Identificar o personagem a partir de uma frase dita por ele em um filme, pode ser o início de uma relação próxima entre os leitores e a literatura. Essa é uma das atividades realizadas pelo projeto de extensão “Ler o mundo... além dos muros: um Projeto de Formação do leitor literário”, da Universidade Católica de Pelotas. A iniciativa aplicada em cerca de 250 estudantes do Instituto de Menores Dom Antônio Zattera (IMDAZ) quer difundir a “democratização da leitura literária”.
A ação extensionista, coordenada pelos professores, Thaís de Almeida Rochefort e Jeferson da Silva Schneider, atua a partir de práticas voltadas ao letramento literário, ou seja, das histórias reproduzidas não apenas nos livros, mas também por outros objetos culturais - como a música, o cinema e até as mídias sociais-, e que fazem parte dos conhecimentos adquiridos por todos, mesmo por quem não tem o hábito da leitura. As atividades, realizadas duas vezes por semana, com alunos de 9 a 14 anos, oportunizam a descoberta de personagens, autores e textos em ações pedagógicas que valorizam o contexto social em que estão inseridos. ”Queremos que eles consigam compreender o sentido que essas produções, como a música, a arte, têm na vida deles, e desmistificar a questão da literatura - que não é apenas livros. Literatura pode ser isso tudo”, explica o professor Jeferson Schneider.
Partindo dos conhecimentos e interesses dos estudantes do IMDAZ, os alunos dos cursos de Letras, Pedagogia e Jornalismo EaD da Católica, promovem oficinas de criação, contação de histórias e jogos. Um trabalho, segundo o presidente do Instituto, padre Marcus Bicalho, que se integra à proposta de formação oferecida pelo IMDAZ, de reforço escolar a partir das vivências dos menores. “Mesmo aqueles que são semi-alfabetizados, que conseguem ler as letras, mas não compreendem o sentido do texto, aprendem mais com essas atividades. Por isso esse tipo de interação é de grande valor pra nós”, salienta Bicalho ao lembrar das demais ações realizadas pelos alunos da UCPel no IMDAZ capazes de oportunizar, também, uma formação profissional humanizada.
A humanização do exercício profissional, ainda na universidade, é um dos pontos destacados pelo projeto. Ao final de cada prática, são feitos relatórios da ação, descrevendo de que forma as crianças e os adolescentes responderam aos estímulos para a inclusão da literatura em suas vidas. Experiências que têm sido importantes para a aluna do 3° semestre da Pedagogia EaD, Helena Castro. Ela conta que ao aplicar uma técnica para conhecer melhor os estudantes, fez uma pergunta: -"se você ficasse rico o que faria?", obteve como maioria das respostas o desejo de melhorar a qualidade de vida da família. “Ter essa experiência com um projeto que exerce tanta influência positiva na vida deles me deixa muito realizada pessoalmente e profissionalmente”, admite a discente da Católica.
O coordenador do projeto diz ainda que a ação extensionista pode servir de estímulo para que surjam novos professores e a valorização das licenciaturas, tão necessárias à formação de profissionais capazes de mudar a vida de outras pessoas.
O projeto “Ler o mundo... além dos muros” tem previsão de ser desenvolvido até o fim de 2022. Até lá, salienta Schneider, existe a proposta de levar as ações para fora do IMDAZ, da universidade, publicando os relatos das experiências e até mesmo oportunizando aos estudantes da rede pública municipal a vivência diferenciada com a literatura.
Outra ideia é viabilizar no IMDAZ, uma “nova” biblioteca, com conteúdo voltado para o contexto atual dos alunos, além dos livros clássicos que já existem lá. “Queremos aproveitar o espaço existente e trazer esses livros mais notórios, mais comerciais para a gente poder discutir”, conclui o professor ao salientar a importância do apoio de empresas para a concretização da proposta.
Redação: Alessandra Senna