O professor do curso de Medicina da UCPel, Augusto Bittencourt, publicou artigo em um periódico de neuropsiquiatria vinculado à Universidade de Cambridge (Inglaterra). O estudo investiga trajetórias alteradas de desenvolvimento cerebral relacionadas ao estresse precoce e como elas podem repercutir, no futuro, em um aumento da vulnerabilidade para o desenvolvimento de transtornos por uso de substâncias durante a idade adulta.
Estatisticamente, os mais pobres, menos instruídos e criminalizados têm maiores chances de sofrerem agressão, violência psicológica e/ou sexual na infância, caracterizando, assim, o estresse precoce. O conjunto dessas vulnerabilidades acaba por tornar esses indivíduos mais suscetíveis ao transtorno por uso de cocaína e crack.
“O nosso trabalho foi o primeiro a encontrar a mediação feita pelos traumas na infância nas alterações cerebrais dos usuários de crack e cocaína”, enfatiza Bittencourt. De acordo com o docente, o estudo aponta que deve-se lidar com a dependência química como um problema social que se inicia na infância, com os maus tratos infantis.
Foram analisados 78 usuários de cocaína e crack internados em estabelecimentos públicos para tratamentos de transtornos aditivos; e 53 participantes sem qualquer diagnóstico neuropsiquiátrico. Nestes foram aplicados testes e avaliações clínicas. Alguns fatores físicos e sociais foram levados em consideração para autenticidade da comparação.
Os resultados do estudo fornecem evidências que sugerem um suposto mecanismo pelo qual a exposição ao estresse precoce pode criar um substrato cerebral de vulnerabilidade para o desenvolvimento de dependência do uso de crack e cocaína. Os dados coletados também demonstram que os maus-tratos na infância estão associados com alterações plásticas nas regiões cerebrais que envolvem regulação de emoções, antecipando, portanto, uma suscetibilidade aos transtornos aditivos.
Apesar de considerados resultados preliminares, o artigo não descarta o fato destes serem úteis biomarcadores no fornecimento de avaliação precoce que podem evitar ou diminuir o risco de uma dependência. Além disso, os exames por neuroimagem podem contribuir para terapias mais personalizadas em transtornos psiquiátricos que envolvam o trauma na infância.
O artigo, redigido em conjunto com outros sete autores, foi publicado entre outros artigos de pesquisa originais considerados de alta qualidade pela Acta Neuropsychiatrica, uma revista internacional com foco em neuropsiquiatria translacional.
Redação: Caroline Albaini