Depois de meses atendendo às medidas de segurança referentes à pandemia do novo coronavirus (Covid-19), uma pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) identificou que mais de 60% dos entrevistados apresentaram sentimentos negativos, buscando alternativas para minimizar o estresse. Os dados são do trabalho de conclusão de curso “Impacto da Covid-19: Estresse e estratégias de coping no período da pandemia”, da acadêmica do curso de Psicologia, Vanessa Von Ahnt.
As incertezas advindas da pandemia, como a duração do isolamento social, a inadequação das informações, as dificuldades econômicas e a preocupação com a saúde própria e dos entes queridos, são consideradas desencadeantes de sentimentos negativos. “Contribuem para o surgimento de altos níveis de estresse, motivando o adoecimento psicológico”, comenta Vanessa.
Sob orientação da professora Vera Figueiredo, a pesquisa associou o estresse durante a pandemia com as estratégias de coping. Segundo a acadêmica, são mecanismos de enfrentamento que o indivíduo utiliza para lidar com situações que geram incômodos. Participaram, através de preenchimento de formulário on-line, 383 indivíduos de ambos os sexos, com mais de 18 anos e residentes no Brasil durante o mês de agosto de 2020.
O instrumento de análise foi o Inventário de Estratégias de Coping, elaborado por Lazarus & Folkman, que se divide em mecanismos de confronto (reação agressiva); afastamento (desapego e minimização da situação); autocontrole (regulação dos sentimentos e ações); suporte social (apoio informativo e emocional); aceitação de responsabilidade (reconhecimento do próprio papel na situação); fuga-esquiva (escapar ou evitar o problema); resolução de problemas (busca por alterar a situação); e reavaliação positiva (criação de significados positivos).
Vanessa salienta que, independentemente do tipo de estratégia de enfrentamento adotada pelo indivíduo, o coping não pode ser classificado como benéfico ou maléfico, mas apenas como resposta ao acontecimento. “O processo é variável e tem como intenção se adequar à realidade momentânea. A situação é que determina a estratégia de enfrentamento”, explica.
Os sentimentos negativos foram identificados em 60,3% dos participantes. Em relação às demais alterações investigadas, 68,4% apresentaram modificação na rotina de sono e 59,5% no acesso às notícias, sendo que 43,3% aumentaram e 16,2% diminuíram o acesso às notícias. A maioria da amostra realizou alguma atividade para minimizar o estresse durante a pandemia (96,1%), sendo a mais utilizada assistir filmes e séries (75,1%).
Os resultados de estresse foram considerados altos (24% da amostra estavam com alto nível de estresse) se comparados com estudos elaborados durante o mesmo período em outros países. “Pode-se presumir que o ambiente físico e as condições sociais e políticas estão relacionadas com o psiquismo, tendo maiores prejuízos nos brasileiros”, analisa.
Na amostra estudada, as estratégias de coping mais utilizadas foram autocontrole, fuga-esquiva, confronto e afastamento. Esse comportamento demonstra, conforme Vanessa, esforços para escapar e/ou evitar o fator estressante; atitudes ativa/agressiva em relação ao estressor; esforços de regulação dos próprios sentimentos e ações, e ainda, esforços cognitivos de desapego e minimização da situação.
Identificou-se que, quanto maior o estresse, maior o uso das estratégias de confronto, fuga-esquiva e aceitação de responsabilidade e, quanto menor o estresse, maior o uso de resolução de problemas e reavaliação positiva, sugerindo que as últimas são formas de adaptação ao evento estressor da pandemia.
Ao fim da pesquisa, os relatórios foram enviados individualmente por e-mail aos participantes que sinalizaram interesse no resultado e, também, para os que obtiveram escores altos na escala de estresse, junto da recomendação para procurar serviços de saúde. “Identificar as estratégias de enfrentamento pode auxiliar nas práticas dos profissionais que cuidam da saúde mental durante e após a situação pandêmica”, conclui.
Redação: Max Cirne