Pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel/PPGSC) identificou o antioxidante glutationa como potencial biomarcador para prevenção ao risco de suicídio em mulheres. O estudo, ligado ao Núcleo de Pesquisa em Neuronergética e Neuroproteção (NUPENN), analisou 45 mulheres após 18 meses do parto e foi publicado na revista internacional Frontiers in Psychiatry.
À frente do estudo, o professor Adriano de Assis explica que várias pesquisas vêm demonstrando que doenças neuropsiquiátricas como depressão, ansiedade, tentativa de suicídio, por exemplo, estão relacionadas a desiquilibrios no cérebro como o aumento de oxidantes e diminuição dos antioxidantes (caso da glutationa). “Até onde sabemos, esse foi o primeiro estudo a examinar a glutationa em mulheres com risco de suicídio. Além disso, os dados também poderão contribuir na avaliação de outros estudos sobre o estresse oxidativo em transtornos do humor”, explica.
Biomarcadores sanguíneos são importantes por identificarem alterações biológicas, o que facilita o diagnóstico ou ajudam a identificar riscos de ocorrência de doenças. “Nós estávamos procurando justamente isso e vimos que a glutationa pode ser um forte candidato”, afirma.
No Brasil, ocorrem cerca de 10 mil mortes por suicídio ao ano. Mulheres são mais propensas a desenvolverem depressão do que homens. Estima-se que o risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com depressão seja de 6% a 15%, sendo que o risco de um homem sofrer da doença é de 11%, enquanto o de uma mulher pode chegar a 18,6%.
Para analisar os níveis de oxidantes e antioxidantes, o estudo contou com a participação de 45 mulheres, após 18 meses do parto, integrantes de uma pesquisa de Coorte, intitulada Gravidez Cuidada, Bebê Saudável. 15 delas foram classificadas no grupo de controle (que não tinham nenhum tipo de transtorno) e 30 mulher com o diagnóstico de transtorno bipolar ou depressão maior.
“A incidência de suicídio vem aumentando e, atualmente, representa a maior causa de mortalidade entre pessoas de 15 a 44 anos. Isso foi um dos motivos da escolha da nossa amostra, que está dentro dessa faixa etária e isso pode explicar a alta prevalência de mulheres com risco de suicídio neste estudo”, analisa o docente.
Das participantes do estudo da UCPel, 24,4% corriam o risco de suicídio devido a terem apresentado indices mais baixos do antioxidante glutationa, dado preocupante do ponto de vista da saúde da mulher.
Embora a pesquisa da UCPel seja preliminar, corrobora com outros estudos que também examinaram as concentrações da glutationa no soro e no plasma e, da mesma forma, encontraram o antioxidante em níveis mais baixos em pacientes com transtorno depressivo maior.
A Revista Frontiers in Psychiatry possui um fator de impacto alto, de 5,4. Comparado ao sistema brasileiro de avaliação, o Qualis, estaria dentro do conceito A3. Conforme Assis, outro ponto positivo de publicação em uma revista com o porte da Frontiers é sua repercussão na comunidade científica por ter um sistema aberto aos pesquisadores e leitores. Da mesma forma, também mensura o número de visualizações e compartilhamentos em redes sociais. Até a primeira quinzena de março, o artigo já tinha mais de 400 visualizações.
Além de Assis, os pesquisadores Paula Michele da Silva Schmidt, Jéssica Trettim, Aline Longoni, Mateus Grings Mariana Bonati de Matos, Luciana de Avila Quevedo, Ana Paula Ardais, Fernanda Nedel, Gabriele Ghisleni, Guilhian Leipnitz e Ricardo Pinheiro integram o estudo, feito em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Redação: Rita Wicth - MTB 14101