Pioneirismo. Essa é a palavra utilizada pelas acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Beatriz Corrêa Braga e Carolina Trindade, ao falar sobre o trabalho Intervenção fisioterápica em lesões por esforços repetitivos decorrentes da utilização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), desenvolvido e apresentado recentemente por elas no 2º Encontro Estadual de Intérpretes das LIBRAS, em Porto Alegre.
Com o objetivo de analisar a situação dos intérpretes da língua e dos surdos, as alunas aplicaram pesquisas com os profissionais e portadores da deficiência da UCPel e do Colégio Pelotense. A amostragem avaliou um total de 24 pessoas.
Entre os intérpretes, os resultados foram preocupantes. Todos os entrevistados apresentaram algum tipo de lesão, da mais simples a mais complexa. “Eles citaram dores e desconforto, pois permanecem muito tempo na mesma posição, utilizando e fazendo os mesmos movimentos. Com o passar dos anos isso pode piorar e ocasionar lesões gravíssimas”, afirmou Beatriz.
Já com relação aos surdos, nenhum demonstrou possuir qualquer problema ao fazer os movimentos. “Eles afirmaram não possuir dor; dizem que estão acostumados e que LIBRAS é a forma que têm para se comunicar”, revelou Carolina.
Para a orientadora das acadêmicas, professora Cleci Redin Blois, ficou evidenciado no estudo que as lesões têm relação direta com aspectos psicobiológicos dos entrevistados. Ou seja, os surdos não demonstraram problemas uma vez que os movimentos necessários à linguagem para eles não significam esforço, já que é esta a única forma de manterem diálogos. Segundo ela, os resultados apontam a possibilidade de que a avaliação seja levada em frente também por profissionais de outras áreas da saúde.
De acordo com a coordenadora do curso, professora Patrícia Giusti, o trabalho possibilitou a avaliação das lesões por esforços repetitivos em uma população que utiliza o movimento como forma de expressão e comunicação com o mundo. “No curso este estudo está conquistando diversos espaços, mostrando que a universidade é parte da comunidade e tem como função social auxiliar na investigação e solução de problemas na área da fisioterapia. Além disso, está aproximando o contato entre acadêmicos de diversas áreas do conhecimento”, disse.
Grupo de Estudos Surdos: Inserido no projeto de desenvolvimento da educação surda, o Grupo de Estudos Surdos existe há quatro anos. Ele tem como finalidade integrar a UCPel de maneira mais eficiente à educação surda. Busca a criação de alternativas pedagógicas capazes de humanizar o acesso dessa parcela da população às aprendizagens formais, viabilizando sua integração ao processo de escolarização, em todos os níveis, em ambientes adequados, acolhedores e estimulantes, pela oferta de metodologia própria, através de iniciativas de formação continuada, investigação científica, estudos em equipes, publicação de experiências de educação surda em espaços formais e não formais, de maneira sistematizada ou eventual.
Sobre LIBRAS: A língua de sinais foi reconhecida no Rio Grande do Sul somente em 1999, embora desde setembro de 1996 tivesse sido oficializada na capital do Estado. Essas providências abriram novas perspectivas de aperfeiçoamento pessoal a uma parcela da população, cujas necessidades de aprendizagem não vinham merecendo o tratamento específico como seres humanos e cidadãos.
Na vida acadêmica, surdos e não-surdos dividem espaços, o que enriquece e flexibiliza aprendizagens e convivências de uns e outros, pela solidariedade e mutualidade de trocas e co-participação na adoção e socialização de soluções em circunstâncias diversificadas. Nesse contexto, são inegáveis as dificuldades recíprocas, uma vez que a produção lingüística do surdo é bilíngüe, fala e compreende a língua de sinais (LIBRAS), mas escreve e lê a língua de origem, enquanto o aluno ouvinte não domina a língua de sinais.
Capacitação na UCPel: A partir de 4 de julho a UCPel abre inscrições para o curso de capacitação para tradutor/intérprete de LIBRAS. Este profissional á capacitado para propiciar a comunicação entre a pessoa surda, usuária dessa língua, e a pessoa ouvinte, que a desconhece. O curso tem como objetivo oferecer tala qualificação, bem como contribuir para inclusão social dos surdos. Outra proposta é a de atender a demanda social da região frente a carência do profissional e oportunizar a aplicação da legislação vigente com relação ao direito do cidadão surdo em interagir utilizando sua língua natural.