Um estudo comparativo entre Barcelona, na Espanha, e Pelotas analisou a incidência da Síndrome de Burnout em profissionais da saúde de ambas as cidades. A síndrome, caracterizada pelo esgotamento profissional, geralmente é desencadeada por períodos prolongados de estresse, desgaste físico e desgaste emocional. “Síndrome de Burnout em profissionais da saúde: um estudo de colaboração entre Brasil e Espanha” foi desenvolvido pela professora Ana Laura Cruzeiro em sua tese de Doutorado realizada para o Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), com modalidade sanduíche na Universitat Ramon Llull, em Barcelona.
Para a coleta de dados, Ana Laura passou seis meses na Espanha, onde atuou numa primeira etapa da pesquisa, desenvolvida por alunos da Ramon Llull, envolvendo 605 médicos de 93 Centros Hospitalares de Barcelona. Para avaliação da síndrome, considerou três dimensões básicas: exaustão emocional, despersonalização – falta de vínculo com o paciente – e redução na realização pessoal. Essa primeira parte se caracterizou por um estudo transversal com médicos de atenção primária – que realizam o primeiro contato com o paciente –, onde foi constatado que a incidência do transtorno está mais associada aos solteiros e a pessoas com apenas um filho, em relação aos casados e com vários filhos.
Outro aspecto destacado foi a aparição mais presente da síndrome em médicos que realizavam o maior número de visitas domiciliares, atividade bastante comum no sistema de saúde espanhol. Profissionais com baixa competência – que não se sentem tão preparados para a atividade que desempenham – apresentaram chances três vezes maior para desenvolvimento da síndrome. A baixa satisfação com o trabalho também se mostrou como um fator de propensão: médicos insatisfeitos têm seis vezes mais chances de desenvolverem Burnout do que os mais realizados com suas carreiras.
Comparativo
A segunda parte do estudo, que diz respeito especificamente à tese de Ana Laura, foi focada no próprio comparativo entre as duas realidades. Em Pelotas, a pesquisadora coletou dados com 164 trabalhadores de emergência – médicos e enfermeiros - de hospital e de atenção primária. Especificamente, das três Unidades Básicas de Saúde da UCPel, do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e do Pronto Socorro de Pelotas, estabelecendo um comparativo com um universo de três Centros Hospitalares de Barcelona. A intenção foi que houvesse um equilíbrio entre o contingente de profissionais de ambas as cidades.
Como resultado, Ana Laura não verificou a prevalência dos dados, mas as suas médias. Barcelona apresentou médias superiores nas três dimensões avaliadas, em comparação a Pelotas: maior exaustão emocional, maior despersonalização e, no entanto, maior realização profissional.
Dentre os demais resultados apontados, verificou-se associação da síndrome ao gênero masculino apenas em Barcelona. A quantidade de anos trabalhados nesta cidade estabeleceu relação direta com altos índices de despersonalização e exaustão emocional. Já em Pelotas, percebeu-se que médicos apresentaram maiores médias do que profissionais da equipe de enfermagem, tendo os trabalhadores de urgência apresentado maiores níveis de despersonalização.
Tais resultados consideram que as diferenças podem estar associadas, também, às particularidades entre as duas cidades e aos dois países analisados. Ainda assim, o estudo é importante por ser um dos poucos que compara a Síndrome entre duas realidades distintas. Também, é um dos poucos que avalia a condição considerando-se as três dimensões, onde a incidência do transtorno aparece numa sequência que acaba reduzindo a sensação de realização profissional. “É importante se estabelecer diagnósticos precisos, onde é necessário se verificar altos níveis das duas primeiras [dimensões] e baixos níveis de realização”, finalizou Ana Laura.