Em Pelotas, mulheres com menor escolaridade e submetidas a uma cesárea estão mais propensas a não contar com a presença de um acompanhante durante o parto. A pesquisa desenvolvida no Mestrado Profissional em Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Universidade Católica de Pelotas (MPSMCA/UCPel) ainda apontou para o não cumprimento, em 21,3% dos casos, da lei que garante esse direito.
A dissertação de mestrado da terapeuta ocupacional, Caroline Bender de Quadros, analisou os dados obtidos junto a 253 parturientes da região de Pelotas. Por meio de um questionário, foram abordadas questões referentes ao acompanhamento no parto, fatores socioeconômicos (idade, classe socioeconômicas, escolaridade e viver ou não com o companheiro) e características do parto.
Das variáveis analisadas, o tipo de parto e a escolaridade apresentaram dados significativos. Entre as mulheres submetidas a cesáreas, 26,9% não contaram com acompanhantes de parto. Já o percentual entre as mães com menos de sete anos de estudo, foi de 37,5%. Para as demais variáveis, as participantes que realizaram pré-natal no Sistema Único de Saúde (SUS) (25,4%) e frequentam as classes D e E (39,4%) foram as mais suscetíveis a ausência do acompanhante.
De acordo com Caroline, esses dados demonstram que as pessoas com menores índices educativos e de classes econômicas mais baixas obtêm menos informações durante o pré-natal. Além disso, elas podem ser mais vulneráveis quanto à exigência do acompanhante. “É imprescindível que desde o início da gestação sejam realizadas ações de educação e promoção em saúde, para que as mulheres conheçam seus direitos e usufruam dos benefícios dessa prática”, enfatiza a autora do trabalho.
Apesar da lei já existir desde 2005, ainda existem exceções, conforme revelou a dissertação. Em 21,3% dos casos esse direito não foi respeitado, sendo que 83% dessas mulheres relataram a vontade de ter tido acompanhamento. Já entre as parturientes que contaram com a companhia de um familiar ou conhecido (79%), a maioria afirmou que o fato contribuiu para um parto melhor e mais calmo.
Tais benefícios já são reconhecidos em alguns países desenvolvidos, que veem a presença do acompanhante como algo natural. Segundo Caroline, estudos mostram que esse apoio fornece à mulher segurança, motivação e suporte emocional, reduzindo o uso de medicações para aliviar a dor e o índice de cesarianas e episiotomias. A indicação consta, inclusive, na lista de recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma experiência positiva de parto.
Segundo o orientador do trabalho, professor Ricardo Pinheiro, tanto o acompanhamento quanto a sequencia do parto refletem também no desenvolvimento da criança e na relação mãe/bebê. ”Isso possibilita a formação precoce de vínculo entre o casal e o recém-nascido, caso o acompanhante seja o pai”, complementa o professor.
A pesquisa Nascer no Brasil revelou que, no território brasileiro, a presença do acompanhante ainda não é integral. Das 23.879 mulheres entrevistadas, apenas 18,6% contaram com a companhia contínua de um familiar ou conhecido escolhido por elas. Já na capital do Rio Grande do Sul, essa estatística é menor. A ausência do acompanhante foi observada em apenas 9,4% dos casos.
Segundo a terapeuta ocupacional, é necessária fiscalização dos órgãos responsáveis nas instituições de saúde, vinculadas ao SUS ou da rede privada. Com isso, Caroline acredita que esse direito da mulher possa ser respeitado, possibilitando que a mãe e o recém-nascido usufruam dos benefícios dessa prática.
Redação: Manuelle Motta