O leite materno é o alimento mais completo para o desenvolvimento dos bebês, sendo exclusivo durante os primeiros seis meses e complementar até dois anos ou mais. Entretanto, em muitos casos, a amamentação é substituída por leites em pó, compostos lácteos e fórmulas infantis. Em um estudo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), identificou-se que esses alimentos, apesar de direcionados para crianças, apresentam altos teores de açúcar em sua composição.
Iniciada no ano passado, a pesquisa é desenvolvida pelo projeto de extensão Atenção Odontológica nos Primeiros Mil Dias de Vida, coordenado pela professora Luísa Jardim Correa de Oliveira. A equipe analisou os rótulos de 33 produtos comercializados em latas, sendo o açúcar identificado quando maltodextrina, xarope de glicose e/ou sólidos de xarope de milho estava listado na composição.
A ideia inicial, conta a professora, seria circular nos mercados e procurar os produtos oferecidos localmente, mas devido à pandemia preferiu-se utilizar plataformas de venda on-line. Registrou-se o nome do produto, a empresa responsável, faixa etária indicada, os valores diários de carboidrato por porção, quantidade do produto por embalagem, preço e lista da ordem dos ingredientes.
O resultado identificou que 91,2% dos produtos apresentam açúcar na sua composição. “É extremamente preocupante, já que o açúcar é fator de risco comum para várias doenças, como obesidade, diabetes e cárie”, comenta a acadêmica do quinto semestre e bolsista do programa de extensão, Jaiane de Faria.
Dentre os compostos lácteos, a pesquisa apontou que 60% possuem o açúcar entre os três principais ingredientes, enquanto 35% das fórmulas infantis contam com o açúcar entre os componentes mais presentes. Já 50% dos leites em pó analisados apresentam açúcar na composição. “É fundamental que as pessoas criem o hábito de ler rótulos para saberem o que estão consumindo ou oferecendo aos seus filhos”, adverte a pesquisadora. Muitos dos rótulos, inclusive, utilizam de personagens infantis para despertar o desejo de consumo.
O aleitamento materno deve ser estimulado em primeiro lugar. Sendo necessária a complementação, não devem ser utilizados compostos lácteos para os bebês. “São ultraprocessados, portanto não indicados para menores de dois anos. A legislação permite que o produto contenha, no mínimo, 51% de ingredientes lácteos em sua composição, por isso, não pode ser classificado como leite”, explica Jaiane.
O conhecimento obtido através deste estudo deve ser repassado aos estudantes que atuam nos serviços de saúde gerenciados pela UCPel, a fim de que orientem às famílias desde as consultas de pré-natal. Os resultados também serão publicados em artigos científicos para acesso da comunidade acadêmica. O grupo desenvolve ainda outra pesquisa que tem mapeado a quantidade de açúcar presente em iogurtes.
Redação: Max Cirne