. Seu nome tem origem da união das palavras “feliz” e “arte”. Nas atividades que ocorrem na sede do CAPS Escola, todas as segundas-feiras, são abordadas técnicas vocais e de percussão, em conjunto com exercícios de ritmo e harmonia. “O intuito dessas atividades é proporcionar a reinserção social do indivíduo através da arte. O Felizarte faz com que o usuário saia na rua e possa mostrar do que é capaz. Obtendo o reconhecimento pelo bom trabalho e desempenho, é desenvolvido outro olhar sobre os frequentadores dos CAPS, gerando admiração por serem capazes de realizar algo”, afirmou o professor.
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