Postura inadequada. Horas em frente ao computador. Repetitividade de movimentos. Ritmo intenso e prolongado. Essas são apenas alguns fatores de risco comuns que podem se transformar em Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) ou Lesões por Esforços Repetitivos (LER). Atualmente, os sintomas relacionados às doenças de trabalho vêm sendo crescentes, mesmo que, por diversos motivos, as notificações ainda fiquem muito aquém da realidade.
As DORTs podem ser consideradas como doenças de notificação compulsória. Todo profissional de saúde que atende um indivíduo com diagnóstico de doença profissional deve notificar ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). “Ainda existe falta de cultura, pois boa parte dos casos não são notificados ou são subnotificados, embora se saiba que existe uma incidência grande de problemas da saúde relacionados ao trabalho”, explica a professora do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Cleci Blois.
De acordo com a docente, DORT e LER não são sinônimos, mesmo sendo comumente usados desta forma. A DORT é um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, e o que vai estabelecer esse diagnóstico é o nexo causal, que mostre que a atividade desenvolvida tem a ver com o tipo de lesão apresentada. Já a LER pode ser ou não uma doença relacionada ao trabalho e é causada principalmente pelo esforço da repetição.
Em Pelotas, somente em 2013, houve 1.427 notificações, quase o dobro das registradas no ano de 2012. As notificações mais comuns foram ferimento de punho ou mão, ferimentos envolvendo múltiplas regiões do corpo, contato com exposição à doença transmissível e ferimento em perna. Os dados coletados pelo CEREST Macro Sul também apontaram a incidência na cidade de Rio Grande, sendo registradas no mesmo período de Pelotas 1.897 notificações.
Pesquisas como a da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que boa parte desses acidentes ocorre devido a cansaço, estresse e atitudes negligentes. Mas também é preciso não esquecer a necessidade de investimento na segurança do trabalho, oferecendo e fiscalizando o uso de equipamentos de proteção juntamente com um ambiente seguro e adequado para o desenvolvimento de atividades, proporcionando pausas durante a jornada, entre outras ações.
A ginástica laboral vem se mostrando uma boa alternativa para prevenir, reparar e manter a saúde do trabalhador. Existem vários tipos, como a preparatória para o trabalho, de manutenção, compensatória, corretiva, de descontração e relaxante. “A atividade de ginástica laboral é elaborada para atender a tipos distintos de atividade. Por isso ela é planejada e executada com um fim específico”, explica Cleci.
E não é apenas o trabalhador que ganha com a implantação destas ações. Para a empresário é perceptível a melhora na disposição de funcionários e a integração, o que gera um ambiente propício para a realização de um trabalho mais motivado e produtivo. “É muito comum o funcionário se sentir estimulado e também começar a praticar uma atividade física fora do ambiente de trabalho”, complementa.
Afastamentos de trabalho causados principalmente por tendinite (inflamação de tendão), tenossinovite (inflamação da membrana que recobre o tendão), epicondilite (inflamação na articulação do cotovelo), síndrome do túnel do carpo (danos musculares na mão e nos dedos), bursite (dor nas articulações), desfiladeiro torácico (sintomas na extremidade superior) podem ser reduzidos devido a realização frequente da ginástica laboral. A prática regular de atividade física associada a hábitos saudáveis também contribuem para melhorar a qualidade de vida como um todo.
Ginástica laboral como estímulo
Na UCPel, desde outubro do ano passado, a ginástica laboral vem sendo oferecida na Instituição. São 27 setores, com cerca de 200 funcionários, que realizaram a prática duas vezes por semana, por cerca de 15 minutos. Segundo o engenheiro de Segurança do Trabalho, Maurício Godoi, o principal objetivo da atividade é estimular a realização da prática da atividade física também fora do ambiente de trabalho.
E foi o que aconteceu com o analista de Comunicação Digital, Ranieri Trecha. Ao iniciar a atividade proposta pela Instituição de Ensino, percebeu o quanto estava sem elasticidade. Somou-se ao sedentarismo o aumento do peso. “Comecei a ficar preocupado. Não imaginava que estava tão sedentário”, disse.
Com a prática regular da ginástica laboral, Ranieri percebeu significativa melhora no seu condicionamento físico, estímulo que faltava para procurar a prática regular de atividade física também fora do ambiente de trabalho. “Com a ginástica laboral percebi a importância da atividade física”, finaliza.