O professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Lino de Jesus Soares, de 86 anos, deixará as salas de aula a partir do dia 31 de julho. O entusiasta da matemática aderiu recentemente ao Programa de Demissão Voluntária (PDV), criado pela Universidade para valorizar funcionários com muito tempo de casa. Foram 68 anos dedicados ao ensino da disciplina, mas a aposentadoria definitiva passa longe dos planos futuros do docente.
Autor de oito livros didáticos adotados em inúmeras instituições no país, Lino já lecionou em muitos colégios pelotenses, palestrou em diversos estados do Brasil e em países da América Latina. Mesmo tendo recebido muitos prêmios e homenagens, o real reconhecimento profissional foi obtido ao perceber sua contribuição para o desenvolvimento dos alunos. “É indescritível a sensação de ver uma pessoa crescer intelectualmente e ter a noção que colaborou para isso”, disse.
Autoditada no aprendizado da matemática, começou a ensinar seus vizinhos aos 17 anos. Em seguida, foi trabalhar na Escola de Comércio São João e posteriormente passou a lecionar nos colégios Salles Goulart e Santa Margarida. Devido aos novos desafios profissionais, o professor buscou a formação universitária. “Eu e um colega procuramos Dom Antônio Zattera, que recentemente tinha criado a UCPel, para pedir a implantação do curso de matemática”, lembra.
Em 1975, logo após a conclusão da graduação na Católica, iniciou sua história como docente da instituição, papel que cumpriu juntamente com sua atuação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Da UCPel, saiu em 1987 e a convite do reitor da época, Jandir Zanotelli, retornou em 1995.
Para alguém tão ativo, a decisão pela adesão ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) da UCPel demandou esforço. “Mesmo aposentado, será muito difícil ficar uma semana sem visitar a UCPel”, divide, apesar de saber que continuará recebendo convites para participação em palestras e semanas acadêmicas.
Um de seus orgulhos é o exemplo que deixará para acadêmicos e professores: “Nunca cheguei atrasado em aula e tampouco sai mais cedo”. Certa vez, sofreu um pequeno acidente no trânsito e por estar abalado, avisou antecipadamente que naquele dia não daria aula. “Você precisa ver o número de pessoas que me ligaram para saber se eu estava melhor. Todos os meus alunos da matemática ligaram. Isso pra mim é importante”, confessa.
Novos projetos
Logo após a aposentadoria, o professor Lino deverá se dedicar integralmente à publicação um novo livro, projeto que vem sendo trabalhado aos poucos, mas que deverá ganhar prioridade . “Quando comecei a estudar a história da matemática topei com um fenômeno muito engraçado, que é a ausência de mulheres na matéria. E eu ficava intrigado porque já era professor e em aula as mulheres eram tão capazes quanto os homens”, avalia.
O tema do novo livro, dedicado ao resgate histórico do papel das mulheres na matemática, já possui alguns capítulos finalizados, entretanto, conforme o professor, ainda existe muito a ser estudado e pesquisado. “Como trabalho diretamente com a história e não consigo regressar no tempo, tenho que ler e pesquisar muito”, conta. “Uma coisa é você escrever um texto sobre uma pessoa que viveu na Polônia e outra é você ir lá e ver com os próprios olhos”, diz.
Parceria com a UCPel
Lino conta que tem grande admiração pelo criador da UCPel, Dom Antônio Zattera. “Foi um visionário. Uma das coisas inesquecíveis para mim é que no dia da minha formatura o bispo me colocou a toga. Admirava muito ele”, afirma.
Para o docente, a UCPel tem uma importância muito grande não, só a Pelotas. “Nas oito cidades em que a Católica já teve extensão, dei aula e fui homenageado pelas turmas de matemáticas”, lembra. Para Lino, a Zona Sul tem uma grande dívida com a Universidade. “A Católica representa minha segunda casa. Dizendo isso, digo tudo”, finaliza.