Desde 2013, as relações sobre o racismo viraram objeto de estudo de acadêmicos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Liderados pela professora Carla Ávila, o grupo tornou-se recentemente projeto de extensão e terá pela frente um novo desafio: refletir junto da comunidade questões sobre identidade, democracia racial, diversidade, afirmação da raça negra, entre outras dificuldades vivenciadas por moradores de bairros periféricos.
A primeira atividade do projeto de extensão ocorreu no bairro Jardim Europa para crianças de 8 a 12 anos. Através de uma oficina, a discussão racial foi tratada de forma lúdica, mas sem descuidar da importância do tema. Proposta pela acadêmica do curso de Serviço Social, Suzana Cardoso, a ideia da atividade surgiu ao tomar conhecimento de que alunos de uma escola estavam sofrendo racismo. “Diante disso, vi a importância de tratar do tema para fortalecer a autoestima das crianças negras e mostrar às crianças brancas a importância do respeito às diferenças”, justifica.
Para o segundo semestre, o grupo já possui diversos convites. O bairro Navegantes, uma comunidade de umbanda, o Centro Atendimento de Integração à Criança (CAIC), já solicitaram a presença dos acadêmicos para a realização de atividades. A Secretaria de Cultura de Pelotas acerta parceria com o grupo.
Conforme explica a professora Carla, as atuações junto à comunidade são precedidas de várias leituras, com o objetivo de promover a problematização de todas as relações que permeiam o racismo. A participação no projeto de extensão ainda inspira a realização de trabalhos de conclusão de curso e apresentações dos resultados em eventos acadêmicos. Em sua sétima edição, o evento Consciência Negra UCPel: Amplie a Sua! celebra o trabalho realizado anualmente através da discussão de assuntos de interesse da comunidade e ocorre sempre no mês de novembro.
Discussão ainda necessária
Na avaliação da docente, o racismo segue muito presente no imaginário social, mesmo depois da declaração da Unesco sobre a inexistência de raças. “Dados do mapa da violência, em que jovens negros sem estudos são as maiores vítimas, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, sobre desigualdades entre negros e brancos, comprovam que a grande parte dos atingidos são negros”, argumenta.
Carla também lembra a responsabilidade da ciência na elaboração de teorias racistas. “Mesmo tendo contribuindo muito para a formulação do racismo, a academia também construiu muita teoria para desconstruir o preconceito, o problema é que ela não chega aonde precisa”, explica. De acordo com a docente, levar a oficina aos bairros é uma forma de enfrentar o achismo e o senso comum através de dados científicos.
O trabalho desenvolvido pelo grupo, destaca Carla, segue a prática extensionista desenvolvida pela UCPel. “Nossa igualdade é na nossa diferença, respeitar o outro, a opinião divergente, a diversidade – longe dos padrões impostos pela mídia – encontra respaldo através da teoria”, complementa.
Neste semestre letivo, o grupo estuda textos sobre a psicologia social do racismo. A partir de leituras, a criação de oficinas – que levam em consideração o processo construído por vários olhares - são criadas. Outros temas como mídia e racismo, inserção do negro na escola, políticas afirmativas, a mulher negra no telejornalismo, por exemplo, foram objeto de estudo e pesquisa.
O grupo de acadêmicos e bolsistas realiza encontros semanais nas sextas-feiras, das 18h às 19h, na Capelania Universitária, localizada no Campus I da UCPel. O projeto de extensão está aberto a participação da comunidade. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail carla.avila@ucpel.edu.br .
Redação: Rita Wicth – MTB 14101