Estudo realizado no mestrado em Engenharia Eletrônica e Computação da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) pode qualificar o processo de avaliação auditiva, prática clínica que permite diagnosticar a perda causada nos níveis fisiológico ou neurológico de uma pessoa. O trabalho, de autoria do mestrando Gustavo Ott, com orientação do professor Sérgio Almeida e co-orientação do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Márcio Costa, será defendido nas próximas semanas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 5% da população mundial - cerca de 360 milhões de pessoas - tem perda auditiva incapacitante. Um universo formado por 328 milhões de adultos e 32 milhões de crianças. Diante desse cenário, e a fim de buscar soluções de processamento digital de sinais que permitam reduzir o tempo necessário para a avaliação auditiva, nasceu a dissertação. A partir de um cálculo matemático, é otimizada a análise da técnica conhecida como Resposta Auditiva de Estado Estável (RAEE).
Ott é engenheiro eletrônico graduado pela UCPel e atua profissionalmente na empresa Contronic Sistemas Automáticos, que desenvolve equipamentos para a área de diagnóstico médico. Estar inserido nesse contexto fez com que ele percebesse a necessidade de evolução da RAEE. "Vi na linha de pesquisa de Processamento de Sinais do mestrado a oportunidade de aprofundar meu conhecimento na matemática, aliando-a com a Engenharia Biomédica, área em que já atuo há mais de 10 anos. Isto me motivou a trabalhar no exame da RAEE com o intuito de reduzir o tempo de detecção desta resposta em um paciente, sem comprometer o grau de confiabilidade da avaliação clínica do mesmo", explicou o autor da pesquisa.
Conforme o orientador, existem diferentes técnicas para avaliar o limiar auditivo da pessoa, como audiometria, quando o examinado faz sinais para dizer que está escutando. "Mas há casos de dificuldade na avaliação, como o de crianças ou de pessoas com mobilidade restrita", exemplifica Ávila, ao destacar um dos pilares do trabalho. Outro ponto favorável do estudo é que o teste permite localizar, através de encefalogramas, as frequências que a pessoa tem dificuldade de detectar, algo incomum em outros testes. "A RAEE permite avaliar em quais frequências o paciente tem maior resposta ou não, nos dois ouvidos", pontua Ávila.
Diagnóstico mais rápido
O exame é demorado. Com a tecnologia à disposição hoje, leva-se de 50 minutos a uma hora para aplicar a RAEE. A ideia do trabalho desenvolvido na UCPel é que, através de técnica matemática baseada em algoritmos, a interpretação se há uma deficiência auditiva seja feita com poucas amostras. "Trabalhar para reduzir esse tempo de aplicação tem ganhado muita atenção no mundo. O sonho de qualquer médico que faz a avaliação é realizá-la em 10 minutos. Por isso, o que buscamos é exatamente a velocidade", reforça o professor.
Para Ott, a redução de tempo oferece duas vantagens principais. A primeira tem viés econômico, visto que uma clínica poderia realizar maior número exames em determinado período. A segunda está relacionada ao conforto do paciente, que é examinado em tempo menor. "Este segundo aspecto se torna ainda mais importante para o caso de bebês ou crianças com pouca idade, pelo fato de poderem se tornar inquietos quando submetidos a processos com longo tempo de duração", exemplifica o mestrando.
Funcionamento e futuro
A expectativa de Ott é traçar uma avaliação de métodos para processamento de sinal da RAEE em sistemas com captação bioelétrica em múltiplos canais e apontar um ou mais métodos que ofereçam redução do tempo de detecção desta resposta, preferencialmente com uma baixa complexidade computacional. Como o estudo faz parte de um mestrado acadêmico, a ideia é focar em publicações científicas, em revistas e congressos, salienta o orientador.
Mas conforme o autor, também há a proposta de continuidade do estudo após o mestrado, com a aplicação prática de um ou mais métodos cujos desempenhos tenham destaque nas métricas de tempo de detecção e complexidade computacional em RAEE's obtidas em pacientes reais. "Com isto, a implementação do estudo visando a redução do tempo de avaliação das RAEE's, assegurando-se diagnósticos confiáveis, passaria a se tornar uma realidade prática no mercado de diagnóstico clínico, podendo oferecer maior conforto a paciente e aumentando a receita de clínicas médicas", adianta o mestrando.