Atividades rotineiras e repetitivas podem levar à tensão cumulativa nos tecidos, provocando a síndrome do superuso. As dores nas articulações são comuns em diversas profissões, inclusive entre os músicos, que praticam seus instrumentos de uma a cinco horas por dia. As acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Caroline Venzke e Karolina Costa, abordaram o tema em trabalho de conclusão de curso intitulado “Efeitos de um protocolo fisioterapêutico para a síndrome do superuso em instrumentistas de piano”, sob orientação da professora Cleci Redin Blois.
A proposta surgiu a partir do vínculo das estudantes com o projeto de extensão Fisioterapia na Comunidade, pelo qual atuavam na área de Saúde do Trabalhador. “Nosso público-alvo eram os flautistas da UFPel, mas começamos a ter procura dos alunos de Música com habilitação em piano, relatando queixas musculoesqueléticas em membros superiores. Então, pensamos em realizar um protocolo específico para instrumentistas de piano”, comenta Caroline.
A partir da revisão de literatura acerca da biomecânica envolvida durante o gesto musical, as pesquisadoras selecionaram exercícios de fácil entendimento e que podem ser realizados em casa. O protocolo realizou cinco encontros semanais, de 90 minutos cada, através da plataforma Google Meet.
Cinco instrumentistas participaram do estudo, sendo dois do sexo masculino e três do sexo feminino, com idades entre 19 a 28 anos e estudantes do terceiro ao sexto semestre da graduação. Conforme depoimento, a dedicação ao piano varia de um a dez anos e com até cinco horas diárias de prática.
Dois instrumentos de avaliação foram aplicados pré e pós-intervenção do protocolo: o Disabilities of Arm, Shoulder and Hand (DASH), a fim de verificar a funcionalidade dos membros superiores, e o Diagrama de Corlett, para identificar as regiões corporais acometidas por dores e desconfortos, bem como a gravidade dos sintomas. Os dados foram tabulados e submetidos à análise.
A pesquisa identificou que a síndrome do superuso já se faz presente durante a fase da graduação em Música. “Devido ao tempo de estudo do instrumento, necessário para um bom desempenho técnico, as atividades são também consideradas predisponentes a exceder o limiar de tolerância fisiológica”, aponta Karolina.
As pesquisadoras estudaram, por meio do Diagrama de Corpo de Corlett e Manenica, que é composto pela “Escala de avaliação de desconforto corporal” e “Problemas Musculoesqueléticos”, as regiões do corpo que os pianistas mais sentem dores. Cerca de 60% dos participantes do estudo apresentaram intensidade 4 (bastante dor/desconforto) na mão direita, punhos direito e esquerdo e antebraço.
Dentre os distúrbios que mais acometem os pianistas, as síndromes compressivas constituem de 10% a 30% dos casos, devido à necessidade de manter posições prolongadas em hiperflexão do cotovelo ou hiperflexão e desvios de punhos.
Após a aplicação do protocolo se obteve uma melhora na funcionalidade dos membros superiores. “Um músico pode evitar lesões fazendo exercícios de aquecimento e de alongamento, por exemplo, antes e após a prática instrumental. Além de propiciar uma execução instrumental mais eficiente, reduzem a probabilidade de lesão”, explica Caroline.
A pesquisa conclui que medidas de promoção e prevenção à saúde dos instrumentistas de piano são necessárias, com o intuito de evitar o adoecimento profissional, uma vez que o acometimento pela síndrome do superuso pode levar a transtornos funcionais severos.
Redação: Max Cirne