“Se eu não desligar a luz de novo vai acontecer alguma coisa com os meus filhos”. A frase é da enfermeira aposentada M.G.R.P., 65 anos. Mãe de dois filhos e avó de uma neta, M. G. é portadora de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e participou do tratamento gratuito oferecido pelo ensaio clínico do Ambulatório de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
M.G. conta que descobriu o TOC há dez anos, mas diz acreditar sempre ter carregado o transtorno. Com o passar do tempo, ele foi se intensificando e, principalmente, atrapalhando mais a sua vida. No caso dela, o TOC se identifica através de comportamentos como acender e apagar luzes repetidamente e também com relação à limpeza, como lavar a louça várias vezes.
Essas repetições, entretanto, têm um motivo. Elas se dão justamente quando surgem os pensamentos ruins, tais como o medo de que aconteça algo grave com um familiar. Assim, a pessoa tende a ficar presa naquele pensamento e só para de repetir o que está fazendo quando consegue parar de pensar naquilo. “São repetições de pensamentos negativos”, explica. “Não é questão de acreditar que vai acontecer, é questão de que te domina”, completa.
Ela conta, ainda, que o TOC gera angústia e que atrapalha muito a rotina, pois as atividades demoram muito mais tempo para serem executadas, o que às vezes faz com que, por exemplo, percam-se compromissos importantes.
Se esses hábitos atrapalham a vida ou não, é uma das principais reflexões a se fazer para saber se é a hora de procurar tratamento, de acordo com a professora Luciana Quevedo. Com a participação de doutorandas, mestrandas e alunas de iniciação científica, Luciana coordena o ensaio clínico da UCPel.
Primeiramente, é feito um diagnóstico da pessoa que procura o Ambulatório de Pesquisa para verificar se ela de fato apresenta o TOC, pois, segundo Luciana, é possível que se apresente de forma isolada algum comportamento referente sem que se caracterize o transtorno, como é o caso de uma simples mania. Caso o diagnóstico se confirmar, o paciente será encaminhado para o ensaio clínico que contempla de sete a 14 sessões de terapia, além de uma avaliação familiar, pois, muitas vezes, a família do portador de TOC tem preconceito com a doença ou adapta toda sua estrutura a ela.
O projeto tem por objetivo verificar a eficácia do tratamento. No caso da aposentada M.G., as coisas já melhoraram devido à conversa e as técnicas aprendidas durante as dez sessões de terapia que participou. O ensaio clínico do Ambulatório de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da UCPel é aberto a todos que se identifiquem com os sintomas do TOC, que também contempla comportamentos como lavar as mãos excessivamente, necessidade de deixar as coisas organizadas simetricamente ou conferir as coisas várias vezes. Os interessados em receber o tratamento devem entrar em contato através de um destes números de telefone: (53) 8151-2871, (53) 8454-4704 ou (53) 2128-8404.