No livro bíblico da “Sabedoria”, atribuído ao rei Salomão, encontramos no capítulo 9 a “Prece de Salomão pela Sabedoria”. Só para lembrar: a Sabedoria bíblica é a “arte do discernimento para a vida” (a não-sabedoria é o discernimento para a morte). Essa “arte do discernimento para a vida” atinge todas as dimensões humanas. Também a dimensão da Sabedoria política enquanto “discernimento para a vida do bem comum” (jamais o discernimento para a morte do bem comum).
O rei Salomão é considerado o “grande rei sábio”: pediu a Sabedoria e reinou com a Sabedoria. Já no capítulo 8 do livro bíblico da “Sabedoria”, Salomão afirma a sua conduta em relação a Sabedoria de Deus: “Eu amei a Sabedoria, busquei-a desde a juventude e a pretendi como esposa, apaixonado pela sua beleza” (8,2). “Decidi, pois, tomá-la por companheira de minha vida, sabendo que me seria conselheira para o bem e conforto nas preocupações e na tristeza” (8,9). “Conhecedora da ciência de Deus é a Sabedoria quem seleciona a suas (de Deus) obras” (8,4).
A partir dessa conduta do rei Salomão, vem, então, no capítulo 9 do livro bíblico da “Sabedoria”, a sua “Prece pela Sabedoria”. Essa prece não deveria ser a prece de cada político de todos os tempos para “governar” com a Sabedoria? É urgente termos “governantes sábios”, como foi o rei Salomão.
Proponho seguirmos Salomão em sua súplica pela Sabedoria, assim como ele a expressou no capítulo 9 do livro da “Sabedoria”. E inspirado nessa sua “Prece pela Sabedoria”, deixarmos explícita uma possível prece de cada político escolhido para o seu exercício com a Sabedoria.
Salomão: “Ó Deus de meus pais e Senhor de misericórdia, tudo fizeste com a tua Palavra, com tua Sabedoria criaste o ser humano e com tua Sabedoria governas o mundo com santidade e justiça” (9,2-3). Político: Dai-me consciência, ó Senhor! Eu preciso de Deus criador, santo e justo.
Salomão: “Dai-me a Sabedoria que se assenta contigo no teu trono e não me excluas do número dos teus filhos” (9,4). Político: Dai-me clareza, ó Senhor! Eu dependo da Sabedoria de Deus.
Salomão: “Por mais que alguém dentre os mortais seja perfeito, se lhe faltar a tua Sabedoria, será considerado com nada” (9,6). Político: Dai-me compreensão, ó Senhor! O que sobra de mim se faltar a Sabedoria?
Salomão: “Tu me escolheste para rei do teu povo e juiz dos teus filhos e filhas” (9,7). Político: Dai-me forças, ó Senhor! A beleza do meu serviço ao bem comum é a escolha da Sabedoria de Deus.
Salomão: “A tua Sabedoria sabe o que é agradável aos teus olhos e o que é correto conforme os teus preceitos” (9,9b). Político: Dai-me sensibilidade, ó Senhor! O que agrada e é correto para Deus, isso dá alegria.
Salomão: “Manda a Sabedoria dos teus sagrados céus e faze que ela venha do teu trono glorioso e eu saiba o que é agradável diante de ti” (9,10). Político: Dai-me abertura, ó Senhor! Estar imbuído da Sabedoria de Deus me faz ser “um artista do bem comum”.
Assim, eis a prece salomônica do político: “Dai-me consciência, ó Senhor! Eu preciso de Deus criador, santo e justo. Dai-me clareza, ó Senhor! Eu dependo da Sabedoria de Deus. Dai-me compreensão, ó Senhor! O que sobra de mim se faltar a Sabedoria? Dai-me forças, ó Senhor! A beleza do meu serviço ao bem comum é a escolha da Sabedoria de Deus. Dai-me sensibilidade, ó Senhor! O que agrada e é correto para Deus, isso dá alegria. Dai-me abertura, ó Senhor! Estar imbuído da Sabedoria de Deus me faz ser “um artista do bem comum. Amém!”
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas