Analisar as repercussões nos cuidadores de enfermos que se utilizam do Programa de Cuidado Domiciliar (PCD), implantado pela Política Nacional de Saúde, foi o objetivo de uma pesquisa realizada para a obtenção do título de mestre em Política Social da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Sob a orientação da professora e coordenadora do curso, Vini Rabassa da Silva, o trabalho “Programa de Cuidado Domiciliar: O cuidador entre quatro paredes”, de Lenara Lamas Stelmake, buscou conhecer as dificuldades e os anseios enfrentados pelo cuidador domiciliar, que geralmente é um familiar, um amigo ou vizinho.
Segundo Lenara, os efeitos da situação enfrentada na vida dessas pessoas se refletem em âmbito emocional, psicológico e social. Por meio de contatos com as cinco Unidades Básicas de Saúde/Escola, ligadas à UCPel e à Universidade Federal (UFPel), e por meio de visitas a dez residências atendidas pelo PCD, Lenara constatou que o sistema é falho.
De acordo com ela, o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela proteção de seus usuários não oferece as condições necessárias ao tratamento integral do doente, omitindo-se na atenção ao cuidador. “Não há uma política de saúde efetiva e legitima, isto é, que proteja os sujeitos, cuidadores, para poderem enfrentar, de forma sadia, ainda que com sofrimento, as múltiplas consequências geradas pelo cuidado domiciliar”, explicou. Conforme o estudo, o SUS repassa uma responsabilidade sem prever e oferecer o suporte necessário para as repercussões que este repasse irá desencadear nos cuidadores.
Lenara disse ter encontrado famílias onde crianças amadurecem de forma precoce, executando afazeres complexos, incompatíveis com a idade. Deparou-se ainda com mulheres que foram vítimas de violência e maus tratos por parte de seus companheiros, mas que, apesar disso, estavam ao lado deles. “Os cuidadores são pessoas corajosas, porém sofridas, tristes e cansadas, já que cuidam em tempo integral, realizam várias atividades sem remuneração e representam o elo entre o doente e a equipe de saúde”.
A dissertação ainda abordou o modelo de proteção das pessoas em situação de dependência na União Européia. “Na Espanha, o desenvolvimento dessa modalidade tem se dado tanto a partir da demanda dos usuários do Sistema Público de Saúde, por uma atenção de qualidade mais humanizada, quanto a partir da iniciativa dos gestores que, diante do aumento dos custos e considerando serem limitados os recursos destinados à saúde, buscam racionalizar os seus gastos sem comprometer a qualidade da assistência prestada”, ressaltou.