A leitura realizada através da tela do computador e as posturas adotadas pelos leitores nesse processo são a principal temática de trabalho de dissertação do Mestrado em Letras da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). No trabalho, intitulado Leitura Digital: Um contexto diferente, uma postura diferente, a mestranda Martina Blaas defende que a leitura digital, devido aos recursos disponíveis, também pode ser muito rica na transmissão de informações, tanto ou até mais que o texto impresso.
Conforme Martina, a ideia de trabalhar este tema nasceu devido à alegação de que os brasileiros leem pouco. “Acredito que essa afirmação não é verdadeira, pois em função do acesso à internet a população está lendo mais”, defende. Outro fator propulsor para a realização do estudo foi que o uso do computador poderia facilitar a aprendizagem de língua estrangeira.
Na pesquisa, a leitura foi entendida como uma prática de interação, uma atividade em que o leitor interage e se relaciona com o texto, com o autor, com o contexto e com a ferramenta (livro, computador e outros suportes). Segundo a mestranda, um dos aspectos a serem considerados sobre a leitura digital é que ela pode ocorrer junto a outras tarefas e até mesmo outras leituras. “Nesse ambiente, a leitura pode ser diferente”, explica, enfatizando que tanto a leitura em texto impresso quanto através do computador têm objetivos e espaços diferentes. “Uma não vem para excluir a outra, não existe uma melhor e sim a que é mais adequada para cada momento”.
Análise
Para compor o corpus (objeto de análise) foram selecionados alunos de língua estrangeira e leitores de texto digitais, pois a mestranda quis verificar como a leitura fora da sala de aula poderia influenciar a postura como estudante. “Os alunos ainda leem pouco em língua estrangeira e quando leem é para estudo através de artigos. Textos diversos não são muito acessados. Parece que essa leitura ocorre por obrigação”, diz, explicando que a expectativa inicial de que a leitura digital poderia contribuir para auxílio na aprendizagem de outra língua foi derrubada.
Para realização da pesquisa, cinco alunos foram selecionados para responder a um questionário. Logo após a seleção, ocorreu encontro individual, dividido em duas etapas, onde os alunos participaram de entrevista semi-aberta e depois realizaram leitura de três textos em língua estrangeira. “Dois textos foram definidos por mim e um pelo participante”, contou. Os textos ofereciam recursos como links, vídeo, imagem e tradutor de idiomas. “Logo após a leitura, o participante relatava oralmente a experiência, que era gravada em áudio e vídeo acoplados no computador, o que tornou o relato mais espontâneo”, explicou.
Conclusões
Uma das conclusões sobre a comparação entre leitura digital e texto impresso é que os estudantes acabam preferindo o impresso devido à possibilidade da marcação. “Isso ocorre porque na leitura online eles não utilizam muitos dos vários recursos existentes e não acessam dados complementares disponíveis através de links”, explica. Ela ainda ressalta que a utilização de recursos digitais para a leitura exige do leitor a concepção de que se movimentar em espaços diferentes implica uma outra postura.
Quanto à dicotomia leitura em papel versus leitura digital, a estudante constatou que a leitura em papel ainda ocupa espaço muito grande na vida das pessoas. “Porém é importante destacar o crescente número de leitores que estão se adaptando e conhecendo as vantagens e desvantagens da leitura digital”, explica. Segundo ela, a comparação entre ambos os contextos de leitura ocorre para que se possa conhecer as mudanças exigidas dos leitores.
A defesa do trabalho ocorreu no dia 22 de março e contou com a presença da professora Christiane Heemann (UFSC), da professora Fabiane Marroni (UCPel) do professor Vilson Leffa (UCPel), orientador da mestranda e presidente da banca.