Mais de 70% das crianças pelotenses de oito anos estão sedentárias. Um dos principais motivos detectados por pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel) aponta a associação do hábito de assistir TV por um período superior a duas horas diárias como um dos possíveis fatores determinantes. O estudo também alerta para outro ponto que vem contribuindo para aumentar os índices de obesidade dos pequenos: hábitos alimentares pouco saudáveis.
A tese, apresentada ao PPGSC pela nutricionista Gisele Ferreira Dutra, contou com a orientação da professora Elaine Pinto Albernaz e utilizou dados da coorte de nascidos na cidade de Pelotas entre os meses de setembro de 2002 e maio de 2003. Ao todo, 616 crianças participaram do acompanhamento aos oito anos de idade.
De acordo com a doutora, os dados obtidos no estudo ratificam as evidências científicas que apontam elevadas prevalências de sedentarismo e excesso de peso infantil, bem como o aumento do tempo de tela entre crianças. “60% das crianças pesquisadas assistem TV por um período superior a duas horas diárias”, comenta. Quanto mais tempo dedicado à televisão, menor foi o período destinado à atividade física e maiores as taxas de excesso de peso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 60 minutos diários de atividades físicas para prevenir o sobrepeso e a obesidade de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos. “A maior parte da atividade física diária deve ser aeróbica, incluindo também as que fortalecem os músculos e ossos, pelo menos três vezes por semana”, complementa.
Para medir a quantidade de atividade física praticada pelas crianças da amostra foi utilizado o questionário denominado Physical Activity Questionnaire for Children, que caracteriza o nível de atividade física nos sete dias anteriores a sua aplicação. O questionário é composto por nove perguntas com valores de um a cinco, que vão de muito sedentário a muito ativo. O escore final foi obtido através da média das questões.
A alimentação foi avaliada através de guia proposto pelo Ministério da Saúde
Dez Passos para uma Alimentação Saudável. As orientações versam sobre o número de refeições diárias, consumo de água, porções de grupos de alimentos que devem ser priorizados e aqueles que devem ser evitados, dentre outras. Os resultados apontaram baixa prevalência de hábitos alimentares saudáveis na amostra.
Obesidade infantil
Conforme Gisele, os problemas associados à obesidade infantil podem abrir portas para o desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). “O desajuste qualitativo da dieta manifesta-se tanto por deficiências de micronutrientes, como implica o desenvolvimento de excesso de peso, obesidade e DCNT associadas, como as coronarianas, o diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, alterações verificadas em todas as faixas etárias, inclusive entre crianças e adolescentes”, pontua.
Além disso, indivíduos obesos muitas vezes sofrem estigmatização social, não sendo diferente entre as crianças, as quais comumente são discriminadas pelo grupo. Esse fato pode gerar um impacto negativo para o resto da vida, como baixa autoestima, timidez e problemas de relacionamento. “Embora a infância possa ser um dos períodos mais favoráveis à prevenção da obesidade, nesta fase o manejo pode ser ainda mais complexo do que na vida adulta, pois está relacionado a modificações de costumes e disponibilidade dos pais, além do desconhecimento da criança quanto aos agravos dessa enfermidade”, diz.
Estratégias para amenizar a problemática
Os resultados apresentados pela tese de Gisele demonstram uma baixa adesão às recomendações feitas pelo Ministério da Saúde, bem como uma elevada prevalência de sedentarismo e de crianças que assistem à TV por um período excessivo, culminando em altas taxas de excesso de peso de crianças que compõe a amostra. “Tendo em vista os malefícios que estes resultados representam à saúde, torna-se evidente a importância de estratégias de estímulo à atividade física e à alimentação saudável desde a infância, bem como o incentivo a um estilo de vida mais ativo, os quais serão os pilares não somente para a manutenção do peso como também de uma vida saudável na infância e na fase adulta”, conclui.