Um estudo proposto pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel) observou a relação existente entre o desenvolvimento de síndrome metabólica em pessoas com depressão e transtorno bipolar. Realizado pela pós-doutoranda Fernanda Pedrotti Moreira, a pesquisa comprovou maior alteração dos riscos metabólicos em depressivos e bipolares quando estão em episódio depressivo. Devido à descoberta, o artigo foi aceito para publicação em revista internacional avaliada de alto impacto.
Conforme explica a pesquisadora, o estudo feito na UCPel demonstrou que a prevalência da síndrome na população fica em torno de 24%, conforme apontado em outros estudos. Mas, em pessoas com transtorno bipolar ou depressão, esse índice é pior, chegando a 35% em pessoas com depressão e 46% em pessoas com transtorno bipolar. “Transtorno bipolar e depressão são agravantes para a saúde. Pessoas com os transtornos psicológicos apresentam pior perfil metabólico se comparados com aqueles que apresentam só a síndrome metabólica”, informa Fernanda.
O estudo ainda comprovou que pessoas com transtorno bipolar em estágio depressivo apresentaram alterações da síndrome metabólica semelhantes aquelas em estágio depressivo na depressão. “Chegamos à conclusão que o episódio depressivo pode ser o responsável por essa alteração e não o transtorno bipolar e a depressão”, destacou.
Além de ter um perfil metabólico pior, portadores de transtorno bipolar e depressão ainda apresentaram maior risco de desenvolver problemas cardiovasculares. “Junto aos tratamentos específicos para os distúrbios, ter hábitos de vida saudável, incluindo a prática de exercício físicos associada a adoção de uma alimentação balanceada, contribui para uma melhor resposta ao tratamento”, indica.
Feito a partir de um estudo de base populacional, considerando a divisão censitária da cidade (Pelotas) realizada pelo IBGE, a pesquisa contou com a participação de 970 pessoas representantes dos bairros da zona urbana. Foi realizada uma avaliação psicológica para identificar o transtorno bipolar ou a depressão, coleta das medidas antropométricas e de sangue para identificar a síndrome metabólica.
A síndrome metabólica é composta por um conjunto de fatores de riscos metabólicos que se interrelacionam. Para fazer o diagnóstico, é necessário avaliar cinco fatores principais: alteração nos níveis de glicose, pressão sanguínea, colesterol HDL e obesidade abdominal. Estar obeso é um fator impactante. “A partir da análise, identificamos as pessoas que têm três ou mais alterações nesses fatores para diagnosticar a presença da síndrome metabólica”, complementa a pesquisadora.
Atualmente, 25% da população mundial possui a síndrome metabólica, e esse número deve crescer a cada ano. Alguns estudos recentes na literatura têm demonstrado que pessoas com transtorno bipolar ou depressão apresentam maior alteração nos níveis de glicose, obesidade e outros também têm relacionado as doenças com a síndrome metabólica. “Nossa ideia é continuar estudando esse tema para tentar descobrir quem vem primeiro: a síndrome metabólica ou a depressão e o transtorno bipolar”, adianta.
A pesquisa da pós-doutoranda do PPG da UCPel contou com a orientação da professora Karen Jansen . O estudo foi publicado recentemente no Journal of Psychiatric Research.
Redação: Rita Wicth - MTB14101