O tema ainda não era claramente abordado, mas começa a ganhar o conhecimento público por meio da personagem Clarissa, filha de Célia Mara na novela Duas Caras. A dislexia, distúrbio de aprendizagem que provoca dificuldades de leitura, escrita e soletração, é foco de serviço de atendimento na Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Conforme a Associação Brasileira de Dislexia, 10% da população brasileira sofre do distúrbio.
A dislexia é um distúrbio de aprendizagem, ligado ao funcionamento das conexões neurológicas. De acordo com a professora responsável pelo projeto de Aprendizagem Lúdico-terapêutica da Clínica Psicológica da UCPel, Maria Firmina Pinheiro de Oliveira, a dislexia é classificada como uma diferença, não doença ou deficiência. “A pessoa possui um desenvolvimento intelectual cognitivo nos padrões médios, tem acesso à escolaridade e informações”, disse. Segundo a professora, ao contrário do que costuma se pensar, as pessoas que possuem dislexia podem chegar ao ensino superior, embora não consigam ler ou escrever de forma natural.
Outros sintomas da dislexia são dificuldades na memória de curto prazo e de lateralização (identificação de esquerda e direita). As duas características provocam problemas no momento em que o portador deseja escrever ou ler, já que tem dificuldades a respeito da direção em que deve ler uma frase, ou mesmo guardar a informação da frase lida. Além disso, pode apresentar desatenção.
Na UCPel, são dois serviços de Psicologia que atendem ao público que possui dislexia: a Clínica Psicológica e o Núcleo de Atendimento ao Estudante (NAE). A Clínica atende a população por meio do projeto de Aprendizagem Lúdico-terapêutica, iniciado há 16 anos. O atendimento é voltado a crianças e adolescentes de rede de ensino pública e privada, com queixas de aprendizagem. Os acadêmicos de psicologia e do curso de especialização em Psicopedagogia são os responsáveis.
Também neste trabalho, há orientação para os pais aos sábados pela manhã, e acompanhamento com a escola, a cargo de acadêmicos do curso de Serviço Social e Psicologia.
O trabalho desenvolvido no NAE teve início neste semestre e tem o propósito de dar suporte psicopedagógico para auxiliar os alunos da Universidade. De acordo com Maria Firmina, o trabalho, inovador, será realizar junto às Escolas da Católica, propondo oficinas para professores e divulgação para os acadêmicos.
O tratamento será direcionado a estruturas básicas de aprendizagem, noções espaciais (até mesmo entre uma palavra e outra), temporais (colocação de letras uma depois da outra), entre outros elementos significantes para que o portador de dislexia possa contornar os problemas.
Conviver com a dislexia
Não há uma cura para o distúrbio, mas tratamentos que podem facilitar a vida de quem sofre de dislexia. “A pessoa pode ter uma vida perfeitamente normal e desempenhar qualquer atividade. Mas é preciso descobrir a melhor forma de aprender”, ressaltou a professora.
De acordo com ela é necessário que a própria pessoa tenha consciência de que precisa de mais tempo e dedicação para a leitura e escrita. ”A pessoa terá conhecimento do seu próprio funcionamento, e assim pode melhorar a auto-estima e explorar os meios de ter uma boa formação profissional”, disse. Segundo ela, é comum que os portadores de dislexia desenvolvam baixa auto-estima e ganhem rótulos, como de preguiçoso, por exemplo. O tratamento com psicoterapia pode auxiliar o disléxico a superar estas condições.
Para aprender melhor, a pessoa deve procurar descobrir seus limites e suas próprias formas de aprender. “A pessoa pode melhorar a auto-estima e explorar os meios de ter uma boa vida, não apenas profissional”, disse.
O que é a dislexia
Conforme a Associação Internacional de Dislexia, esta é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade no reconhecimento e fluência corretos e por dificuldade na decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperada em relação a outras habilidades cognitivas consideradas no grupo (faixa etária).
Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa inteligência. Ela reflete a expressão individual de uma mente muitas vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente.
Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, pesquisas realizadas em vários países apontam que entre 5% e 17% da população mundial é disléxica.
Sintomas
Na fase adulta, a pessoa continua a ter dificuldade na leitura e escrita, dificuldade para soletrar, memória imediata prejudicada, dificuldade em dar nomes a objetos e pessoas (disnomias), dificuldade em aprender uma segunda língua, dificuldades em organização geral e comprometimento emocional.
Auxílio
O atendimento na Clínica Psicológica precisa ser agendado no Campus da Saúde (2128-8505) ou nas Unidades Básicas de Saúde dos bairros Pestano (3273-6603) e Fátima (3222-4028) a partir do final de fevereiro. Os alunos da Católica que apresentam sintomas de dislexia, ou têm dúvidas a respeito, podem procurar o NAE (Subsolo da Reitoria), e pelo telefone (53) 2128-8202.
Na foto: professora Maria Firmina Pinheiro de Oliveira
