A percepção do paciente sobre si é fundamental, em especial quando se fala em saúde mental. Um estudo elaborado pelo curso de Psicologia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) buscou avaliar como está esse entendimento em pacientes atendidos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Escola). O índice foi animador: 98% dos entrevistados disse que sua saúde melhorou de maneira geral. A grande maioria respondeu que o tratamento ajudou a se sentir melhor.
A pesquisa incluiu questões demográficas e socioeconômicas, juntamente com itens que avaliam atividades e saúde física, aspectos psicológicos e sono, relacionamentos e estabilidade emocional. O estudo foi conduzido pelo acadêmico Zamir Dutra dos Santos, com a orientação do professor Tiago Neuenfeld Munhoz.
A maior mudança percebida foi em relação aos problemas pessoais. O item com menos mudança estava relacionado à sexualidade dos pacientes e o aspecto com maior índice de piora foi saúde física. Diferenças em relação às variáveis demográficas e socioeconômicas não foram constatadas.
De acordo com a pesquisa, os pacientes creditaram sua percepção de melhoria geral à medicação e à participação nas oficinas terapêuticas, onde conseguem se sentir melhor, diminuindo a tensão e a ansiedade.
Analisando a questão, o professor traça um paralelo em relação à medicação e às oficinas. Segundo ele, há a hipótese de que a medicação psiquiátrica ajuda emocionalmente o paciente mas poderia trazer efeitos colaterais, que explicariam a sensação de piora na saúde física apontada pela pesquisa. "A proposta de ressocialização dos CAPS propõe outras formas que não só a medicação - que não deveria ser seu principal atrativo. As oficinas, e outras formas de lidar com a saúde mental também funcionam, embora às vezes as pessoas foquem na medicação", pontuou.
Atuação
De acordo com o professor, a pesquisa aponta caminhos para o trabalho dos CAPS, indicando em quais aspectos o serviço está sendo efetivo no entendimento do usuário e quais devem ser reavaliados.
No entanto, este parece ser apenas um dos benefícios. Para o próprio usuário, a percepção é fundamental para a continuidade no tratamento. Na área de saúde mental, explica Munhoz, se não existe sensação de mudança a tendência é o abandono do tratamento que, nesta área, exige tempo e dedicação da própria pessoa. "Isso faz com que elas se mantenham no tratamento ou não. É decisivo".